quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Laranjas a preço de banana e, ainda assim, no lixo


Este ano ficará na memória dos produtores de laranja como o ano do prejuízo. Plantou-se demais, comprou-se de menos e quem viaja pelas estradas do país passa ao lado de pomares cheios de laranja apodrecendo no chão. Não vale a pena colher porque não há onde estocar tanta laranja para ninguém comprar. Com que dinheiro se pagará a mão de obra, o transporte, a estocagem? É mais barato (ou menos caro) deixar perder.

Produtores rurais muitas vezes se deparam com situações como essa, e só sobrevivem os que têm algum dinheiro guardado no bolso e a alma repleta de resiliência, afinal, como jogar fora toda uma safra, o investimento financeiro, o suor do próprio corpo e ainda ter forças para começar tudo de novo para o ano que vem? Transfira essa situação para o seu trabalho, seu dia a dia, e talvez você perceba que não aguentaria o baque.

Nos últimos meses alguns laranjais foram destruídos aqui na região, e ontem, pela cerca, fui testemunha do "basta" de um vizinho. Em meio dia uma retroescavadeira deu fim a parte de um pomar de laranjas para abrir espaço para mais uma aposta, um novo investimento. É duro assistir (e o próprio vizinho não quis presenciar) a máquina derrubando, em minutos, pés de laranja que levaram anos para crescer e, saudáveis, ainda dariam muito suco. Pois dezenas deles foram ao chão e muita laranja sobrou, caída na terra.




Depois da derrubada, tudo foi arrastado para o centro do terreno e colocou-se fogo no miolo da montanha de laranjeiras. Nem é preciso esperar a massa verde secar, o óleo essencial da laranja é inflamável e aos poucos já começa a queimar. Quanto mais rápido acabar, mais rápido se esquecerá. Melhor assim.



Recentemente, neste post, escrevi sobre coisas que se aprende quando passamos a conviver minimamente com algum tipo de produção agrícola, ainda que seja uma horta em vasos. É um mundo completamente diferente do mundo da produção industrial, por exemplo, onde praticamente tudo é previsível e controlável. É no campo, nas fazendas, na roça mesmo, onde cresce nosso melhor alimento. Aquele que não nasceu dentro de máquinas, não foi colorido artificialmente, aquele que não vem dentro de pacotes de alumínio. E o que se conhece dele? Quem se conhece dele? Quantos amigos ou ao menos conhecidos nossos são produtores rurais?

O que um dia para mim foi apenas uma desconfiança, hoje é uma certeza: ambientes (e pessoas) rurais e metropolitanas são praticamente desconhecidos um do outro. Apesar de tão interligados e dependentes entre si. Incrível seria se todo mundo tivesse a oportunidade de conhecer o outro lado, de viver, ao menos por uns dias, as felicidades e dificuldades do outro. Talvez conseguiríamos resolver mais facilmente problemas que existem apenas por desconhecimento da realidade de ambas as partes. Talvez menos comida iria parar no lixo. Talvez todos daríamos mais valor ao trabalho uns dos outros. Talvez, neste ano, tantos laranjais não seriam sacrificados.

Quer ajudar? Participe mais. Mostre, comente, ensine, estude, visite, converse a respeito. E vá já comprar laranjas, que justamente nessa época de calor amadurecem, ficam mais docinhas do que nunca e agora estão a preço de banana.

6 comentários:

  1. Juliana, sou solidária com o agricultor, surpreendo-me - ainda!- com a legislação brasileira sobre produção de alimentos, uso laranja como se fosse água em minha casa e faço geleia com as cascas. Só não concordo com o desperdício, sob a alegação de falta de espaço para estocagem. Há inúmeras instituições que cuidam de crianças e idosos carentes que ficariam felizes em receber ao menos parte dessa produção 'perdida', concorda? É uma questão de mobilização, como acontece em catástrofes naturais. Assim eu penso. Não conheço as implicações, posso estar falando bobagem, por desconhecer todas as etapas do processo de produção até a colheita, mas acho que sempre se pode fazer algo em benefício do outro. Abraço, Angela
    http://noticiasdacozinha.blogspot.com

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  2. Laranjeira, pelo o que eu saiba, leva anos para dar laranja. Assim como a Angela fico incomodada em saber que simplesmente foram largadas. Morei muitos anos no sul e lá é comum os agricultores simplesmente colocarem caixas na estrada do que não conseguem vender. Vi muito isso com maçã e cebola. Essa ação nas estradas é feita junto com reportagens nos jornais de grande circulação e rádio. Quem passa por perto compra, até pq costuma a caixa sair mais barata do que o preço do quilo no supermercado. É difícil acreditar que seja menor o prejuízo de destruir as árvores do que cozinhar doces para posterior comercialização, ou que não haja gente sem emprego que possa colher e cozinhar sob promessa de entregar ao agricultor parte da produção. São modelos de negócio diferentes, com uma visão urbana, o custo das novas mudas poderia ser empregado em equipamentos industriais, para agregar valor ao produto final a ser comercializado.

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  3. Angela e ?!,
    concordo com vocês em muitas de suas ponderações, mas também vejo, na vida real por aqui, que encaminhar a produção para instituições carentes exige bastante mobilização de quem colha gratuitamente, quem transporte gratuitamente, carregue, pague o combustível, etc, etc, etc.
    Muitas vezes os produtores são pessoas muito simples, e os recursos para tocar o ano viriam da produção que não vendeu.
    Deixar perder é sim a opção mais barata, e a máquina para derrubar custa só um pouco mais.
    Não estou defendendo nem condenando, só observando o que tenho presenciado à minha volta. Repito que concordo que todo mundo deveria conseguir aproveitar o excedente da produção de alguma maneira, e acrescento que tem produtor que pode mas não faz isso porque não quer.
    Colocar a produção na estrada achei uma boa opção, assim vai escoando, dado ou vendido.
    Quanto a "gente sem emprego que possa colher e cozinhar sob promessa de entregar ao agricultor parte da produção", são poucas as pessoas que têm essa visão, essa iniciativa. A maioria procura o trabalho tradicional, não empreende, não inova, não se aventura. É muito comum, por exemplo, o empregado rural faltar amanhã porque hoje ele conseguiu um extra, além da diária. Não estou generalizando, mas é um outro modo de vida, um outro pensamento.
    Enfim. De qualquer maneira toda essa reflexão nossa é super válida. Quem sabe nós somos os que tomarão a iniciativa de mexer pauzinhos e modificar o que nos parece errado?
    Mãos à obra!
    Um beijo grande e obrigada pelos comentários caprichados,
    Juliana.

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  4. moro em sumaré-sp (interior ao lado de campinas-sp),e concordo com Angela Fonseca, mais procuro qual o lugar mais perto de minha cidade p comprar laranjas p revender, assim como seu suco. estou a disposição no e-mail. almiromoreno_1903@hotmail.com (almiro moreno nascimento - sumaré-sp.

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