Mostrando postagens com marcador Horta. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Horta. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Carnaval no jardim

Flores, Arthur (que nem veio pra almoçar mas não resistiu, Marcos e Neide)

No domingo, repetindo pela terceira vez o que eu já chamo de tradição desde a segunda, nos encontramos Neide, Marcos, Flores e eu para ao menos um dia juntos durante o carnaval. Nos anos anteriores fomos ao sítio deles carregados de plantas para enriquecer a diversidade por lá - plantas são o nosso assunto. Desta vez eles vieram a Holambra, no nosso sítio, carregados de comidinhas, folhas e flores secas para chá, frutinhas para sobremesa, maracujá para semear… comidas são o assunto deles.

Não houve muito planejamento, mas eu e Neide trocamos por celular algumas mensagens sobre fazer macarrão caseiro colorido. Minha irmã Mari, a Mariana Valentini da Brodo Rosticceria, fez lindas gravatinhas coloridas para o carnaval que eu só vi pelo Instagram mas que me inspiraram bastante. Comer é uma delícia, e comer comida bonita é melhor ainda. Em boa companhia então…

Pois ficou combinado que almoçaríamos massa. A Neide, sempre muito prática e animada, ofereceu de trazer a máquina e flores azuis de Clitoria ternatea para testarmos a cor na comida. Eu botei na roda a primeira moranga colhida este ano no jardim e beterrabas, assim teríamos três cores no prato.


Só que das caixas vindas da cozinha do blog Come-se saíram muito mais do que ingredientes para chás e macarronada. Veio uma tigelona de coxas de frango para os que comem carne, uma boa fatia de melancia, um punhado de siriguelas, maracujás de duas espécies para sucos e mudas, uma metade de limão siciliano que só hoje encontrei esquecida na geladeira… É interessante como para quem trabalha com comida é tudo muito simples. Rapidinho junta-se uma coisa com outra com outra e com outra e vai a assadeira cheia para o forno. O processador de alimentos (que também veio na mala) em um instante transforma tomate fresco com melancia e temperos em um delicioso gazpacho pra comer como entrada. E enquanto eu fico pensando se é melhor juntar dois disso com três daquilo ou ao contrário, a Neide já bateu a massa de abóbora e eu nem vi como ela fez.

O gazpacho ficou delicioso. Acho que
quero ter um processador de alimentos...

Uns minutos depois já estavam prontas três bolas de massa: a azul clarinha, colorida com flores de Clitoria ternatea; a amarela, feita com abóbora moranga e uma roxinha linda, de beterraba. O próximo passo era instalar a máquina numa superfície grande pra trabalhar, e a despeito das moscas e dos cachorros de plantão, Neide escolheu montar a traquitana toda lá fora, na grama, sob a sombra da Teca.

No melhor estilo gambiarra, com cadeiras viradas sobre a mesa e um pedaço grande de cano de pvc, foi montado um varal para secar os fettuccines, e num minuto em que deixei a cozinha para ir ao banheiro ouvi risadas e fui chamada às pressas. Corre, vem fotografar! Não sei muito bem como aconteceu, mas em questão de segundos a primeira leva de massa de abóbora escorregou do varal de cano e foi parar na grama, e em mais um piscar de olhos os três cachorros devoraram aquilo tudo.


Depois das melhorias no varal para evitar futuras perdas vieram lindos fettuccines azuis e roxos combinando com a camiseta da cozinheira, e comemos nossa macarronada com molhinhos de manteiga e sálvia e de tomate, junto com as coxas de frango e fatias de abóbora assadas com temperinhos da horta. Isso é que é almoço de domingo!



Marcos, o companheiro que acompanha,
espantava moscas e ajudava na produção da massa





Hoje acordei pensando em contrastes.
A massa foi a Neide que fez e o molho fui eu, com tomates pelados de lata mas quase sem processamento industrial. A manteiga era de pacote mas a sálvia é produção da casa. Os corantes da comida eram totalmente naturais: beterraba, abóbora do quintal e flores da horta da Neide. Comemos na mesa sobre a grama, debaixo de uma árvore bonita, com moscas e cachorros por perto, sem muitos problemas.

Agora pense em alguém que more num apartamento. Pode ser você, pode ser eu, que já fui muito urbana. Essa pessoa acorda lá no alto, décimo segundo, vigésimo quinto andar. Olha pela janela só pra saber se faz sol ou se chove e se enfia rápido numa roupa, café solúvel numa mão, bolacha de pacote na outra. Pega o elevador com o vizinho que nem responde o bom dia e aperta o G3, a garagem mais do alto. Entra no carro, afivela o cinto e logo se entala no trânsito; cinquenta minutos pra chegar ao trabalho. O prédio de escritórios fico no topo de um shopping, daqueles com muitos níveis de garagem. De novo o G3. Estacionamento cheio, vaga apertada, elevador lotado, a mesa tomada de pilhas de papel e um monte de e-mails para responder. Na hora do almoço a praça de alimentação salva: um salgado frito com refrigerante diet, porque não vai dar tempo de almoçar direito. De tarde telefone, computador, reunião no ar condicionado, cafezinho da máquina no copinho plástico, mais computador, mais telefone… Acaba o expediente e o dia termina como começou, só que ao contrário: mesa ainda tomada de papéis e os e-mails a responder, elevador lotado, vaga do carro apertada, fila pra passar pela cancela do estacionamento, uma hora e vinte no trânsito até chegar em casa, G3, elevador com os vizinhos… e chega o momento relax: um banho quente (mas rápido por causa do rodízio de água), pijaminha de malha feito de fio de garrafa PET (sustentável) e um jantarzinho leve (salada hidropônica com nuggets de vegetais e um chá gelado, daqueles de misturar o pozinho na água. Sabor pêssego).

Essa pessoa (eu, você, alguém da sua família) não colocou o pé na Terra! Não digo descalço, na terra terra, aquela que tem minhocas, falo do planeta Terra! O dia inteiro se passou no alto, em andares de cimento. Os deslocamentos foram dentro do carro, as garagens eram elevadas, o almoço foi na praça de alimentação do shopping... Essa criatura não pisou numa calçada que seja, muito menos em um só metro quadrado de grama. Capaz que não tenha reparado no céu, não escutou um pio de pomba e nem comida de verdade comeu. Nem bebida de verdade bebeu! E pelo que me consta não inventei nenhum absurdo, nada que eu, você e seus conhecidos não tenhamos feito muitas e muitas vezes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte…

Antes que você me chame de Pollyanna, deixe-me dizer que não acho que tenhamos todos que nos mudar para ecovilas, plantar nossa própria comida, costurar nossas próprias roupas, vender nossos carros… Adoro dirigir, uso computador todos os dias, tenho pilhas e pilhas de papel sobre a mesa e dezenas de e-mails a responder, mas tenho tentado andar pelo caminho do meio. Planto horta (quando morava em São Paulo plantava em vasos), sento na grama com os cachorros no colo, como comida de verdade feita por mim em oitenta por cento das refeições, boto um tênis e vou correr na rua e tento, diariamente, melhorar minhas escolhas. Já morei em diversos lugares diferentes, já trabalhei com coisas saudáveis e com insalubres também, e a cada dia que passa acho mais importante e prazeroso o contato diário com a Terra. E mais: não conheço ninguém que tenha feito o caminho contrário sem ao menos cultivar um plano de, no futuro, voltar às raízes.

É um caminho sem volta. Quanto mais a gente planta, mais quer plantar. Quanto mais pensa na comida, mais se dedica a fazê-la saudável. Quanto mais põe a mão na terra, senta na grama e corre na rua, mais sente falta disso tudo quando por algum motivo não pode fazer. E tem mais uma coisa bem interessante: a gente começa a se relacionar com pessoas que fazem o mesmo, que pensam igual, que andam pela mesma trilha sem querer voltar pra trás. É o caso da minha amizade com a Neide. Quando eu morava em São Paulo, trabalhava muito perto da casa dela e era um pouco aquela pessoa que não tinha tanto contato com a Terra, a gente não se conhecia. Agora que ficamos amigas, pergunta se eu quero passar um Carnaval sem ela???

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Duas amigas queridas, a sálvia e seus usos


A primeira lembrança que tenho de ter comido sálvia (Salvia officinalis) foi num frango com requeijão que a Helô fez no forno. Éramos amigas começando um apartamentinho charmoso, e esse foi um dos pratos que estreou nosso fogão novo. Eu não cozinhava quase nada e ela sabia muito mais coisas do que eu, tanto na cozinha quanto sobre ervas. Nosso jardinzinho interno, debaixo da janela da sala, começou com sálvia, arruda e uma avenca que os gatos insistiam em comer, pra depois vomitar em cima do sofá.

Muito tempo passou e muitas sálvias eu tive, mas apenas pelo prazer de cultivá-las - praticamente nunca mais a usei, nem em preparos culinários, muito menos medicinais. Há anos não como carne (como se a sálvia combinasse só com frango, imagine!) e descobri que já sofri muito daquela síndrome burra que nos faz desprezar as soluções tradicionais caseiras porque o moderno/comprado/industrializado é mais fácil, portanto parece melhor. A gente compra bolo pronto empacotado, pó colorido pra fazer suco e sopa, arroz ensacado em porções pra cozinhar com plástico e tudo… Ah, os tempos modernos...

Pois ontem a Carol, outra querida com quem também já tive o prazer de dividir a casa, falou no programa da rádio que sálvia é tiro e queda pra resfriados, tosse, asma, bronquite e outros "ites". E eu, resfriada há duas semanas como ela e meio estado de São Paulo, chupando pastilha de farmácia com gosto de tinta enquanto vejo crescerem intactas as sálvias do jardim.

Também me senti burra por ter em casa uma estante cheinha de livros sobre ervas e nunca ter pesquisado sobre essa espécie, considerada erva sagrada desde que o mundo é mundo. Sim, a sálvia tem mil propriedades curativas além de dar mais sabor à comida. No nome científico, o Salvia vem do latim salvere, que significa salvo, são, sadio, e o officinalis indica que a planta é reconhecida por suas propriedades medicinais. Olha só:

      Uso interno:
  • Para indigestão (dispepsia) e formação de gases: uma xícara de chá após as refeições
  • Para cólicas menstruais e seios doloridos durante a TPM: uma xícara de chá a cada três horas
  • Para sudorese e salivação excessivas: uma xícara de chá pela manhã e outra à noite
  • Para diminuir a produção de leite materno no processo de desmame de bebês: uma xícara de chá duas ou três vezes ao dia

     Uso externo:
  • Para garganta inflamada: gargarejos com chá de sálvia morno. Para aumentar ainda mais a ação, acrescente uma colher de chá de vinagre por xícara. Tenho feito e estou gostando do resultado.
  • Para gengivite, afta e mau hálito de origem bucal: bochecos com chá de sálvia, que tem excelente ação antiséptica
  • Para limpar os dentes numa versão natureba da escova de dentes (só vale quando não há outra opção!): esfregue folhas de sálvia em todos os dentes, caprichando nas junções com as gengivas. A textura das folhas se encarrega da limpeza, e a ação antiséptica ajuda na eliminação das bactérias
  • Para aliviar a coceira nas picadas de insetos e a dor de feridas na pele: compressas com pano umedecido em chá de sálvia sobre o local atingido
  • Para escurecer os cabelos castanhos: enxague com chá de sálvia após a lavagem com xampu

IMPORTANTE: Apesar de tantas propriedades de cura, o uso da sálvia é contraindicado em gestantes, lactantes (se não há a intenção de diminuir a produção de leite) e epiléticos. Também pode haver efeito tóxico em uso prolongado, afinal, qualquer coisa em excesso pode fazer mal, por isso faça intervalos de algumas semanas a cada mês de uso da sálvia.

Os chás devem ser preparados sempre por infusão: aqueça uma xícara de água até a formação de bolhinhas no recipiente. Apague o fogo e acrescente uma colher de sopa de sálvia desidratada ou duas da erva fresca. Tampe para abafar e espere 10 minutos antes do uso interno ou externo.

Cultivar a sálvia não é nenhum mistério, basta oferecer a ela as condições de vida da costa do mar Mediterrâneo, sua terra natal. Algumas horas de sol pleno e terra levemente arenosa fazem a sálvia feliz. Pode até ser em vasos pequenos, de 20 cm de altura. Assim como o alecrim e o tomilho, nativos da mesma região, sálvias não gostam de sombra nem de encharcamento do solo, por isso são bastante indicadas para jardins ao ar livre com manutenção pouco frequente, como praças e outros espaços públicos, ou para a casa de quem não tem muito tempo para mimá-las.

Nos mercados e lojas de jardinagem é possível encontrar lindas variedades dessa erva, além da básica e verdinha Salvia officinalis, a sálvia comum. Algumas tem caule arroxeado, como a Salvia officinalis "Purpurascens" das fotos, outras têm as folhas manchadas de amarelo, como a Sálvia dourada (Salvia officinalis "Icterina"). Tem ainda a variedade Tricolor, que junta numa planta só as colorações das duas anteriores. Essa é linda!

Sem mistérios: é planta fácil de cuidar, útil e super decorativa. Uma ótima opção pra ir além da salsa, da cebolinha e do manjericão de sempre.


Para ouvir a Carol na Band News FM, clique aqui ou vá até o portal Minhas Plantas e procure pelo podcast na sessão Rádio.


quarta-feira, 3 de abril de 2013

Imprevistos rurais e a vontade de criar galinhas

Quando a vida acontece numa cidade, os imprevistos domésticos costumam vir em forma de um carro parado em frente à sua garagem, o saco de lixo que estoura antes de você chegar na calçada e o nível da água da chuva subindo na rua enquanto você está preso no trânsito.

Mudar-se para uma área rural significa ficar livre do vizinho que sapateia no andar de cima mas também traz surpresas impensáveis, como encontrar um crânio de vaca logo na entrada do sítio.


Nos primeiros minutos só consegui pensar na possibilidade de macumba; sei lá, essas coisas esquisitas que deixam na porta da casa das pessoas... Mas depois, pensando melhor, por que fariam uma coisa dessas?


A explicação veio assim que a vaca apareceu no jardim na boca de um caçador malandro que não passa dois dias sem aprontar uma boa.


Depois de passado o episódio do crânio para roer, hoje tivemos mais um assunto rural interessante a resolver. Há alguns dias o vizinho ligou pedindo nosso empenho no fechamento dos buracos da cerca.

- Buracos, mas que buracos? Nós já fechamos todos!
- Então tem um novo, vizinha, porque um cachorrinho preto daí passou para cá nas últimas noites e acabou com os nove pintinhos de uma galinha bonita que comprei pra minha esposa.

E toca nóis procurar um kit "galinha com pintinhos" à venda, pra tentar amainar o sofrimento da vizinha que perdeu sua ninhada de pintainhos. Não foi fácil, porque pintinhos tem e galinhas também, mas galinha com pintinhos junto não se acha para comprar. Pergunta pra um, e pergunta pra outro, e todos diziam que só saindo pra bater de sítio em sítio, perguntando se alguém não venderia sua criação.

Acabamos na casa de uma família de caseiros que tem meia dúzia de galinhas e cria os pintinhos que nascem para vendê-los frangos. Galinha com pintinhos nunca tinham vendido, mas diante da história do cachorro fujão que comeu a criação do vizinho, cederam.

Na hora de escolher a turma, esses não pode porque a galinha é o xodó da minha filha e os pintinhos tão muito novinhos, bicaram só há três dias. Essa tinha mais pintinhos mas morreram uns quatro. Essa outra pode mas os pintinhos já tão grandes, vocês querem menorzinhos, não é?

Acabamos escolhendo uma galinha altiva, bonita, com sete crianças de dez dias, cada uma de um jeito. Uma graça.
 


Voltamos com a família dentro de uma caixa, ouvindo no carro aquele sonzinho gostoso de piu piu de criança abafado por um crooooc crooooc rouco de mãe preocupada.


Depois de dez minutos quem já queria ficar com todos eles era eu. Que coisa mais bonita é quando a galinha deita e todos os pintinhos somem debaixo dela. E quando ela anda ciscando e todos os pequenininhos imitam atrás.

De volta em casa estacionei na internet e pesquisei um bom tanto sobre galinhas. Os americanos andam com mania de pequenos galinheiros na cidade, como uma maneira de ter ovos saudáveis e ainda produzir adubo orgânico e cuidar do jardim de forma natural (galinhas pastam, comem ervas daninhas, insetos...), além de trazer um pouco do ar rural para as grandes metrópoles.

Não faz muito tempo recebi um comentário da Paula Siqueira (no post Às vezes o bicho pega, sobre pragas), que conta que está na mesma onda, curtindo muito suas galinhas no quintal. Adorei e reproduzo abaixo:

Olá Juliana,
Sempre leio seu blog e adoro.

Recentemente, tenho tentado conciliar a minha horta com a criação de galinhas. E tem dado muito certo. Elas comem os próprios bichos ou as larvas dos bichos, mas não os exterminam, ou seja, são um excelente controle biológico. E não é só isso. Eu sempre vou completando os canteiros com serragem bem alta que, junto com as fezes das galinhas, vão virando uma compostagem no próprio canteiro, além de funcionarem como proteção contra o sol e a chuva.

As galinhas podem prejudicar, sim, um viveiro ou uma horta. Mas somente se houver mais galinhas do que o terreno comporta. Eu deixo elas soltas até mesmo na grama. Normalmente, é importante poder contar com diferentes espaços cercados para que você possa alternar – mas, mesmo assim, com a chuva, eu nem precisei fazer isso; tenho deixado elas soltas em todo o quintal e não há espaço que pareça abatido, pois há comida/mato de sobra pra elas!

Outra coisa legal de saber é que elas fazem mais estrago às raízes, ou seja, com o ciscar delas, do que às próprias folhas, e foi por isso que eu escolhi ter garnizés, que são aquelas lindas galinhas pequenininhas. Enfim, se elas não forem de jeito nenhum compatíveis com seu viveiro, é possível pensar em mantê-las em espaços cercados próximos ao viveiro, pois isso já pode ajudar a reduzir muito as pragas (por exemplo, meus cachorros viviam se coçando. Depois das galinhas patrulharem o quintal, não há mais aquele ‘coça-coça’)

As galinhas também podem ser ótimas para resolver o 'problema' do mato em excesso, que eu sei que vc tem, e eu também tenho aqui. Ainda não testei, mas é meu próximo projeto fazer um desses galinheiros móveis, que podem funcionar como uma espécie de capina e ao mesmo tempo adubação.

Muito do que eu aprendi eu li nesse livro ( http://www.amazon.com/Free-Range-Chicken-Gardens-Beautiful-Chicken-Friendly/dp/1604692375), que é muito, muito bom. Há também esse aqui (http://www.amazon.com/City-Chicks-Micro-Flocks-Chickens-ebook/dp/B0046H9IJM/ref=sr_1_1_title_1_kin?s=books&ie=UTF8&qid=1363204395&sr=1-1&keywords=city+chicks).

Infelizmente, eles são em inglês e a única coisa que achei em português que é mais parecida com as ideias desses livros – mas não igual – é Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) (http://www.rts.org.br/publicacoes/arquivos/cartilha_pais.pdf)

Espero que isso possa ajudar, se não for literalmente, pelo menos a se inspirar e encontrar uma outra solução! E vou adorar se a gente puder continuar conversando e trocando ideias, pois sou totalmente novata nessas questões e estou aprendendo e lendo muito sobre como manter o quintal e a horta, utilizando técnicas e ideias que prezem pela eficiência com baixa manutenção!

Abraços!

Paula Siqueira



Agora a vontade não larga mais de mim. Quero ter galinhas. Não é para já, porque ainda há muito o que fazer antes de começar um galinheiro e, acima de tudo, é preciso resolver a intolerância dos cachorros com qualquer outro animal que não seja da mesma espécie que eles. Mas deixo aqui registrados, para quem mais quiser passar vontade, dois links de sites por onde andei que falam do básico necessário para criar penosas e como elas retribuem os bons cuidados.

- Cinco razões para criar galinhas, da revista Organic Gardening

- Você tem o que é preciso para criar galinhas? do site Rodale


terça-feira, 2 de abril de 2013

Cultive sua própria comida


Meus passeios pela Livraria Cultura costumam ser prazerosos até o momento em que encontro algum objeto de desejo lindo porém carésimo. Daí começa aquele sofrimento do compro ou não compro, compro ou não compro e normalmente acabo cometendo a loucura.

Só que no dia em que encontrei Grow your own food não foi assim.O livro é bonito, super ilustrado, cheio de dicas e informações sobre como plantar comidas no jardim (e em vasos), as fotos são lindas, a encadernação é caprichadíssima, tem capa dura com sobrecapa, a impressão é de muita qualidade e como se não bastasse custa barato! Por R$ 30,20 hoje em dia a gente mal compra um romance nacional de 200 páginas.

Comprei e recomendo muito. Você aprende desde o básico até as melhores ervas e hortaliças para plantar em cada começo, meio e fim de estação, dicas de semeadura, cultivo e colheita, como lidar com pragas e com os problemas mais comuns do dia a dia. O livro também tem receitas boas de pratos fáceis, sopas e saladas para preparar com a colheita da horta.

E além disso tudo você tem uma ótima oportunidade de treinar seu inglês e adquirir vocabulário útil. Vai que uma hora dessas você viaja e precisa pedir comida num lugar de língua inglesa? É fundamental saber o que são peas, leeks, cucumbers, cabbages, brussels sprouts, radishes... pra não ficar só nos potatoes e tomatoes, não é?

Grow your own food
Ivy Contract
Parragon Books
2010

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A técnica dos 20 minutos



As festas de fim de ano e as arrumações de ano novo me fizeram deixar um pouco (muito) de lado a manutenção da horta, daí... A chuvarada acordou o imenso banco de sementes de mato adormecidas na terra e tudo cresceu num ritmo insano, muito mais rápido do que tudo que eu tinha plantado. Depois de quase um mês sem frequentar meus canteiros, o mato chegou a ficar mais alto do que eu.

Nos primeiros dias fiquei triste, triste. Tanto tempo e trabalho empenhados, a horta estava ficando linda, mas foi só dar uma viajadinha pra perder praticamente tudo no meio do matagal.
Depois passei por uma fase de me convencer de que não dou conta de tudo e de que seria melhor dar um tempo da horta. Estou numa época de muito trabalho, de encerramento de assuntos pendentes há anos, encarando novos projetos e desafios, e não dá pra querer abraçar o mundo. Repeti diversas vezes para mim mesma que tem horas que a gente precisa se despir da roupa de mulher maravilha porque ninguém aguenta fazer milagre o tempo todo, então o melhor a fazer seria mesmo dar um tempo da horta.

E dei. Três dias.
No quarto dia não aguentei olhar todo aquele mato crescendo em terra boa, úmida, cheia de minhocas, prontinha pra produzir. Tratei de vestir outra vez meu corpete vermelho e dourado, o short azul com estrelinhas e defini como seria realizada a missão: arrancar mato todos os dias durante 20 minutos, marcados no alarme do celular. E comecei.

Estava inventada a melhor técnica do mundo para lidar com desafios impossíveis. Porque quando se olha tudo aquilo por fazer e mais o monte de coisas a resolver todos os dias, parece uma viagem non stop de bicicleta daqui ao outro lado do mundo, mas quando você se promete pedalar com empenho e também fazer paradinhas pra descansar e admirar a paisagem, daí, quem sabe?

Tenho trabalhado como quem medita. Nessa hora o mundo pára e não importa quanto eu já fiz nem quanto ainda há por fazer. São vinte minutos inteiros de foco e concentração. Nessa toada já limpei mais da metade dos canteiros em dez dias. A foto do início do post mostra em que ponto estou. E no meio do "desmatamento" às vezes aparecem surpresas:

Os tagetes sobreviveram e floresceram

Os sapos aproveitaram minhas férias para por ovos

O gervão está enorme e mais bonito do que nunca

A pimenta biquinho caregou

E o quiabo floresceu e está produzindo!


Não adianta, eu não aguento ficar sem horta. Nos meus sonhos ela é linda, organizada, limpinha e produz a pleno vapor, mas na minha vida real ela é como tem dado pra ser. Tem horas em que está mais bonita, em outras parece meio abandonada, mas vai indo conforme eu consigo cuidar. Paciência. O mais importante é que, além de produzir refeições, tenho realizado belos exercícios de disciplina. E assim vamos indo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Alho mineiro - o Allium sativum de variedade incógnita


Conheci o alho mineiro (Allium sativum var. ?) pelas mãos da Cidinha, que conheci pelos frutos da Missão Cambuci. Ela, o marido Winfried e o filho Daniel vieram ao sítio ver minhas experiências com a espécie em extinção e me trouxeram dentes do alho de presente. Mal sabia eu que o alho mineiro é uma variedade de alho com pouca informação disponível. Não deve estar correndo risco de extinção, mas não sei porque não se fala muito dele em lugar nenhum.

Naquela época ainda não tinha pesquisado nada, só fiz o que a Cidinha mandou. "Enterre os dentes no final de abril e pronto. É como qualquer outro alho, nasce fácil e de cada dente enterrado nascerá uma planta, que produzirá uma cabeça inteirinha". Enrolei um bom tanto e acabei só plantando em meados de junho, mas logo vieram os primeiros brotos e realmente tudo aconteceu sem problemas; não tive cuidado nenhum além das regas frequentes. Enterrei os dentes a 15 cm de distância uns dos outros, todos germinaram bem, não deu praga nenhuma, tudo fácil.

Já se passaram seis meses e nada das folhas secarem - essa é a dica do momento certo para desenterrar as novas cabeças de alho originadas pelas plantas - mas nesses dias teve surpresa boa: lindas flores lilases enfeitando o canteiro e atraindo insetos polinizadores. Diferente de outras flores, que em botão têm as pétalas enroladinhas, as do alho vêm em um buquê que nasce espremido, embrulhado por uma película fina que um dia arrebenta como numa explosão de fogos de artifício.



Dias depois, na recepção de um prédio de consultórios em São Paulo, descobri que aproveita-se a flor do alho em arranjos ornamentais.


Pelo jeito o alho de qualquer espécie e variedade é bom para tudo, e a julgar pela quantidade de vezes que o prefixo anti e o sufixo protetor aparecem em suas propriedades, ele tem vocação para panaceia. É antitrombótico, antifúngico, antibacteriano, antioxidante, antitumoral, hipotensor, hepatoprotetor, cardioprotetor, hipoglicemiante...
Antigamente era utilizado na conservação de carnes e até na de cadáveres; os egípcios utilizavam-no em parte do processo de mumificação dos mortos.

As características do cultivo do alho são bastante específicas, e eu não sabia de nada disso quando plantei os meus: a planta prefere solos leves, ricos em matéria orgânica e bem drenados. Terrenos úmidos atrapalham o bom desenvolvimento das raízes, o que prejudica a nutrição e interfere na formação dos bulbos, as cabeças de alho. Depois de enterrar os dentes de alho com a ponta para cima deixando uma camada de terra de 2 a 3 cm sobre eles, deve-se espalhar palha ou folhas secas sobre a superfície do canteiro, assim a temperatura no subsolo se mantém menor do que a do ar, e é de solos mais frios que a planta do alho gosta.

O processo de colheita deve ser iniciado quando as folhas começam a amarelar e secar. Arranca-se as plantas inteiras, e se isso é feito durante um período sem chuva a durabilidade do alho é favorecida. Se a colheita for feita pela manhã, em dias secos e ensolarados, melhor ainda. Depois de arrancadas, as plantas devem ser dispostas sobre o canteiros com os bulbos direcionados para o nascente, com as folhas de uma fileira cobrindo os bulbos da fileira anterior. Esse é o processo de cura preliminar.

Depois de 3 dias de exposição indireta à luz solar, os bulbos passam para um processo de cura mais lenta, feito em galpões parcialmente iluminados, muito secos e arejados. Durante esse período, que pode variar de 20 a 60 dias, acontece a perda gradual de umidade que garante as propriedades do alho e favorece sua durabilidade. No caso de enrestiar o alho (réstia: trança feita com os caules e folhas de alho e de cebola), o processo de cura pode ser mais curto, já que é necessário manter um pouco da umidade nas folhas para trançar as réstias. E depois delas prontas a cura continua, já que as folhas ali trançadas continuam favorecendo a lenta perda de umidade pelos bulbos.

Os que ganhei da Cidinha foram produzidos, colhidos e curados por ela mesma, e foram esses os primeiros alhos mineiros que conheci. Eles são a cara do alho comum, mas um tanto maiores, de pelezinha branca transparente e têm sabor bem mais suave. Também me pareceram um pouco mais suculentos, mas não sei se são sempre assim ou se isso varia de acordo com o tempo de cura.

E agora, pesquisando para escrever esse post, descobri que pouco se fala e se cultiva dessa variedade. Na internet, pouca coisa encontrei, e nos livros e manuais sobre horta a que tive acesso trata-se todos os alhos como um só, apesar da frequente menção de que existem mais de 600 variedades.

O meu mineiro, discreto e misterioso, ainda não colhi, mas estou curiosíssima. Por enquanto curto só as flores, mas mostro o resultado da produção quando chegar a hora.
Será que se dão bem em vasos?

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O primeiro Terra Madre Day a gente nunca esquece


Ontem foi o Terra Madre Day, dia marcado pelo Slow Food para celebrar a terra e o que ela nos da. Muitos eventos aconteceram simultaneamente em todo o mundo, e em São Paulo teve Dia de Campo Urbano - identificar e colher, cozinhar e comer, promovido pela Neide Rigo.

Um bando de 14 foragidos do trabalho saiu, em plena segunda-feira, para caminhar pela Lapa com a missão de identificar e colher espécies comestíveis que nascem pelas ruas do bairro. Guiados pela Neide e com um pouco de colaboração e experiência de cada um do grupo (com ênfase nos incríveis conhecimentos do Guilherme), enchemos nossas sacolinhas com folhas, frutos, bulbos, legumes e ervas medicinais e aprendemos muito, principalmente no que diz respeito às possibilidades de um paisagismo mais útil e caprichado em qualquer grande cidade. Se haverá plantio de árvores, por que não frutíferas? Como trepadeiras para fechar muros e grades, por que não maracujás?

Grumixama amarela (Eugenia brasiliensis)


Vassoura-relógio (Sida rhombifolia)

Devidamente uniformizados com nossos crachás adesivos do Terra Madre Day, conhecemos a face "roça" da metrópole, lugar onde nascem mangas, bananas, tamarindos, limões cravo, graviolas, inhames, batatas-doce e dezenas de outros alimentos, e onde crescem também muitas variedades de matos comestíveis e ervas medicinais que pisamos em cima sem nem desconfiar que existem. Na Europa, por exemplo, vende-se dente-de-leão (Taraxacum officinale) em feiras livres, enquanto aqui no Brasil ele nasce espontaneamente em cada fresta e rachadura de calçada por onde andamos. Colhemos um bom tanto deles, para a salada.

Dente-de-leão (Taraxacum officinale)

Pelo caminho também encontramos feijões, uma linda espécie de mini pepininhos silvestres...

Vagens de feijão de espécie não identificada

Mini pepinos comestíveis (Melothria pendula)

... e cúrcumas, plantadas pela Neide e algumas crianças em uma pequena praça mal cuidada mas arborizada com lichias e uvaias, onde, até hoje, certamente pouquíssima gente parou para reparar e experimentar. Pois ali cavamos e desenterramos lindos bulbos amarelo-ouro com cheiro de terra para colorir o almoço.


No final do passeio, bolsas e bolsos passeavam cheios de plantas, frutos e matinhos que virariam nossa refeição.

Fábio e sua muda de café "plantada" no bolso

Buquê de sementes de maria-gorda (Talinum paniculatum)

Tudo foi colocado sobre a mesa da casa da Neide e, junto com os ovos doados e as laranjas que levei de presente na semana passada (deste post aqui), fizemos um belo conjunto de alimentos coletados por nós. Nada de compras, muito menos de comidas processadas. Tudo fresco, natural e recém-colhido nas ruas da quinta maior cidade do mundo. Pura celebração à terra.


Com 28 mãos na massa, em pouco tempo tínhamos muito suco de laranja, de tamarindo e de manga verde (espetacular, batido com água e um pouco de açúcar) e alguns pratos em andamento.


Folhas de caruru enfeitaram de verde o risoto de arroz integral e feijões que já tinha sido pré-preparado pela Neide, bananas verdes viraram nhoque romano e também um delicioso purê inventado na hora por ela e decorado com as sementes de maria-gorda do Guilherme, e as mangas, igualmente verdes, foram transformadas em chutney cru, temperado com pimenta, cebola, cominho e sementes de coentro. Na salada verde nem uma única hortaliça convencional, mas uma coleção de matos comestíveis: serralha, caruru, dente-de-leão, mentruz, maria-gorda e tomatinhos-cereja, esses últimos também enquadrados na categoria "mato" porque nasceram por aí, sem terem sido plantados. E teve também molho pesto de buva (Conyza bonariensis), feito segundo a receita da versão tradicional, mas substituindo o manjericão pela erva espontânea. Foi invenção da Cenia Salles, líder do convívio Slow Food São Paulo, e ficou saboroso, um pouco picante, perfeito.


Às quatro da tarde, quando deixei a festa que ainda entrava na etapa da sobremesa, me despedi de 13 pessoas felizes, que com certeza se lembrarão para sempre do nosso primeiro Terra Madre Day. Que venham muitos mais, e que possamos nos juntar novamente para celebrar uma alimentação rica, bonita, saudável e repleta de histórias para contar.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Mato como barreira natural contra pragas

Primeiras folhas do pé de repolho, murchas e retorcidas pela ação de pulgões

Se você ainda não sabe que cara tem um pulgão e os estragos que ele pode causar, cultive qualquer uma das hortaliças da família Brassicaceae (antigamente chamada de Cruciferae) e em alguns dias saberá do que se trata. Pulgões são apaixonados por couve, couve-flor, brócolis, repolho, e em alguns dias são capazes de sugar a seiva da planta até que ela definhe por completo. Combatê-los faz e sempre fará parte do trabalho de quem cultiva hortaliças comestíveis, e é preciso ter paciência. Esse é um dos motivos pelos quais dizem que horta da trabalho.

Conhecer as pragas mais comuns e saber como conviver com elas (porque se livrar definitivamente é impossível) é fundamental para quem quer ser recompensado com o prazer de comer o alimento que plantou, por isso, pesquisar bastante e colocar mãos à obra é a melhor maneira de criar seus próprios protocolos no cuidado com sua horta.

Na minha, dia desses, o acaso veio para ensinar mais uma artimanha que já conhecia de ouvir falar mas ainda não tinha experimentado. Num dia de "desmatamento", que é como tenho chamado a atividade de tirar o mato dos canteiros, comecei a arrancar as plantas invasoras que nasciam ao redor de três mudas de repolho roxo mas fui interrompida por alguma coisa. Fui resolver o que precisava de mim e acabei não voltando para terminar a limpeza. Dias depois encontrei uma infestação de pulgões nos dois repolhos da área já limpa, enquanto o que quase sumia sob o mato estava saudável, livre dos insetos.

Barreiras naturais são muito utilizadas no campo, em produções orgânicas e não orgânicas, tanto em pequenos quanto em grandes plantios. É comum, por exemplo, ver eucaliptos plantados como um muro para impedir que insetos e doenças carregados pelo vento atinjam as culturas. Faixas de mato entre áreas culivadas também servem de abrigo para sapos, rãs e diversos predadores de pragas. Mas é claro que, assim como as infestações, o mato como barreira também precisa estar sob controle, senão cresce e se alastra mais rápido do que o resto e rouba a água e os nutrientes disponíveis para suas hortaliças.

Observando esses três repolhos percebi também que o mato em volta do terceiro deles funcionou como uma proteção contra o sol excessivo, que tem castigado nesse final de primavera. Frequentemente os repolhos "desprotegidos" têm chegado ao fim do dia moles, desidratados, enquanto o que está acompanhado de mato, usufruindo de uma leve sombrinha, perde menos água por evaporação e permanece sempre mais tenro e firme. Certamente isso também o torna mais forte, já que, como nós, plantas saudáveis e hidratadas resistem melhor a doenças.

Repolho saudável, "escondido" no meio do mato

Mas não se anime muito; mais cedo ou mais tarde os pulgões encontrarão uma brecha e você os verá firmes e fortes, comendo sua comida sem te pedir licença. Quando isso acontecer, lembre-se do que ensina o permacultor Peter Webb:

"Pulgões vêm para compartilhar a abundância na seiva das plantas em rápido crescimento. A mãe deles deixa os filhos vivos no lugar onde começam a sugar a seiva de nossas plantas queridas. Eles só conhecem como casa aquele lugar, pois não chegam andando, nem voando para o local. Por este motivo, pode direcionar um jato de água neles e jogá-los no chão, pois não vão voltar para o local, nem sabem o caminho de como chegar. O truque é não deixar o número deles aumentar muito, pois a colônia cresce rapidamente. No caso de laranja e couve, as plantas encurvam as folhas, o que dificulta a água entrar. Passar os dedos carinhosamente na cabeça deles costuma atrapalhar bem. Se quiser alguma coisa para pulverizar (e satisfazer o desejo de alquimistas), use sabão de coco (2 colheres de sopa por litro - derreter na água quente e pulverizar depois que a água estiver fresca). Com pulgões é melhor fazer novamente depois de 15 dias, pois sempre deixam ovos que vão nascer. Se não fizer isso, eles voltam enquanto dorme à noite!".

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O gervão e as fadas


Há cerca de um ano comprei, na Sabor de Fazenda, uma mudinha de gervão (Stachytarpheta cayennensis). Foi depois de ouvir a Sabrina contar, numa aula para crianças, que uma antiga lenda diz que as fadas gostam de comer suas flores. Já conhecia a espécie mas nunca tinha visto plantas bonitas, florescendo em quantidade, então não me dizia muita coisa. Mas naquele dia foi bonito ver a meninada logo se juntando em torno de uma grande touceira para beliscar o petisco das fadas.

Meu gervão cresceu e floresceu bonito. Fada mesmo ainda não vi por aqui (talvez eu me torne uma delas, já que venho comendo flores diariamente), mas a linda planta me cativou e hoje enfeita minha horta, toda pintadinha de azul.

O livro Plantas Medicinais no Brasil, de Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos, ensina que o gervão, gervão-azul ou falsa-verbena é planta nativa do Brasil e chega a ser considerada planta daninha em algumas áreas do país. É amplamente utilizada na medicina tradicional brasileira na forma de chás quentes feitos de suas folhas e tem diversas propriedades curativas, como tônico estomacal, diurético e estimulante digestivo, entre outras. Em países do Caribe é largamente empregada como vermífugo e anti-helmíntico, e entra na composição de várias fórmulas comerciais contra vermes e parasitas intestinais na Jamaica. Na Índia, o chá quente feito com as folhas é usado contra disenteria, febres, inflamações reumáticas e externamente em banhos contra úlceras purulentas.

Contra prisão de ventre, prepare o chá adicionando 1 xícara de água fervente em um recipiente contendo 1 colher de sobremesa de folhas fatiadas. Espere alguns minutos, coe e beba, na dose de 1 xícara de chá duas vezes ao dia, antes das refeições.

Para adquirir uma muda, vá visitar a Sabor de Fazenda, um lindo viveiro de ervas orgânicas na Vila Maria, em São Paulo, que abre também aos sábados, das 8 às 17 horas. E por falar nisso, neste sábado 24 de novembro vai rolar o curso de horta caseira orgânica, ministrado pelo Marcelo Noronha. Tudo sobre a montagem da horta em pequenos espaços e dicas de plantio, regas, adubação, incidência de luz, etc. Para saber mais detalhes e fazer sua inscrição no curso, acesse o site da Sabor de Fazenda.



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Couve em vaso

Couve rendada, uma delícia refogadinha com alho

Hoje o dia está corrido e para o almoço, pronto na geladeira, eu só tinha arroz e feijão. Sem problemas, adoro e como todos os dias com gosto, mas faltavam coisinhas pra dar uma incrementada. Nessa hora, ter uma horta em casa faz toda a diferença. Desde o começo das minhas plantações, nunca tive a pretenção de comer só o que produzo. Uma horta grande e variada que possa prover uma casa de vegetais em quantidade suficiente para dispensar a compra de horti fruti dá bastante trabalho e exige mais tempo e dedicação do que tenho disponíveis atualmente. Por isso, desde o começo, alterno culturas pensando no que gosto de ter como acompanhamento e no que é prático para complementar uma refeição, fazer um molho de macarrão, coisas assim.

Mas o que tenho colhido tem sido suficiente para comer bem variado e, muitas vezes, ainda sobra para presentear vizinhos e amigos. É o caso dos pés de couve. Quando me mudei para o sítio ganhei da D. Leonia seis mudinhas de uma linda variedade de couve toda recortada que batizei de couve rendada, mas quando ainda morava em São Paulo já tinha feito experiências super bem sucedidas com couve comum em vaso. Ambas são plantas fáceis de cultivar mas exigem alguma paciência e dedicação no quesito combate a pulgões.

Na verdade toda a família das couves - couve manteiga, couve-flor, brócolis, repolho - tem esse inconveniente. Vira e mexe as folhas são atacadas por pulgões, que sugam a seiva da planta e vão minando sua energia até a morte. São bichinhos brancos, cinzas ou pretos que aparecem na face inferior da folha, todos juntinhos, trabalhando em grupo. Esse ataque pode acontecer em qualquer época do ano, mas é mais frequente durante o calor intenso e quando faltam regas suficientes. Para combatê-los, o velho e bom óleo de neem resolve. Veja o post sobre pragas nas plantas.

Uma opção de prevenção ou mesmo de combate, quando a situação ainda não é grave, é esguichar as folhas por baixo com um jato forte de água, assim os pulgões se desprendem. Retirar do pé as folhas velhas, que não serão mais usadas porque estão feias, também ajuda a manter a couve livre de pragas, porque faz com que a planta fique bem arejada, sem folhas emboladas, que são o ambiente perfeito para pulgões se esconderem.

No mais, o cultivo é fácil, sem surpresas, e a colheita é recompensadora. Hoje tenho cinco pés de couve rendada e colho cerca de 15 folhas a cada duas semanas. Quando tinha só uma, em vaso, colhia 3 ou 4 folhas a cada duas semanas, que são o suficiente para duas pessoas. E o pé dura muitos meses, acho que mais de ano. Você já começa a colher folhas quando ele ainda é baixinho, com 30 cm de altura, e com o passar do tempo ele vai ficando alto, chega a mais de 1,5 metro.

Se quiser experimentar ter uma couve no vaso, plante em um que tenha, no mínimo, 40 cm de altura. Capriche na escolha da terra, bem fértil, adubada, para garantir uma couve saudável e bem bonita. E coloque-o num lugar onde bata pelo menos 4 horas de sol todos os dias. As regas devem ser frequentes para manter a terra sempre úmida. Se secar, sua couve vai murchar rapidamente.

É possível encontrar mudinhas prontas para o plantio no vaso em boas lojas de jardinagem. Ou então faça as suas a partir de sementes, seguindo o passo a passo do post como fazer uma sementeira.

Antiga couve comum, cultivada em vaso no quintal de São Paulo

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Botando o dever de casa em dia

Capuchinha, flor comestível e bastante visitada por abelhas

Uma semana praticamente fora da web, botando meu dever de casa em dia.

No início da semana passada, em São Paulo, fui à pré-estreia do filme Muito além do peso, de que falei aqui. Para começar já foi gostoso ver uma meninada super empolgada com o buffet lindo que recebia a plateia de adultos e crianças logo na entrada do auditório. Todas as comidinhas e petiscos eram vegetais, a grande maioria deles in natura. Tinha cestinha de amora, framboesa, maçã verde, pêssego, palitinhos de cenoura e pepino e alguns tipos de batata cortadas em fatias fininhas, tipo chips, assadas. Para beber, sucos naturais e águas aromatizadas com hortelã e limão, pétalas de rosas e capim santo. Tudo delicioso e muito charmoso.


Depois das comidinhas, o filme. Muito bom, obrigatório e esclarecedor para quem come e bebe tudo e qualquer coisa que passe por dentro de uma indústria de alimentos e porte uma embalagem que não seja sua própria casca natural. São assustadores as quantidade de óleo e açúcar acrescentados nas comidas processadas, e médicos entrevistados explicam que são esses os ingredientes que criam dependência e fazem a gente não conseguir largar refrigerantes e salgadinhos antes do fim do pacote. Além disso, células gustativas educadas à base de óleos e açúcares nunca serão muito receptivas a vegetais. Isso explica porque muitos adultos, apesar de conhecerem a importância de uma alimentação saudável, têm tanta dificuldade para se habituar com legumes e hortaliças.

Impressiona ver crianças se jogando no chão aos berros até ganharem dos pais um saco de batatas fritas, e uma mãe de duas ou três filhas dizendo à entrevistadora que não se lembra se houve o preparo de alguma refeição naquela casa ao longo da última semana. Detalhe importante: essa cena acontece diante de uma mesa coberta com o que foi tirado de dentro da dispensa da família. Tudo processado, empacotado e cheio de flavorizantes, conservantes e corantes. Nem um único vegetal. E a mãe completa dizendo que se preocupa que as meninas estejam bem nutridas, por isso procura comprar produtos vitaminados. É surreal.

Surreal também é ver uma menina de 12 anos, acima do peso, contar que há dois anos teve uma crise de pressão alta e trombose, que causou nela a paralisia das pernas. Depois da internação de emergência e do tratamento inicial, a orientação dos medicos foi mudança de hábitos alimentares e perda de peso urgente, para evitar que a crise voltasse a acontecer. E quando a entrevistadora pergunta quantos quilos a menina emagreceu desde então, a resposta é "nenhum".

De volta aos meus hábitos alimentares, fui à Agroplus (de onde falei aqui) comprar mudinhas para a horta. Talvez pela época propícia ao plantio de muitas das famílias de hortaliças, encontrei ainda mais variedade do que na última vez em que estive lá, e tive medo de chegar de volta e não ter onde plantar tudo o que trouxe.


O radiche coube nos canteiros junto com as mudas de quiabo, pimenta cambuci, acelga e brócolis, entre outras coisinhas, mas a abóbora foi para um cantinho do gramado, bem rente à cerca viva. Assim terá espaço para espalhar suas ramas e formar um maciço, uma ilhota baixa no meio das árvores. Experimentei plantar assim no ano passado e deu super certo. Foi só tirar um disco de grama do lugar escolhido e caprichar na cova, cavando um buraco de mais ou menos o volume de um balde desses médios, domésticos, e preenchê-lo com uma terra boa, bem fértil. Ali as raízes principais da planta se alimentam, e as ramas crescem por cima da grama mesmo, lançando suas raízes "acessórias" nos espacinhos vagos que vão encontrando no caminho. Como o pé de abóbora tem o ciclo de vida curto, dentro de 5 ou 6 meses para de produzir e morre sozinho, daí é só recolher toda a folhagem morta e começar tudo de novo. Ou não. A grama pode estar meio feia onde estava o "abobral", mas certamente não terá morrido. Uma boa roçada seguida de regas abundantes (grama gosta bastante de água) faz tudo voltar a ser como era antes. No ano passado tive visita que achou lindo e disse que ia copiar em casa. Pronto, pé de abóbora virou planta ornamental.

No feriado emendado de quinta e sexta-feira (que não acabou até hoje, terça, em algumas cidades do país) trabalhei - e como trabalhei - na horta. Planto minhas comidinhas em canteiros que um dia serviram de estufa de marantas mas estavam abandonados há alguns anos, tomados de mato, e quem já plantou onde antes era mato conhece bem as dificuldades que estou passando. Com anos e anos de abandono a terra se enche de sementes de diversas espécies de mato e assim que você arranca o que está crescido, a luminosidade combinada com a água faz com que novas sementes germinem. Você arranca o novo mato e novas sementes germinam. E de novo, e de novo, um sem fim de vezes. Muitos dos "matos" que nascem nos meus canteiros na verdade são plantas úteis para chás, saladas ou refogados. Quando recebi visita da Neide, do Come-se, a cada pouco caminhado ouvia dela "você conhece isso?, é de comer". Muitas das espécies conhecia, sim, como dente-de-leão, beldroega, serralha, maria-preta, mas outras não tinha a menor ideia do que seriam.

De qualquer maneira as tenho classificado como "mato" porque estão nascendo onde quero ter couves, rúcula, tomate, cenoura, alfaces, ervas diversas, etc, e como normalmente essas invasoras se desenvolvem mais rápido do que o que quero cultivar, se não arrancá-las perco o que plantei. Só que essa batalha ELAS versus AS MINHAS só será vencida pelas MINHAS seu eu arrancar ELAS sistematicamente, até que acabe o banco de sementes e eu consiga ter um pouco mais de sossego. Enfim, passei horas a fio debruçada arrancando o que não quero ter dentro da horta no momento.

Nesse canteiro, por exemplo, só eu sabia que cresciam tomateiros.


Mas arranquei o que estava atrapalhando e deixei só o que interessa (da pra ver o pequeno tomateiro bem ali, no centro da foto?).


A mataiada ficou por lá mesmo, estendida sobre a terra com a função de cobertura vegetal, também conhecida como mulching. Uma vez falei sobre isso, aqui. Desde que o que foi arrancado não esteja com sementes, é ótimo deixar tudo ali mesmo, primeiro secando e depois se decompondo, para enriquecer a terra com nutrientes, além de evitar que a umidade evapore. Toda terra coberta, por qualquer coisa que seja, é sempre mais rica e fértil do que aquela permanentemente exposta, que perde sua vida e sua fertilidade dia após dia pela ação do sol e do vento. Basta levantar um vaso, um jornal ou mesmo um pedaço de plástico velho que tenha ficado sobre um canteiro para ver ali um tanto de minhocas, centopeias e tatus-bola, todos seres que vivem em locais úmidos e com boa disponibilidade de matéria orgância. Eles e milhares de outros seres microscópicos são o sinal de terra boa, viva, pronta para receber plantas.

E como recompensa, depois de tanto trabalhar a terra, chega a hora de comer a produção. Recentemente andei colhendo cenouras e abobrinhas italianas, e nesses dias de feriado foi a vez das folhas. Preparei lindas saladas coloridas, com o verde das rúculas e o roxo das folhas de amaranto, que complementaram o vermelho fresquinho dos tomates. É sempre muito mais gostoso comer o que a gente mesmo plantou.