Mostrando postagens com marcador Pássaros. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Pássaros. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

 



A primavera desta vez chegou adiantada, ainda nas últimas semanas de inverno, nas asas de passarinhos tão apressados que pareciam até atrasados.

Sabiás, sanhaços-azuis, bem-te-vis e beija-flores rapidamente construíram ninhos nas copas densas das árvores, nas moitas espinhosas do jardim e em cantinhos protegidos da nossa casa.

Enquanto a Sabiá-do-campo coletava barro pra sua cuia de raízes e ramos no vitrô do banheiro, a beija-flor ajeitava paina, matinhos e musgos no caule de uma folha de samambaia na varanda, formando a cestinha mais delicada, confortável e pequenininha que se pode imaginar.

De dentro da casa, observando as engenheiras pelas frestas e vidros, tentamos atrapalhar o mínimo possível, tomando banho de vitrô fechado e regando menos as plantas da varanda. Resultado: um banheiro super úmido, as plantas sofrendo por falta de água e nossa porta principal interditada.

Depois de alguns dias de adaptação a sabiá se acostumou com a lâmpada que às vezes acendemos à noite - afinal não é legal fazer xixi nem escovar os dentes no escuro - e a beija-flor entende que de vez em quando preciso ligar a mangueira e jogar água na varanda. Quando me aproximo, ela voa rapidinho para a árvore logo em frente e de lá me observa, com um misto de confiança e receio, enquanto eu não resisto e dou umas espiadas discretas dentro do ninho. Se começo a me demorar demais, ouço seu tic tic tic impaciente me pedindo que acabe logo e libere o lugar, porque ela precisa voltar ao seu trabalho de chocar.

Com muito cuidado e sem tocar em nada andei fazendo umas fotos, e agora conto os dias para o nascimento das crianças. Que pena que não vou poder segurar nenhuma no colo!

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Generosidade


O mundo para quando ele vem aqui, e eu largo tudo o que estiver fazendo só pra ouvi-lo falar. Ele sabe tudo de plantas e tem no viveiro nada mais nada menos do que 1.200 espécies delas (aposto que tem mais; sempre tem umas que ficam esquecidas na hora do levantamento). O que não tem no sítio no momento ele diz quando vai ter ou conhece quem tem. Ou melhor ainda: diz que no trevo da cidade tal, do lado esquerdo de que vem de X e vai para Y tem um pé daquilo, que no ano passado não deu flor mais que nesse já está dando, e daqui a tanto tempo vai ter semente, e que o momento certo de colher é...

Já viajou o país inteiro diversas vezes garimpando espécies e cita montes de lugares interessantes que abrigam o que há de mais bonito e curioso no reino vegetal. Diz que hoje não tem mais aquele pique de antigamente, quando percorria mais de mil quilômetros num único dia visitando produtores e propriedades, então agora só encara 4 ou 5 horas no volante de cada vez. Só que falta tempo. Precisaria ter alguém para deixar no viveiro no lugar dele enquanto ganha mais mundo. Para isso tem ensinado Gustavo, o filho, que é daqueles casos que dispensam exame de DNA. Olhando um ao lado do outro você entende o real significado do termo herança genética.

O nome dele? Edilson Giacon, do viveiro Ciprest.

Não bastasse tudo o que essa criatura conhece, digo com toda segurança que é uma das pessoas mais simpáticas e generosas que conheço. Pra começar ele fala sorrindo, o que faz qualquer conversa ficar mais especial. E sorrindo ele vai contando casos, falando nomes, descrevendo formatos de folhas, flores, frutos e ensinando coisas que eu não sei. Como o que mais tem é coisas que eu não sei, ele passa horas respondendo (numa boa!) as minhas perguntas. Com a maior generosidade me ajuda a identificar o que estamos cultivando sem saber o que é, sugere alterações, melhorias e ainda pede preços e reserva lotes. 

Estamos muito próximos um do outro - coisa de meia hora de estrada - e ele às vezes compra plantas aqui, o que me deixa muito lisonjeada. Nada mal poder fornecer algo para quem é referência nacional por ter de tudo. Mas ele está sempre atrás de mais: invariavelmente chega com novidades de uma planta nova que conseguiu que alguém mandasse de outro continente e que já está multiplicada, enraizada e crescendo no viveiro. Assim, garimpando sem fronteiras, ele hoje tem variedades especiais como a orquídea que produz a verdadeira baunilha em fava, a Amapá - árvore que dá leite tão nutritivo quanto o leite materno, as diferentes espatódias branca e amarela, o cipó-alho, diversas frutíferas que você e eu nunca ouvimos falar, muitas variedades de manga e laranja, sem falar dos perfumadíssimos limões yuzu, cafir e agora também um  novo que me trouxe de presente: o limão-caviar, ou "caviar vegetal".

Folhagem fininha do limão caviar

A folhagem é uma graça, e mais bonito ainda parece que é o interior do fruto, que ao invés dos gominhos em formato de gota, como todos os cítricos, tem o sumo embalado em bolinhas verdes, amarelas ou alaranjadas, dependendo da planta.

Fico sempre tentando retribuir tudo o que ele me ensina e me dá de presente, por isso, na visita da semana passada convidei-o a passear pelo jardim para ver como estão seus filhos - muito do que tenho de bonito veio da casa dele. O Combretum amarelo floresceu esse ano pela primeira vez e encheu nossa antena de ferro de delicadas escovas de cerdas macias. O eucalipto arco-íris ainda não coloriu mas cresce bonito, já está mais alto do que eu. A Hamelia patens dá flores e frutos o ano inteiro, e por causa dela sempre assistimos briga de beija-flores, que disputam a planta a bicadas. A paineira branca também floresceu pela primeira vez recentemente e foi o ponto alto do jardim por mais de um mês, com suas grandes flores de miolo cor de vinho. A fruta do milagre produziu bastante no primeiro semestre e agora com a chegada da primavera se animou a crescer ainda mais, já preparando botões para uma nova florada.

Combretum fruticosum florido no início do inverno

Flores da Hamelia patens,
super disputadas por beija-flores

Frutos da Hamelia patens,
super disputados por passarinhos vários

Flor da paineira branca
Ceiba glaziovii

Depois de três horas aprendendo, aprendendo e aprendendo ainda ganhei de presente uma poda no arbusto Alegria-dos-pássaros (Elaegnus umbellata), que também veio do Ciprest mas nunca fez a alegria dos voadores daqui. Já são dois anos tentando de tudo para que ele floresça e frutifique mas ainda nada. Acho que dei azar, porque quem tem a planta diz que ela produz fácil e realmente é um sucesso com a bicharada do jardim. Edilson conta que quando conheceu a espécie, anos atrás, teve a impressão de que macacos pulavam entre os galhos, de tanto que o arbusto chacoalhava. Chegando mais perto percebeu que eram pássaros, mais de uma centena deles num mesmo pé. Fez estacas, passou a produzir a espécie e batizou-a com esse nome mais adequado e sugestivo, para substituir Acerola-japonesa, que era como a chamavam. Parece que pegou, porque é assim que atualmente ele é conhecida, inclusive nos livros.


Quando Edilson foi embora fui curtir os presentes, repassar as anotações e, como sempre, fiquei me sentindo eternamente em débito pelo pacotão de coisas interessantes que sempre fica aqui comigo depois que ele sai pelo portão.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Cegonha


Ninguém sabe a hora exata, mas no último domingo, 21 de setembro - o dia da árvore! - chegaram no bico da cegonha os bebês sabiá que a gente tanto esperava. Mudamos os hábitos de entrada e saída aqui de casa por causa deles; uma porta foi interditada, uma cortina foi improvisada e até silêncio a gente faz pra não assustar essa familiazinha.

As cascas dos ovos sumiram (mamãe gosta da casa limpinha) e no lugar deles agora crescem essas duas criaturinhas magrelas e ossudas, de penacho nas costas e grandes olhos pretos saltados e ainda fechados.

Ontem eu e D. Sabioca fizemos um trato: todos os dias às 8:30 da manhã ela dá uma saidinha pra esticar as asas e eu rapidinho faço fotos pra registrar o desenvolvimento das crianças. Aí em cima vai a imagem das primeiras 24 horas vencidas, e quando tiver um álbum bem recheado volto para mostrar e deixo todo mundo folhear.

Veja aqui o começo dessa história.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Interditado. Favor usar a outra porta


Interdita-se rua no dia da feira, pra passagem do bloco de carnaval, remendo no asfalto, poda de árvore, reparos na fiação elétrica, troca de lâmpada do poste, quando o piano vai subir pela janela, o viaduto vai ser demolido, quando vai ter show, desfile cívico, corrida de rua, passeata, quando houve acidente de carro, quando vai passar autoridade…

Evento importante é mais do que justificativa e não tem discussão. Portanto, já que Sabioca escolheu meu vaso de samambaia pluma pra produção da filharada da primavera, foi interditada a porta sul desta residência.

Desde segunda-feira dia 8 de setembro a entrada é só dela, já que não conseguiu conviver conosco cruzando pra lá e pra cá pela porta. Durante a confecção do ninho passávamos de fininho, tentando mostrar a ela que suas instalações eram muito bem vindas assim tão próximo das nossas, mas não teve jeito. A moça se estressava e abandonava a obra cada vez que um de nós punha a mão na maçaneta. A escolha do local deve ter sido feita num final de semana, quando quase ninguém entrou nem saiu, mas bastou amanhecer o primeiro dia útil da semana pro ambiente se mostrar menos sossegado do que ela imaginava.

Mas tudo bem, por sorte dela temos outras duas opções de passagem e somos verdadeiros entusiastas da convivência pacífica e harmoniosa entre todos os seres, então passou-se a chave na fechadura e pronto. Só que mãe em período de "gestação"... sabe como é. Mesmo nosso trânsito dentro de casa a assustava, então foi necessária mais uma providência:


Um quadrado de tecido foi pendurado fazendo as vezes de cortina e separando a vida dela da nossa. Uma pena. Agora tenho monitorado à distância os acontecimentos do ninho, e vez ou outra vejo pelo quintal que ela saiu pra se alimentar, então subo num banquinho e espio lá dentro. Por enquanto, só ovos. Dizem os entendidos que são 13 os dias de choca. A conferir, no 20 de setembro.


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Primeiros voos


Quatro semanas de Rolinha sob meus cuidados, e depois dos aprendizados de comer papinha na seringa, bicar grãos e quirera e beber água, estamos na fase mais difícil.
Como é que um ser humano ensina uma ave a voar?

O instinto começou a dar nela as primeiras cutucadas, e assim que saía da gaiola para um passeio no escritório a criança era tomada por uma vontade incontrolável de bater as asinhas. Como um helicóptero aquecendo os motores, Rolinha começava a fazer vento em cima da mesa e espalhar a papelada toda no chão. Era bonitinho de ver.

Pra mim essa foi a dica de que estava na hora de começar a estimular pequenos voos. Infelizmente (muito infelizmente!) não tenho condições técnicas de sair voando na frente, então restou chamá-la pra vir nas mãos da mamãe.




terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Do dedo para o pauzinho foi um pulo


Depois que as primeiras dificuldades foram resolvidas e a vida entrou no eixos, percebi que estava começando a fase de aprendizagens, então algumas coisas precisavam ser estimuladas para que um dia ela possa viver solta com as outras rolinhas. Resolvi comprar uma gaiola, porque o engradado de plástico é muito fechado e é importante tomar sol. Além disso uma gaiola é mais segura numa casa com gatos e cachorros, e é mais fácil de pendurar nas árvores.

Outra coisa que me fez decidir pela compra foi a questão dos poleiros. Na caixa ela só andava no plano, sobre o jornal, e precisava aprender a se segurar em galhos. Esse treino começou ainda dentro do escritório, quando ela tomava sol na minha mesa num fim de tarde, andando em volta do computador, e agarrou meu dedo com as patinhas.


Logo substituí o dedo pro um lápis de galho e, de tão natural que ela ficou, saquei que era mesmo preciso começar com a oferecer poleiros.


Com a moça em franco desenvolvimento (e por falta de espaço na gaiola) parei com o abajur, mas meu coração de mãe não teve coragem de desligar o calorzinho por completo, então ainda passei algumas noites deixando um tapetinho elétrico ligado embaixo da gaiola. É como uma lâmpada de 50 watts, está escrito nele. Poderia ter sido uma bolsa de água quente, mas o tapetinho estava à mão, então foi assim.

Nesse tempo as peninhas foram ficando cada vez mais penteadas e eu tive a impressão de que já não era mais preciso aquecê-la de noite, então agora só embrulho a gaiola com o cobertor, deixando aberto um lado quase todo.

Quanto à comida, segui as indicações do moço da loja agropecuária e continuei com a papinha na seringa, mas passei a deixar o comedor da gaiola com quirera e grãos variados e um copinho com água, assim logo ela começa a descobrir que tem novidade à disposição. Mas gostoso mesmo ainda é a comidinha da mamãe...


domingo, 26 de janeiro de 2014

Aprendendo a comer e descobrindo a lâmpada


Rolinha foi instalada no escritório - o único lugar da casa livre de gatos - dentro de um engradado de plástico com tampa de tela, e eu fui para o Google, pesquisar como alimentá-la. Santo Google, que tudo sabe, me ensinou que naquela hora, sexta de noite, eu poderia improvisar uma papinha com fubá e água e dar para ela numa seringa de quatro em quatro horas (menos de noite). Ensinou também que os filhotes de rolinha, diferente dos filhotes das outras espécies de aves, não abrem o bico quando a mãe chega de volta ao ninho, por isso é preciso dar uma "forçadinha" com a ponta da seringa até que eles abram as portas pro aviãozinho entrar.

O que não consegui descobrir na internet foi a densidade certa da papinha de fubá, e acabei preparando uma sopinha amarela que no primeiro dia quebrou um galho. Só que no sábado a tarde Rolinha parou de fazer cocô, e isso não é bom sinal em ser vivo nenhum. Daí fiquei com medo de tê-la entupido com o fubá denso demais e fiz duas rodadas de água pura. Também virei o bichinho de bumbum pra cima e descobri uma rolha verde entalada metade pra dentro metade pra fora. Hora de trocar a fralda.

O domingo foi um pouco tenso. Dei sopinha de fubá, água de novo, e pelo menos vi algum cocô no jornal da caixa. Só que era uma coisa muito líquida, uma água verde folha, parecia tinta, bem estranho. E Rolinha cabisbaixa, amuada no cantinho. Na segunda-feira ela amanheceu fria, tremendo, parecia que ia congelar. Corri numa loja agropecuária e voltei não só com a comida certa (ração para pássaro filhote) mas com a proporção de preparo da papinha: uma parte do pozinho amarelo para duas partes de água. Santo Google falhou nesse ponto. Isso dá uma pomada grossa que eu duvidei que entraria na seringa, e diante dela acabei descobrindo que por dois dias lavei a rolinha por dentro com muita água pra pouco fubá, por isso ela não estava bem. Também pode ter sido o ferro e o ácido fólico do fubá de gente, não sei.


Mas aí tudo mudou, porque comida certa é tudo na vida. Na manhã de terça-feira encontrei uma mocinha bem disposta passeando pela caixa e se acocorando perto da cúpula do abajur que ganhou, porque "eu não sou boba não e sei que aqui é mais quentinho". O abajur tem a haste flexível e eu apontei a cúpula para baixo, senão ficaria longe dela e nem caberia dentro da caixa. O escritório parecia um forno, com aquela luz ligada o dia inteiro, mas ela estava achando bom bem perto da lâmpada, então ficou assim.

Lá pela segunda ou terceira noite de abajur ligado me toquei que o escuro é fundamental para descansar, porque pelo menos na gente existe um hormônio do sono que só é liberado quando todas as luzes se apagam, e talvez ela ficasse estressada não tendo noite nunca. Passei então a desligar o abajur quando o sol se punha e a embrulhar a caixa com um cobertor grosso, com medo que ela voltasse a tremer de noite. De manhã desembrulhava a caixa e ligava a luz outra vez.

Com o passar da semana nós duas fomos aprendendo - eu a ser mãe de ave e ela a ser filha de gente. As horas da comida ficaram cada vez mais fáceis: uma seringa de 3 ml que antes demorávamos quarenta minutos pra esvaziar passamos a dar conta em dez, e lá pra quinta ou sexta-feira ela até já abria o bico quando eu chegava perto com a papinha - novidade no mundo das rolinhas. Comia quatro vezes por dia, tomava um pouco de sol da manhã diariamente em cima da mesa do quintal e passava o resto do dia ao lado do abajur ligado. Apesar dos trinta e poucos graus que fazia no sítio a figurinha queria tanto calor que aprendeu a entrar dentro da cúpula pra ficar bem perto da lâmpada. E eu deixei, porque ela estava ali de livre e espontânea vontade e sabia sair, que eu vi.


Continua.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Voltando, e com bebê a tiracolo


Ando recebendo e-mails de leitores querendo saber por onde ando, o que me deixa muito lisonjeada, e dia desses também a querida Carol, do Minhas Plantas, me disse que anda com saudades de mim mas entra no De Verde Casa e só encontra uma lagarta velha de um post do ano passado. "Ju, você não posta mais?"

Sempre explico pra ela (e já repeti mil vezes, coitada), que ando vivendo a angústia de trabalhar nas mudas de árvores pensando que deveria estar no computador, e de trabalhar no computador angustiada por não estar nas mudas. O blog então…

É unanimidade na região que falta mão de obra, e nem precisa ser da especializada, não. Faltam todas, falta qualquer uma. Uns dizem que são os bolsa isso, bolsa aquilo que fazem as pessoas se acomodarem porque já estão ganhando o suficiente para viver. Outros dizem que quem trabalhava no campo foi para o ar condicionado das indústrias e não quer mais pegar pesado sob sol forte. A explicação certa não sei, o fato é que eu, que nunca escolhi trabalho - nem mesmo quando me mudei para a roça -, ando fazendo de tudo para tapar buracos. Até literalmente, quando ando por aí de enxada na mão movimentando terra.

O resultado é que a horta, as experiências ecológicas e a poesia de fotografar a vida em pequenos detalhes ficam para depois, porque o caminhão de substrato atolou na hora de sair do sítio, o flamboyant está quase desabando na casa do funcionário e o homem da motosserra não pode vir antes da chuva, o cano de irrigação do viveiro estourou na hora de desatolar o caminhão, o mecânico não vai mais entregar o carro hoje e… a Cuca pegou uma rolinha que acabou de cair do ninho!

A captura aconteceu quando eu estava quase saindo, com hora marcada, e é sempre assim. Sorte que a cachorra pega de levinho, acho que pra brincar um pouco com o bicho vivo antes de comer. Como aconteceu bem na minha frente, deu tempo de agarrá-la, abrir o focinho à força e salvar a rolinha criança, toda descabelada e molhada de cuspe. Para eu poder sair, a bichinha foi colocada dentro de uma caixa de transporte de gatos, que era a embalagem arejada mais segura que eu tinha, e passou o dia ali ao lado de quirera e um potinho com água, sem saber para que eles servem. Nem um grãozinho foi bicado, nada de água sumiu dali. Várias vezes durante a tarde fui até ela dar olhadinhas rápidas, pensando "mais um que vai morrer na minha mão".

Já salvei inúmeros passarinhos das mais diferentes situações de risco e a maior parte deles morreu. Os sobreviventes foram os que não tinham se machucado nada, encontrados no chão só em choque, com os olhos parados, sem piscar, mas inteiros e respirando bem. Esses, depois de uns minutinhos de uma topada leve no vidro da janela, por exemplo, logo "acordam" do choque e saem voando. Os que batem forte na janela (assunto para um post, um dia) ou passam um minuto na boca dos cachorros ou dos gatos, esses não têm chance. Sempre morrem, por mais que eu me dedique nos cuidados.

Mas dessa vez Rolinha chegou ao fim do dia viva, inteira, respirando bem e me olhando com reservas de lá do fundo da caixa de gatos. O que fazer? Era um filhote, sem dúvidas, e eu não tinha a menor ideia de como cuidar daquele bichinho. Sempre fui dos peludos, não dos penosos, só que dali em diante éramos eu e ela.

Continua.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sobre ovos (não os de Páscoa)

O menorzinho deve ser de Bico-de-Lacre (Estrilda astrild), e o maior é de galinha,
só como referência de tamanho

Quando era criança eu achava lindo ter coleção de alguma coisa. Muitas das minhas amigas colecionavam bichinhos de pelúcia e perfumes (as que já se achavam muito adolescentes), mas como nunca gostei de nada disso tentei colecionar selos, papeis de carta, canetinhas coloridas e outras coisinhas de menina.

Nenhuma das coleções foi pra frente, provavelmente porque eu ainda não sabia o mais importante: não basta achar bonito colecionar, é fundamental gostar do que se está colecionando. Você pode até não saber porque gosta, mas gosta muito.

Isso eu descobri há pouco tempo, quando comecei a juntar casquinhas de ovos de passarinho (e ninhos, mas fica para um outro post). No início nem pensei em colecionar, e acho que é assim que se começa de verdade. Eu pegava pra mim simplesmente porque não conseguia não pegar; achava bonito, curioso, interessante. Quando me dei conta já precisava de uma caixa para guardar minhas casquinhas, e depois de uma caixa um pouco maior, e assim foi indo. Hoje é oficial e já posso espalhar por ai: eu coleciono ovos de passarinho.


Desde o início da primavera minha coleção tem aumentado bastante. Andando pelo sítio encontrei ovos inteiros caídos do ninho, pedaços de casquinhas quebrados - alguns com jeito de acidente, outros de nascimento -, ninhos inteiros no chão com ovos recém postos já abandonados e até passarinhos recém-nascidos mortos ou agonizantes. É que bem na época de postura acontecem também as grandes tempestades, que frequentemente destroem até os ninhos mais caprichados.

Diversas vezes lamentei os ovos que não vingaram, os ninhos desmanchados pela água e os passarinhos encontrados mortos. Nas vezes em que encontrei filhotes no chão, sem ninho por perto, tentei salvá-los mas nunca consegui. E assim aprendi que é ingenuidade minha achar que todos os que nascem devem viver.

Observando todo esse movimento de nasce e morre percebi que a natureza funciona com uma perda já contabilizada, que provavelmente existe para mantê-la em equilíbrio. Quero dizer que aves produzem ovos e filhotes muitas vezes apenas para alimentar seus predadores. É comum na vida de um casal botar seus ovos, cuidar deles por alguns dias e depois perdê-los para um gambá ou uma cobra. Também acontece de criarem seus filhotes por apenas algumas semanas e perdê-los para um gato (doméstico ou selvagem) ou simplesmente para o vento, que derruba o ninho deixando os pequenos morrerem no chão.

O mesmo acontece com as ninhadas de todas as outras espécies e também acontecia com os seres humanos antes de inventarem incubadoras e UTIs. Era "normal" na história das mulheres de antigamente perder bebês ainda na barriga ou logo depois do nascimento. Ou mesmo já crescidinhos. Partos davam errado, bebês adoeciam com gravidade, crianças morriam afogadas brincando no rio e em um número muito maior de acidentes do que acontece atualmente.

Hoje a tecnologia e a precaução nos protegem e muitas vezes nos salvam, mas a natureza ainda funciona no seu ritmo e segundo sua própria lógica. Um ninho mal construído num mês de muitas chuvas fatalmente não suportará seus ovos, e assim os bichos do chão terão o que comer. Um passarinho que se agite demais no ninho antes de estar apto a voar fatalmente cairá lá do alto, servindo de alimento a alguém.

Muitas vezes ainda tento evitar, mas o que tem que ser sempre é. Aqui, outro dia, Herr Otto observava concentrado um regador vazio.


Lá dentro encontrei um micro ser todo molhado, provavelmente um filhote de rolinha. Mas o que um filhote de rolinha faz dentro de um regador?



Só a natureza pode responder. Não havia ninho por perto e eu ainda tentei salvá-lo, mas como os outros "suicidas" que resgatei ele acabou morrendo depois de alguns dias internado. Teria morrido de qualquer maneira, na boca de um cachorro, gato ou lagarto daqui.


Resta entender que tudo tem seu ciclo e colecionar as embalagens, aproveitando pra aprender com elas. É fácil reconhecer um ovo de onde não nasceu ninguém. As partes quebradas normalmente são pequenas ou grandes demais, e as bordas e rachaduras são irregulares. O ovo pode ter quebrado ao cair no chão ou ter sido bicado por outra ave. Sim, existem aves que comem aves e seus ovos.


A casca que sobra quando nasce um passarinho tem nas bordas um corte regular feito pela serrinha que os filhotes têm sobre o bico. A gente nitidamente percebe que aquilo foi feito por alguém, não é uma casca quebrado ao acaso.



Minha última aquisição foi um ovo de anu-branco. Na verdade foi um presente do vizinho produtor de gérberas, que divide comigo a curtição por aves. É o ovo mais curioso que tenho até agora, pela coloração verde-azulada e pelo relevo branco feito de cálcio. Ele encontrou o ovo caído no chão e me trouxe de presente, sugerindo que eu fizesse um furinho em cada ponta e assoprasse um deles, para expulsar pelo outro a clara e a gema. É assim que se esvazia um ovo quando se quer guardar a casca inteira.

Confesso que senti uma sensação esquisita de pensar que poderia ter um começo de passarinho ali dentro, mas depois de olhar bastante o ovo contra uma lanterna forte cheguei à conclusão de que ainda não estava chocado. Lá dentro só consegui ver uma mancha escura parecida com gema, então tomei coragem e assoprei. Valeu a pena. Depois de bem enxaguado e seco no sol sobrou a casca inteirinha, figurinha carimbada na minha coleção.


E como um bônus ainda descobri, pesquisando no Wikiaves, que o anu-branco (Guira guira) é essencialmente carnívoro e se alimenta de gafanhotos, percevejos, aranhas e lagartas peludas e urticantes. Virou pet, minha ave de estimação.

Anu-branco - Foto de Luiz Felipe R. Valentini

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Novidades gastronômicas


Em tempos de gastronomia globalizada, pica-pau chega de mansinho e vem comer quirera na mesa dos canários amarelos. Pode?

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Gratidão


O De Verde Casa ainda não voltou oficialmente das férias, mas foi irresistível passar por aqui para mostrar uma descoberta emocionante: a primeira ninhada de passarinhos de uma área reflorestada por nós, em 2011, na região de Campinas.

É lindo encontrar um ninho de coleirinho (Sporophila sp.) numa árvorezinha de pouco mais de 1 metro que foi plantada e cuidada pelas suas próprias mãos. É assim que a natureza agradece por um projeto de reflorestamento.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Mãe é quem cria

Ninho de tico-tico com dois ovos de chupim, em cima à direita e embaixo à esquerda

Basta começar a primavera e a gente logo nota a passarada mais animada por aí. Sabiás começam a cantar ainda antes do amanhecer, bem-te-vis se anunciam aos berros, espécies migratórias voltam para essas bandas e a turma toda se põe a fazer ninho.

Chegam outubro e novembro e é hora de ver a primeira geração de crianças tomando coragem para bater as asas, praticando voos curtos acompanhados pela mãe e ainda ganhando comida na boca. São crianças como todas as outras: fazem cara de coitadas e choram alto, tentando chamar a atenção e pedindo mais e mais comida. É fácil indentificar de longe um bebezão desses. Eles ficam parados minutos a fio no mesmo lugar, chamando, chamando, e quando a mãe vem com o lanchinho eles choram ainda mais alto e se tremelicam todos. É um pio meio chorado, mesmo. O canto só vem mais tarde, quando se tornam adultos. E enquanto eles piam e esperam, a mãe voa feito louca pra cima e pra baixo atrás de comida para o rebento. Mãe é mãe.

E o instinto materno vai além, superando diferenças, preconceitos e julgamentos. O melhor exemplo disso é a maneira como diversas espécies de aves fazem boa parte do trabalho de reprodução do chupim (Molothrus bonariensis), ave considerada parasita porque não constrói ninho e nunca cuida dos seus próprios ovos. Após o acasalamento, a fêmea chupim segue fêmeas de outras espécies que estejam preparando seus ninhos e põe de 4 a 5 ovos, um no ninho de cada uma. Esses ovos eclodem após um período normalmente mais curto que o dos outros ovos do ninho (mérito da mãe, que escolhe ninhos de espécies com incubação mais longa) e os bebês chupim, assim que nascem, costumam empurrá-los para fora, eliminando seus "irmãos".

Mas para a mãe dona do ninho, nasceu na casa dela, é filho. Então começa a fase de cuidar de alguém muitas vezes bem maior que ela e com características completamente diferentes das suas. É o filho adotivo. Mas não importa se é de barriga, de ovo ou de coração. Mãe é mãe, filho é filho e cada um faz direitinho o seu papel.

Nas diversas casas onde já morei sempre vi mães tico-tico adotivas, mas a literatura especializada da conta do registro de mais de 50 espécies de aves criando filhos chupim. É por isso que você provavelmente já ouviu usarem a expressão chupim em referência a alguém folgado, que se aproveita dos outros. Taí a explicação. E o livro Aves Brasileiras e Plantas que as Atraem, de Johan e Christian Dalgas Frisch, conta que há uma lenda da tribo guarani que diz que, em certa época, os gaviões e falcões da alta estirpe lutavam contra outras espécies, entre elas os urubus, para conquistar a supremacia das aves. Vencida a batalha, seguiram-se cenas vandálicas, e junto com as depredações praticadas queimaram a casa do chupim, que escapou da morte porém queimou-se muito, ficando com sua bela plumagem enegrecida. Os chupins, com medo de futuros incêndios, nunca mais fizeram ninhos.

Seja lá qual for a explicação, o fato é que, entre pessoas, aves e outros diversos animais, mãe é quem cria. Veja as adoções do meu quintal:

...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Barulho na vizinhança

Quando ainda morava em São Paulo, costumava ser acordada de madrugada por um canto melodioso. Sabiá laranjeira (Turdus rufiventris) era o nome dele.
Sem noção de horário nem adequação, essa figura gosta de começar o dia bem cedinho, ainda no escuro, assoviando um inconfundível turi-turu-turi-turu-turi-turu...tu-tu (por favor, me dê um desconto, porque descrever canto de pássaro não é lá muito fácil).

Sabiá laranjeira

Quando me mudei para a "roça", descobri que tem gente que gosta de cantar ainda mais cedo do que ele, com mais empolgação, mais volume e, para acordar mesmo toda a vizinhança, canta em grupo!

No início não foi muito fácil descobrir quem era porque nunca tinha ouvido aquilo e, meio dormindo, não via nada no escuro nem conseguia memorizar aquele canto de muitas vozes misturadas. De um vizinho ouvi que deveria ser siriema, mas essa eu já conhecia, já tinha ouvido cantar, então sabia que era diferente.

Mas num final de tarde, enquanto trabalhava sozinha na horta em silêncio quase absoluto, tomei um susto quando toda aquela turma da madrugada começou a cantar de uma só vez, em altíssimo e bom som. Era como se um maestro tivesse dito "um, dois e... já!". Parecia Parabéns pra você em festa surpresa.
Pé ante pé, acabei descobrindo diversas Saracura-três-potes (Aramides cajanea) no meio da matinha, andando sob as mesas de plantio do viveiro.

Saracura-três-potes

Elas são lindas, parecem pequenas galinhas pernaltas e de rabinho para cima. O dorso é cinza esverdeado, a barriga é preta, as pernas são vermelhas, o peito é laranja, a cabeça é azul e o bico mistura amarelo na base e verde claro na ponta. Coloridas demais!

Casal de Saracura-três-potes

Até correr para casa e voltar com a câmera, perdi o grupo todo junto, mas consegui registrar imagens suficientes para comparar com as ilustrações do livro Aves brasileiras e plantas que as atraem, de Johan Dalgas Frisch e Christian Dalgas Frisch, e descobrir de quem se tratava.
São mais ouvidas do que vistas, cantam no início e no final do dia e gostam de andar em áreas brejosas e de vegetação densa. O canto é um dueto entre os membros de um par e, às vezes, em coro com vizinhos, dizendo "três potes, um coco, um coco.
Eu não concordo com essa "tradução", mas também não vou me arriscar (de novo!) com onomatopaicas. Para saber mais e ouvir o canto das Saracuras-três-potes, acesse o Wikiaves, site imperdível para quem gosta daqueles que voam.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Dias de 8 e de 80

Tem dias em que a gente acorda com o pé esquerdo e, para piorar, um doido fala grosserias no telefone, um cliente em potencial só pede o que a gente não tem e o caminhão de entrega atola no barro. Mas...


... a natureza é sempre capaz de nos recompensar com uma surpresa deliciosa, daquelas com poder de fazer tudo melhorar.
Hoje, pela primeira vez, ganhei a visita de um casal de Canário-da-terra-verdadeiros, os Sicalis flaveola. Vieram comer a quirera de milho e o mix de sementes que ponho no jardim, em frente à janela da cozinha.
Já vinha recebendo a visita de um só, sempre na hora do almoço, mas hoje deve ter rolado um convite daqueles de namorado, do tipo "vou te levar pra comer num lugar super legal", e quem ganhou o presente fui eu. Resta torcer para que gostem do cardápio, do sítio, e aproveitem a época para começar uma grande família.


PS: os antigos moradores de Holambra contam que em outros tempos via-se canários amarelos aos montes por aqui, mas a captura para criação em gaiolas e principalmente os agrotóxicos usados nas lavouras foram os grandes responsáveis por quase acabar com eles na região. É a história que sempre se repete: algumas espécies sendo prejudicadas em benefício de outras.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Marianinha - Streptosolen jamesonii


Estamos em plena época de floração da Marianinha (Streptosolen jamesonii). É agora, entre o outono e o inverno, que a planta abre seus inúmeros buquês de flores em tons que variam do amarelo ao laranja escuro, e o efeito ornamental é incrível. A florada acontece sempre em profusão e chama a atenção de longe.

A Marianinha é um arbusto de até 1,50 m de altura, perfeito para enfeitar muros e cercas. Não se prende sozinho, como uma trepadeira, mas seus ramos são maleáveis e aceitam muito bem a condução pelas hastes de uma grade, por exemplo.
Deve ser plantada em terra bem adubada com esterco ou húmus de minhoca, em áreas de pleno sol, e irrigada em intervalos de três a quatro dias, principalmente depois do plantio e em épocas de muito calor. Depois de bem adaptada no local definitivo, apresenta boa tolerância a períodos de seca e volta a ter muito vigor quando recomeçam as chuvas (ou regas). Também se desenvolve bem plantada em vasos.

E como se não bastasse o incrível efeito ornamental, a Marianinha também atrai beija-flores


e insetos polinizadores aos montes.

 

É o tipo de planta apaixonante; quem tem adora e está sempre encantado com a biodiversidade ao seu redor.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Upcycle parte II - Faça sua parte e ganhe sua recompensa

Este post já estava mais do que planejado e eu enrolando.
O plano era fotografar mais uma ideia de upcycle e, com sorte, alguns de seus beneficiados, quando acabou acontecendo uma surpresa das boas.

A upcyclagem é de uma antiga grade de ventilador que virou comedor de pássaros; ótima ideia porque, melhor que um prato convencional, a grade deixa a chuva passar mantendo as frutas sempre secas, ao invés de mergulhadas na água.
Três ou quatro arames unidos pelas pontas de cima são o suficiente para manter a traquitana pendurada e pronto, é só abastecer com frutas e, se quiser, um pratinho fundo com água para incrementar a refeição.


Procure um local sombreado e instale o seu. Vale parapeito de janela de apartamento, uma aba de telhado ou, claro, os galhos de uma árvore no quintal ou na calçada.
Se o melhor lugar para pendurar seu comedor foi muito alto, lance mão de roldanas e instale-o como um varal, que sobe e desce.
Dentro de alguns dias a turminha começa a perder a desconfiança e se entrega às delícias, é batata. Ou melhor, frutas.
Se você se distraiu e a banana pretejou ou o mamão começou a amolecer demais, ainda da para aproveitá-los e alimentar a passarada. Laranja e abacate também são ótimas opções.
Mesmo que você more em uma cidade grande e movimentada, sabiás, bem-te-vis e sanhaços azuis serão visitas frequentes na sua janela, acredite.

Sanhaço-azul ou Sanhaço-cinzento - Thraupis [sayaca] sayaca

Mas eis que, às 10:40 da manhã, quando eu ainda nem estava de câmera em punho, vem A visita especial se alimentar no "ventilador":

Tucano de bico verde - Ramphastos [dicolorus] dicolorus

Foi um tal de sair correndo que quase não deu. Mas deu. Na verdade era um casal e eu não consegui registrar os dois juntos, mas esse simpático da foto passou um tempo alternando grandes bicadas nas frutas com olhares para mim, desconfiado como todas as aves mas bem à vontade. São 48 cm de lindas penas coloridas e brilhantes em plena Granja Viana, a 14 km do centro de São Paulo.

Receber uma visita dessas no quintal é emocionante a ponto de fazer o coração disparar. A mamma, dona do point, conta de outros ilustres visitantes do "comedor de ventilador" que já fizeram seu sangue correr mais rápido. Em determinadas épocas do ano são bastante frequentes diversas espécies de papagaios grandes e pequenos, saguis e até o Jacu de barriga castanha - Penelope [jacucaca] ochrogaster já apareceu para comer frutas. Uma ave enorme, 77 cm do bico à ponta da cauda, quase do tamanho de um peru. 

Definitivamente, só deixa de aproveitar as partes de um antigo ventilador estragado quem não gosta de grandes emoções.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Plena época de ipês cor de rosa

Por acaso, andando por aí nas últimas semanas, você chegou a reparar num show de cor de rosa pelas ruas?
Sim, porque posso apostar que, se você mora no Brasil, sua cidade abriga pelo menos um ipê rosa. Portanto, se você ainda não percebeu nada, pare de olhar só para baixo e preste atenção ao seu redor.
Estamos em plena época de floração dos ipês cor de rosa, e as quatro espécies desta linda árvore têm dado espetáculo.
Tabebuia pentaphylla, Tabebuia avellanedae, Tabebuia heptaphylla e Tabebuia impetiginosa são os nomes científicos dos ipês cor de rosa mais encontrados por todo o país, mas se você não está interessado em idenficação de espécies e olha apenas com olhos de admirar, aproveite, porque a hora é agora: eles florescem entre o final do outono e o início do inverno.

Aqui no sítio a floração durou três semanas e está quase acabando, mas passar alguns momentos embaixo das árvores ainda é uma oportunidade de curtir beija-flores se alimentando de néctar aos montes, sem falar na chuva de flores, noite e dia, até que todas caiam. É gostoso ouvir o ploc quando batem no chão e ver que já esconderam o gramado, formando um tapete que dá pena de pisar.

E quando todo o colorido tiver acabado, as árvores estarão praticamente peladas, inclusive sem as folhas. Isso acontece porque os ipês são árvores decíduas, também chamadas de caducas ou caducifólias, ou seja, perdem todas as folhas uma vez por ano. 

Depois da florada vem a fase a reprodutiva: você verá nascerem, penduradas nos galhos, vagens compridas que, quando secas, se abrirão para entregar ao vento a tarefa de espalhar por aí as finíssimas sementes aladas (sementes com abas feitas de uma pele muito fininha que, no sopro do vento, as faz voar).
Depois disso, lá pelo mês de setembro, tudo começa outra vez. De uma hora pra outra, quando você se der conta, os ipês cor de rosa estarão repletos de folhas de novo. Quando tiver oportunidade de chegar perto de uma dessas árvores, repare que suas folhas são compostas palmadas, como as da foto abaixo, formadas por folíolos (de 5 a 7), e têm o formato de uma mão com os dedos abertos.


Então seja bem vindo ao mundo dos ipês.
E fique ligado porque logo vem mais. Em seguida aos ipês cor de rosa florescem os ipês amarelos, e depois deles vêm os brancos, que quem bobear perde: a florada dura só um ou dois dias.
E assim você vai aprendendo a identificar as árvores da sua região e se deliciando com belezas naturais, que muitas vezes estão bem acima das nossas cabeças mas passam despercebidas.
Não perca, numa esquina próxima a você!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Abóboras espontâneas

Algumas coisas às vezes parecem estar esperando apenas que a gente dê uma manivela, como que para colocar engrenagens em movimento, e então elas acontecem por si só, desencadeando uma série de surpresas.
Em novembro do ano passado plantei alguns pés de abóbora que produziram lindos frutos. Desde então venho encontrando pelo sítio outras espécies, nascidas espontaneamente, provavelmente semeadas pelos passarinhos. E o mais bonito é que os locais escolhidos por eles são os que eu jamais teria usado como horta, mas são perfeitos!
Abril já é o quarto mês de abóboras no cardápio, e essas duas das fotos fazem aumentar para sete o número de espécies que já comemos este ano. Três foram responsabilidade minha. Quatro, dos passarinhos.
É mole?


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Família unida e pássaros livres alimentados

Construir um alimentador para pássaros é uma ótima atividade para unir pais e crianças nas férias, principalmente em dias de chuva.
Mais gostoso do que ver besteira na televisão, qualquer recipiente cheio de grãos e frutas é garantia de bons momentos assistindo as visitas da passarada na janela- e isso vale para quem mora em casa ou apartamento lá nas alturas.
Para um alimentador personalizado e com a cara da sua família, experimente improvisar com aquele prato antigo de louça que sobrou sozinho, um prato de plástico para vaso, o velho aramado de guardar frutas e legumes na cozinha (os de três andares então, melhor ainda!)... Ou proponha que cada criança use a criatividade e construa algo a partir de uma casca de coco, por exemplo.

Para este da foto, usei apenas:
- a casca de um coco seco
- barbante
- um graveto achado no chão

As ferramentas (pais, monitoramento e ajuda nessa hora):
- tesoura
- serrinha ou serrote
- furadeira
- broca para madeira da grossura do barbante

Basta cortar o coco e fazer os furos para o barbante de pendurar e para o graveto, que servirá como poleiro. Onde e como, cada um escolhe. O importante é inventar, se virar e se divertir.

E na hora de abastecer o comedor com guloseimas, quanto mais variado melhor, para atender as preferências das diversas espécies que vivem nas redondezas.
Entre as frutas, mamão, banana e laranja são apostas certeiras, mas não deixe de tentar outras também.
Para acertar nos grãos e sementes, uma boa opção é comprar uma mistura pronta para pássaros, fácil de encontrar em qualquer pet shop perto de casa. A ela, também pode-se adicionar flocos de aveia e arroz cozido sem tempero.

Nos primeiros dias, os pássaros, criaturas curiosas porém desconfiadas, provavelmente não vão se aproximar, mas estimule as crianças a manter o alimentador sempre abastecido, porque na hora em que a turma menos esperar... lá estarão eles, e aí é só curtição!
Se for possível, instale também um recipiente para oferecer água sempre limpa e fresca. Os pássaros de cidade muitas vezes tem dificuldades de encontrar água para beber.
E não tenha receio de receber visita de pombos, essa espécie de ave não gosta de frutas. Se por acaso eles aparecerem, foram atraídos pelas sementes e pelo arroz, então é só suspender a oferta desses alimentos. Mas não deixe de tentar oferecê-los; todos vão se surpreender com a variedade de pequenos pássaros granívoros que sempre estiveram por perto mas nunca foram vistos.

E para fazer a atividade render ainda mais, façam juntos um diário das espécies que foram se alimentar na janela, com anotações de dia e horário de cada visita. Mesmo sem saber nomes, é possível anotar uma descrição física do pássaro e até fazer um desenho, de preferência colorido.
Tudo isso depois vira, se não material de pesquisa, histórias de família para lembrar e contar.

sábado, 2 de julho de 2011

Improviso

Tá certo que preguinhos no muro não são os itens de segurança mais bonitos pra você ter em casa, mas olha pra que eles também servem: