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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Carnaval no jardim

Flores, Arthur (que nem veio pra almoçar mas não resistiu, Marcos e Neide)

No domingo, repetindo pela terceira vez o que eu já chamo de tradição desde a segunda, nos encontramos Neide, Marcos, Flores e eu para ao menos um dia juntos durante o carnaval. Nos anos anteriores fomos ao sítio deles carregados de plantas para enriquecer a diversidade por lá - plantas são o nosso assunto. Desta vez eles vieram a Holambra, no nosso sítio, carregados de comidinhas, folhas e flores secas para chá, frutinhas para sobremesa, maracujá para semear… comidas são o assunto deles.

Não houve muito planejamento, mas eu e Neide trocamos por celular algumas mensagens sobre fazer macarrão caseiro colorido. Minha irmã Mari, a Mariana Valentini da Brodo Rosticceria, fez lindas gravatinhas coloridas para o carnaval que eu só vi pelo Instagram mas que me inspiraram bastante. Comer é uma delícia, e comer comida bonita é melhor ainda. Em boa companhia então…

Pois ficou combinado que almoçaríamos massa. A Neide, sempre muito prática e animada, ofereceu de trazer a máquina e flores azuis de Clitoria ternatea para testarmos a cor na comida. Eu botei na roda a primeira moranga colhida este ano no jardim e beterrabas, assim teríamos três cores no prato.


Só que das caixas vindas da cozinha do blog Come-se saíram muito mais do que ingredientes para chás e macarronada. Veio uma tigelona de coxas de frango para os que comem carne, uma boa fatia de melancia, um punhado de siriguelas, maracujás de duas espécies para sucos e mudas, uma metade de limão siciliano que só hoje encontrei esquecida na geladeira… É interessante como para quem trabalha com comida é tudo muito simples. Rapidinho junta-se uma coisa com outra com outra e com outra e vai a assadeira cheia para o forno. O processador de alimentos (que também veio na mala) em um instante transforma tomate fresco com melancia e temperos em um delicioso gazpacho pra comer como entrada. E enquanto eu fico pensando se é melhor juntar dois disso com três daquilo ou ao contrário, a Neide já bateu a massa de abóbora e eu nem vi como ela fez.

O gazpacho ficou delicioso. Acho que
quero ter um processador de alimentos...

Uns minutos depois já estavam prontas três bolas de massa: a azul clarinha, colorida com flores de Clitoria ternatea; a amarela, feita com abóbora moranga e uma roxinha linda, de beterraba. O próximo passo era instalar a máquina numa superfície grande pra trabalhar, e a despeito das moscas e dos cachorros de plantão, Neide escolheu montar a traquitana toda lá fora, na grama, sob a sombra da Teca.

No melhor estilo gambiarra, com cadeiras viradas sobre a mesa e um pedaço grande de cano de pvc, foi montado um varal para secar os fettuccines, e num minuto em que deixei a cozinha para ir ao banheiro ouvi risadas e fui chamada às pressas. Corre, vem fotografar! Não sei muito bem como aconteceu, mas em questão de segundos a primeira leva de massa de abóbora escorregou do varal de cano e foi parar na grama, e em mais um piscar de olhos os três cachorros devoraram aquilo tudo.


Depois das melhorias no varal para evitar futuras perdas vieram lindos fettuccines azuis e roxos combinando com a camiseta da cozinheira, e comemos nossa macarronada com molhinhos de manteiga e sálvia e de tomate, junto com as coxas de frango e fatias de abóbora assadas com temperinhos da horta. Isso é que é almoço de domingo!



Marcos, o companheiro que acompanha,
espantava moscas e ajudava na produção da massa





Hoje acordei pensando em contrastes.
A massa foi a Neide que fez e o molho fui eu, com tomates pelados de lata mas quase sem processamento industrial. A manteiga era de pacote mas a sálvia é produção da casa. Os corantes da comida eram totalmente naturais: beterraba, abóbora do quintal e flores da horta da Neide. Comemos na mesa sobre a grama, debaixo de uma árvore bonita, com moscas e cachorros por perto, sem muitos problemas.

Agora pense em alguém que more num apartamento. Pode ser você, pode ser eu, que já fui muito urbana. Essa pessoa acorda lá no alto, décimo segundo, vigésimo quinto andar. Olha pela janela só pra saber se faz sol ou se chove e se enfia rápido numa roupa, café solúvel numa mão, bolacha de pacote na outra. Pega o elevador com o vizinho que nem responde o bom dia e aperta o G3, a garagem mais do alto. Entra no carro, afivela o cinto e logo se entala no trânsito; cinquenta minutos pra chegar ao trabalho. O prédio de escritórios fico no topo de um shopping, daqueles com muitos níveis de garagem. De novo o G3. Estacionamento cheio, vaga apertada, elevador lotado, a mesa tomada de pilhas de papel e um monte de e-mails para responder. Na hora do almoço a praça de alimentação salva: um salgado frito com refrigerante diet, porque não vai dar tempo de almoçar direito. De tarde telefone, computador, reunião no ar condicionado, cafezinho da máquina no copinho plástico, mais computador, mais telefone… Acaba o expediente e o dia termina como começou, só que ao contrário: mesa ainda tomada de papéis e os e-mails a responder, elevador lotado, vaga do carro apertada, fila pra passar pela cancela do estacionamento, uma hora e vinte no trânsito até chegar em casa, G3, elevador com os vizinhos… e chega o momento relax: um banho quente (mas rápido por causa do rodízio de água), pijaminha de malha feito de fio de garrafa PET (sustentável) e um jantarzinho leve (salada hidropônica com nuggets de vegetais e um chá gelado, daqueles de misturar o pozinho na água. Sabor pêssego).

Essa pessoa (eu, você, alguém da sua família) não colocou o pé na Terra! Não digo descalço, na terra terra, aquela que tem minhocas, falo do planeta Terra! O dia inteiro se passou no alto, em andares de cimento. Os deslocamentos foram dentro do carro, as garagens eram elevadas, o almoço foi na praça de alimentação do shopping... Essa criatura não pisou numa calçada que seja, muito menos em um só metro quadrado de grama. Capaz que não tenha reparado no céu, não escutou um pio de pomba e nem comida de verdade comeu. Nem bebida de verdade bebeu! E pelo que me consta não inventei nenhum absurdo, nada que eu, você e seus conhecidos não tenhamos feito muitas e muitas vezes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte…

Antes que você me chame de Pollyanna, deixe-me dizer que não acho que tenhamos todos que nos mudar para ecovilas, plantar nossa própria comida, costurar nossas próprias roupas, vender nossos carros… Adoro dirigir, uso computador todos os dias, tenho pilhas e pilhas de papel sobre a mesa e dezenas de e-mails a responder, mas tenho tentado andar pelo caminho do meio. Planto horta (quando morava em São Paulo plantava em vasos), sento na grama com os cachorros no colo, como comida de verdade feita por mim em oitenta por cento das refeições, boto um tênis e vou correr na rua e tento, diariamente, melhorar minhas escolhas. Já morei em diversos lugares diferentes, já trabalhei com coisas saudáveis e com insalubres também, e a cada dia que passa acho mais importante e prazeroso o contato diário com a Terra. E mais: não conheço ninguém que tenha feito o caminho contrário sem ao menos cultivar um plano de, no futuro, voltar às raízes.

É um caminho sem volta. Quanto mais a gente planta, mais quer plantar. Quanto mais pensa na comida, mais se dedica a fazê-la saudável. Quanto mais põe a mão na terra, senta na grama e corre na rua, mais sente falta disso tudo quando por algum motivo não pode fazer. E tem mais uma coisa bem interessante: a gente começa a se relacionar com pessoas que fazem o mesmo, que pensam igual, que andam pela mesma trilha sem querer voltar pra trás. É o caso da minha amizade com a Neide. Quando eu morava em São Paulo, trabalhava muito perto da casa dela e era um pouco aquela pessoa que não tinha tanto contato com a Terra, a gente não se conhecia. Agora que ficamos amigas, pergunta se eu quero passar um Carnaval sem ela???

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Saindo pra olhar lá fora

Ana Soares, Neide Rigo e Mara Salles
abrindo a aula "O que é que tem de mistura"

Nesse final de semana deixei a vida de sítio pra tomar na veia uma dose de São Paulo, que eu adoro. E apesar de também adorar dirigir em estrada (boa, como a Bandeirantes) ouvindo música no carro, dessa vez tive vontade de ir de ônibus, aproveitando ser levada. Isso tem um pouco clima de filme, acho. A viagem de ônibus, depois o metrô, um taxi pra chegar na casa da Mari, onde fiquei hospedada… Sem falar na economia de dinheiro, de pneu, de combustível, e na curtição de ler em trânsito.

Fui pra assistir aulas no evento Paladar - Cozinha do Brasil. Essa foi a oitava edição e eu nunca tinha ido. Não é o meu ramo mas tem um tanto de coisas interessantes, sem falar no meu motivo principal: aulas da Neide. A Rigo. Do Come-se.

No sábado teve ela junto com a Mara Salles, do Tordesilhas, e a Ana Soares do Mesa 3. Falaram sobre "o que é que tem de mistura", o que vai junto com o arroz e feijão em cada região do Brasil, em cada mesa, em cada família. O termo mistura, que já dá margem a diversas interpretações, mais as memórias afetivas de cada uma - o que a mãe fazia, o que o pai preferia, o que a criança podia, queria e não queria - renderam assunto pra quase duas horas, encerradas solenemente com o privilégio da degustação de tudo o que elas trouxeram para mostrar.

Um tanto de gente tentando se servir
na degustação de misturas

No domingo foi a vez da Neide sozinha (porque ela é espetacular e sobra!) mostrar e falar sobre ervas aromáticas não convencionais. Foi bom demais. Além de interessante a aula foi bonita, porque ela caprichou na apresentação fazendo a bancada de cozinha parecer um balcão de alquimista. Aliás, pareceu não, foi mesmo uma bancada de alquimista, porque ela brincou de acidificar (com limão) uma infusão de flor de feijão borboleta pro líquido ficar lilás, depois voltou o lilás pro azul original misturando bicarbonato de sódio… toda essa química pra mostrar possibilidades de chás e refrescos.

Tinha vidros e frascos de todos os tamanhos acondicionando folhas, flores e frutos, a maioria que a gente nunca nem ouviu falar; e ela falando daquilo com uma intimidade, como se fosse possível encontrar tudo em qualquer esquina. Na verdade quase é, porque muitas das coisas são matos, matos mesmo, desses que nascem em rachadura de calçada em qualquer cidade. A buva, por exemplo, vira um pesto picante delicioso; o picão branco rende um caldinho gostoso que sabe a alcachofra; a erva de santa maria - chamada de epazote no México - pode ser usada no feijão pra diminuir a produção de gases no intestino (o seu intestino, não o do feijão) e o próprio feijão borboleta, que dá o chá azul, parece que agora está na moda nos Estados Unidos, por seus efeitos medicinais. O foco da aula era ervas aromáticas, mas como disse a Neide, praticamente todas as aromáticas também têm efeito medicinal, então usar dá sempre bônus.

E pra não dizer que foi só de ver e ouvir, teve de comer também. Experimentamos mingauzinho de araruta com macassá, pacová - o cardamomo brasileiro - salpicado sobre pedacinhos de abacaxi maduro (espetacular!), refresco de hibisco com gerânio aromático fermentado com kefir de água… vinha um potinho atrás do outro e as pessoas se olhavam com caras maravilhadas, fazendo hums e ohs, curtindo uma novidade atrás da outra.

A Neide e sua bancada de alquimista

Por isso eu adoro fazer cursos. A internet é muito boa, livros são imprescindíveis, mas um bom bate papo ao vivo, ainda mais com demonstração e degustação, têm outro gosto. Literalmente, neste caso. Acho que eu nunca teria experimentado diversas das espécies de "matos" que já li por aí se não fosse num evento assim.

Além disso encontrei as queridas Silvia e Sabrina Jeha, do viveiro Sabor de Fazenda, que não via há tempos, conheci um tanto de gente interessante, combinei de fazer e receber visitas diversas pra conhecer mais lugares novos…

Mudar pro interior é muito bom mas não dá pra ter preguiça de sair pra ver o mundo, senão tudo fica muito pequenininho. Sem falar que São Paulo pode ter todos os piores defeitos do mundo mas também tem muita gente boa, coisa boa, novidade boa...

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Duas amigas queridas, a sálvia e seus usos


A primeira lembrança que tenho de ter comido sálvia (Salvia officinalis) foi num frango com requeijão que a Helô fez no forno. Éramos amigas começando um apartamentinho charmoso, e esse foi um dos pratos que estreou nosso fogão novo. Eu não cozinhava quase nada e ela sabia muito mais coisas do que eu, tanto na cozinha quanto sobre ervas. Nosso jardinzinho interno, debaixo da janela da sala, começou com sálvia, arruda e uma avenca que os gatos insistiam em comer, pra depois vomitar em cima do sofá.

Muito tempo passou e muitas sálvias eu tive, mas apenas pelo prazer de cultivá-las - praticamente nunca mais a usei, nem em preparos culinários, muito menos medicinais. Há anos não como carne (como se a sálvia combinasse só com frango, imagine!) e descobri que já sofri muito daquela síndrome burra que nos faz desprezar as soluções tradicionais caseiras porque o moderno/comprado/industrializado é mais fácil, portanto parece melhor. A gente compra bolo pronto empacotado, pó colorido pra fazer suco e sopa, arroz ensacado em porções pra cozinhar com plástico e tudo… Ah, os tempos modernos...

Pois ontem a Carol, outra querida com quem também já tive o prazer de dividir a casa, falou no programa da rádio que sálvia é tiro e queda pra resfriados, tosse, asma, bronquite e outros "ites". E eu, resfriada há duas semanas como ela e meio estado de São Paulo, chupando pastilha de farmácia com gosto de tinta enquanto vejo crescerem intactas as sálvias do jardim.

Também me senti burra por ter em casa uma estante cheinha de livros sobre ervas e nunca ter pesquisado sobre essa espécie, considerada erva sagrada desde que o mundo é mundo. Sim, a sálvia tem mil propriedades curativas além de dar mais sabor à comida. No nome científico, o Salvia vem do latim salvere, que significa salvo, são, sadio, e o officinalis indica que a planta é reconhecida por suas propriedades medicinais. Olha só:

      Uso interno:
  • Para indigestão (dispepsia) e formação de gases: uma xícara de chá após as refeições
  • Para cólicas menstruais e seios doloridos durante a TPM: uma xícara de chá a cada três horas
  • Para sudorese e salivação excessivas: uma xícara de chá pela manhã e outra à noite
  • Para diminuir a produção de leite materno no processo de desmame de bebês: uma xícara de chá duas ou três vezes ao dia

     Uso externo:
  • Para garganta inflamada: gargarejos com chá de sálvia morno. Para aumentar ainda mais a ação, acrescente uma colher de chá de vinagre por xícara. Tenho feito e estou gostando do resultado.
  • Para gengivite, afta e mau hálito de origem bucal: bochecos com chá de sálvia, que tem excelente ação antiséptica
  • Para limpar os dentes numa versão natureba da escova de dentes (só vale quando não há outra opção!): esfregue folhas de sálvia em todos os dentes, caprichando nas junções com as gengivas. A textura das folhas se encarrega da limpeza, e a ação antiséptica ajuda na eliminação das bactérias
  • Para aliviar a coceira nas picadas de insetos e a dor de feridas na pele: compressas com pano umedecido em chá de sálvia sobre o local atingido
  • Para escurecer os cabelos castanhos: enxague com chá de sálvia após a lavagem com xampu

IMPORTANTE: Apesar de tantas propriedades de cura, o uso da sálvia é contraindicado em gestantes, lactantes (se não há a intenção de diminuir a produção de leite) e epiléticos. Também pode haver efeito tóxico em uso prolongado, afinal, qualquer coisa em excesso pode fazer mal, por isso faça intervalos de algumas semanas a cada mês de uso da sálvia.

Os chás devem ser preparados sempre por infusão: aqueça uma xícara de água até a formação de bolhinhas no recipiente. Apague o fogo e acrescente uma colher de sopa de sálvia desidratada ou duas da erva fresca. Tampe para abafar e espere 10 minutos antes do uso interno ou externo.

Cultivar a sálvia não é nenhum mistério, basta oferecer a ela as condições de vida da costa do mar Mediterrâneo, sua terra natal. Algumas horas de sol pleno e terra levemente arenosa fazem a sálvia feliz. Pode até ser em vasos pequenos, de 20 cm de altura. Assim como o alecrim e o tomilho, nativos da mesma região, sálvias não gostam de sombra nem de encharcamento do solo, por isso são bastante indicadas para jardins ao ar livre com manutenção pouco frequente, como praças e outros espaços públicos, ou para a casa de quem não tem muito tempo para mimá-las.

Nos mercados e lojas de jardinagem é possível encontrar lindas variedades dessa erva, além da básica e verdinha Salvia officinalis, a sálvia comum. Algumas tem caule arroxeado, como a Salvia officinalis "Purpurascens" das fotos, outras têm as folhas manchadas de amarelo, como a Sálvia dourada (Salvia officinalis "Icterina"). Tem ainda a variedade Tricolor, que junta numa planta só as colorações das duas anteriores. Essa é linda!

Sem mistérios: é planta fácil de cuidar, útil e super decorativa. Uma ótima opção pra ir além da salsa, da cebolinha e do manjericão de sempre.


Para ouvir a Carol na Band News FM, clique aqui ou vá até o portal Minhas Plantas e procure pelo podcast na sessão Rádio.


terça-feira, 9 de abril de 2013

Flores na salada. As folhas são só um detalhe


Pode-se dizer que flores na salada são ingredientes perigosos. Depois que você começa a usá-las, nunca mais consegue parar. As saladas "comuns" perdem a graça e você nunca mais vai achar bonito um monte de folhas sem flores. Acredite, eu sei do que estou falando, aconteceu comigo.

No sábado tive visitas para o almoço e preparei uma salada de folhas com bolinhas de ricota e flores de gervão (já falei dele aqui). Lindo e gostoso, o prato fez sucesso. É nessas horas que a gente percebe como uma apresentação caprichada faz toda a diferença, porque as folhas eram as de sempre, a ricota era branquela como todas são e o prato poderia ter sido montado de um jeito qualquer, mas as mini-flores ganharam elogios pelo todo.

Não importa se você usa só uma florzinha ou muitas delas. A comida fica mais chamativa, a mesa fica mais colorida e todo mundo se encanta. É como passar um batonzinho antes de sair, ou colocar um broche ou um lenço sobre a camiseta lisa. Duvido você achar que fica melhor sem.



terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O primeiro Terra Madre Day a gente nunca esquece


Ontem foi o Terra Madre Day, dia marcado pelo Slow Food para celebrar a terra e o que ela nos da. Muitos eventos aconteceram simultaneamente em todo o mundo, e em São Paulo teve Dia de Campo Urbano - identificar e colher, cozinhar e comer, promovido pela Neide Rigo.

Um bando de 14 foragidos do trabalho saiu, em plena segunda-feira, para caminhar pela Lapa com a missão de identificar e colher espécies comestíveis que nascem pelas ruas do bairro. Guiados pela Neide e com um pouco de colaboração e experiência de cada um do grupo (com ênfase nos incríveis conhecimentos do Guilherme), enchemos nossas sacolinhas com folhas, frutos, bulbos, legumes e ervas medicinais e aprendemos muito, principalmente no que diz respeito às possibilidades de um paisagismo mais útil e caprichado em qualquer grande cidade. Se haverá plantio de árvores, por que não frutíferas? Como trepadeiras para fechar muros e grades, por que não maracujás?

Grumixama amarela (Eugenia brasiliensis)


Vassoura-relógio (Sida rhombifolia)

Devidamente uniformizados com nossos crachás adesivos do Terra Madre Day, conhecemos a face "roça" da metrópole, lugar onde nascem mangas, bananas, tamarindos, limões cravo, graviolas, inhames, batatas-doce e dezenas de outros alimentos, e onde crescem também muitas variedades de matos comestíveis e ervas medicinais que pisamos em cima sem nem desconfiar que existem. Na Europa, por exemplo, vende-se dente-de-leão (Taraxacum officinale) em feiras livres, enquanto aqui no Brasil ele nasce espontaneamente em cada fresta e rachadura de calçada por onde andamos. Colhemos um bom tanto deles, para a salada.

Dente-de-leão (Taraxacum officinale)

Pelo caminho também encontramos feijões, uma linda espécie de mini pepininhos silvestres...

Vagens de feijão de espécie não identificada

Mini pepinos comestíveis (Melothria pendula)

... e cúrcumas, plantadas pela Neide e algumas crianças em uma pequena praça mal cuidada mas arborizada com lichias e uvaias, onde, até hoje, certamente pouquíssima gente parou para reparar e experimentar. Pois ali cavamos e desenterramos lindos bulbos amarelo-ouro com cheiro de terra para colorir o almoço.


No final do passeio, bolsas e bolsos passeavam cheios de plantas, frutos e matinhos que virariam nossa refeição.

Fábio e sua muda de café "plantada" no bolso

Buquê de sementes de maria-gorda (Talinum paniculatum)

Tudo foi colocado sobre a mesa da casa da Neide e, junto com os ovos doados e as laranjas que levei de presente na semana passada (deste post aqui), fizemos um belo conjunto de alimentos coletados por nós. Nada de compras, muito menos de comidas processadas. Tudo fresco, natural e recém-colhido nas ruas da quinta maior cidade do mundo. Pura celebração à terra.


Com 28 mãos na massa, em pouco tempo tínhamos muito suco de laranja, de tamarindo e de manga verde (espetacular, batido com água e um pouco de açúcar) e alguns pratos em andamento.


Folhas de caruru enfeitaram de verde o risoto de arroz integral e feijões que já tinha sido pré-preparado pela Neide, bananas verdes viraram nhoque romano e também um delicioso purê inventado na hora por ela e decorado com as sementes de maria-gorda do Guilherme, e as mangas, igualmente verdes, foram transformadas em chutney cru, temperado com pimenta, cebola, cominho e sementes de coentro. Na salada verde nem uma única hortaliça convencional, mas uma coleção de matos comestíveis: serralha, caruru, dente-de-leão, mentruz, maria-gorda e tomatinhos-cereja, esses últimos também enquadrados na categoria "mato" porque nasceram por aí, sem terem sido plantados. E teve também molho pesto de buva (Conyza bonariensis), feito segundo a receita da versão tradicional, mas substituindo o manjericão pela erva espontânea. Foi invenção da Cenia Salles, líder do convívio Slow Food São Paulo, e ficou saboroso, um pouco picante, perfeito.


Às quatro da tarde, quando deixei a festa que ainda entrava na etapa da sobremesa, me despedi de 13 pessoas felizes, que com certeza se lembrarão para sempre do nosso primeiro Terra Madre Day. Que venham muitos mais, e que possamos nos juntar novamente para celebrar uma alimentação rica, bonita, saudável e repleta de histórias para contar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Jardineira chocólatra


Família em casa no fim de semana, e a jardineira chocólatra juntou a gula com a vontade de plantar. A ideia dos vasinhos foi da Mari, irmã cozinheira especializada em eventos, e veio junto com a sugestão de montar a mousse de chocolate em copinhos de pinga. Mas na semana passada encontrei à venda mini vasinhos de vidro no tamanho ideal para porções individuais. Poderia ser mais perfeito?

A receita da mousse é da Patricia Scarpin, do delicioso Technicolor Kitchen, de onde saem atualmente todas as receitas de doce que faço. É levíssima, fácil e rápida de preparar.


Mousse de chocolate com especiarias

180g de chocolate amargo (70% cacau) picado
3 ovos em temperatura ambiente, claras e gemas separadas
3 colheres de sopa de açúcar refinado
1/4 de colher de chá de canela em pó
1/4 de colher de chá de noz moscada moída na hora
225ml de creme de leite fresco batido até formar picos suaves

Coloque o chocolate em uma tigela refratária e derreta-o em banho-maria.
Retire do fogo e deixe esfriar.
Acrescente as gemas e mexa - a mistura vai ficar espessa.
Junte as especiarias e misture.
Acrescente o creme de leite e misture delicadamente, de baixo para cima, com o auxílio de uma espátula de borracha/silicone.
Na tigela grande da batedeira bata as claras em neve até que formem picos suaves.
Junte o açúcar e bata para incorporar.
Misture as claras delicadamente ao creme de chocolate, novamente misturando de baixo para cima com a espátula - a mousse deve ficar homogênea tanto na textura quanto na cor.
Transfira para seis potinhos ou copinhos com capacidade para meia xícara (120ml) cada e leve à geladeira por 3 horas ou até firmar.


O acabamento com efeito de pedrinhas fiz com amêndoas cruas picadas, mas você pode usar amendoim, castanha de caju, do Pará, farofa para sorvete ou o que tiver em casa. E a plantinha aqui é hortelã, mas seus vasinhos também podem ser de menta, melissa, tomilho ou qualquer outra plantinha não tóxica que tiver à mão. Vale até flor.

Depois de ouvir todos os ahs e ohs das visitas encantadas, você vai ver como é uma delícia curtir a fama de anfitriã caprichosa!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O gervão e as fadas


Há cerca de um ano comprei, na Sabor de Fazenda, uma mudinha de gervão (Stachytarpheta cayennensis). Foi depois de ouvir a Sabrina contar, numa aula para crianças, que uma antiga lenda diz que as fadas gostam de comer suas flores. Já conhecia a espécie mas nunca tinha visto plantas bonitas, florescendo em quantidade, então não me dizia muita coisa. Mas naquele dia foi bonito ver a meninada logo se juntando em torno de uma grande touceira para beliscar o petisco das fadas.

Meu gervão cresceu e floresceu bonito. Fada mesmo ainda não vi por aqui (talvez eu me torne uma delas, já que venho comendo flores diariamente), mas a linda planta me cativou e hoje enfeita minha horta, toda pintadinha de azul.

O livro Plantas Medicinais no Brasil, de Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos, ensina que o gervão, gervão-azul ou falsa-verbena é planta nativa do Brasil e chega a ser considerada planta daninha em algumas áreas do país. É amplamente utilizada na medicina tradicional brasileira na forma de chás quentes feitos de suas folhas e tem diversas propriedades curativas, como tônico estomacal, diurético e estimulante digestivo, entre outras. Em países do Caribe é largamente empregada como vermífugo e anti-helmíntico, e entra na composição de várias fórmulas comerciais contra vermes e parasitas intestinais na Jamaica. Na Índia, o chá quente feito com as folhas é usado contra disenteria, febres, inflamações reumáticas e externamente em banhos contra úlceras purulentas.

Contra prisão de ventre, prepare o chá adicionando 1 xícara de água fervente em um recipiente contendo 1 colher de sobremesa de folhas fatiadas. Espere alguns minutos, coe e beba, na dose de 1 xícara de chá duas vezes ao dia, antes das refeições.

Para adquirir uma muda, vá visitar a Sabor de Fazenda, um lindo viveiro de ervas orgânicas na Vila Maria, em São Paulo, que abre também aos sábados, das 8 às 17 horas. E por falar nisso, neste sábado 24 de novembro vai rolar o curso de horta caseira orgânica, ministrado pelo Marcelo Noronha. Tudo sobre a montagem da horta em pequenos espaços e dicas de plantio, regas, adubação, incidência de luz, etc. Para saber mais detalhes e fazer sua inscrição no curso, acesse o site da Sabor de Fazenda.



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Para comer com os olhos e com a boca


Dois charminhos da horta, para enfeitar e para comer.
Na frente, peixinho, lambari ou orelha-de-lebre (Stachys byzantina ou Stachys lanata). É uma graça, bem peludinha, parece mesmo orelhinha de coelho fofo. Os nomes peixinho e lambari são porque se come as folhas empanadinhas em farinha e ovo e depois fritas, e elas ficam parecendo peixinhos-aperitivo. Uns adoram e outros, depois de experimentar, fazem cara de nada. Estou no segundo grupo. Mas o efeito decorativo é inegável, pelos pelinhos e pelo verde claro levemente azul-acinzentado, que se destaca do verde vivo da maioria das ervas e hortaliças. Nunca vi sementes à venda, mas a Sabor de Fazenda tem mudas e, se algum conhecido seu tiver, peça para ganhar um raminho, mesmo que seja sem raiz. Com um pouco de talo enfiado na terra a orelha-de-lebre enraíza em poucos dias e logo já começa a soltar folhas novas.

E no vaso de trás, amor-perfeito (Viola tricolor) em versão mini. Assim como o amor-perfeito de tamanho normal, se adapta otimamente bem em lugares de meia-sombra. Nada de muito sol direto nem calor demais. É perfeito para hortas em apartamento e vai bem em vasos pequenos e jardineiras. É preciso regar a cada dois dias e então a planta retribui com lindas flores comestíveis que se parecem com pequenas borboletas. Para colocar muitas numa salada bem colorida ou poucas num cantinho do prato, enfeitando com minimalismo.
As opções de cor são as mais variadas que você possa imaginar, incluindo bi e tricolores, e o bom é que a planta está meio na moda, então tem sido fácil encontrá-la em boas lojas de jardinagem. Existem pacotinhos de sementes da variedade de tamanho normal. Da mini nunca vi, mas mudinhas em saquinhos já vêm florescendo e ainda crescem mais quando vão para um vaso com terra boa. Vale a pena.

Duas espécies super recomendadas e fáceis de cuidar. Tem um espacinho aí?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Horta em vasos - pé de louro


Um condimento muito comum na cozinha brasileira mas que quase nunca se vê plantado em hortas - principalmente as em vasos - é o louro (Laurus nobilis). Na verdade, é difícil encontrar um pé de louro por aí, mesmo nas ruas ou em quintais de casas antigas. Estranho, já que se trata de planta fácil de cultivar.

O louro é uma árvore de crescimento lento que prefere viver em meia sombra, o que quer dizer que pode se adaptar bastante bem em varandas de casas e apartamentos onde incida um solzinho por uma ou duas horas ao dia, no máximo. Ou então que não tenha nenhum sol direto mas que seja um lugar claro. Sombra fechada não funciona. E como tem crescimento lento, fica feliz por vários anos plantado em um vaso grande.

Dona Rosy Bornhausen ensina, no livro Ervas do sítio, que na mitologia grega o louro representa a virgem Daphne transformada por seu pai numa árvore de folhas brilhantes para escapar das perseguições amorosas de Apolo, que desde então passou a usar uma coroa de louros nos cabelos. A partir daí esse uso tornou-se um símbolo de vitória, e a coroa foi usada por reis, conquistadores, príncipes e poetas. Nos jogos olímpicos de 776 a.C. os esportistas vencedores receberam as coroas verdes da glória que continuam significando honra e poder.

Na culinário o louro é um tempero importante, sempre presente em peixes e feijões, e é um dos componentes do bouquet garni, mix de ervas que aromatiza caldos e sopas. Na cosmética, seu óleo essencial é usado na formulação de sabonetes para peles sensíveis e em cremes para o corpo, e para a medicina a planta tem importantes qualidades curativas, seja em uso externo, para aliviar reumatismos, ou em uso interno, para curar bronquite, gripe e problemas digestivos. E antigamente era usado, pelas nossas bisavós, dentro de potes de farinha para afastar os insetos.

Só que o tempo foi passando e, além de ficarem para trás esses usos e sabedorias, o louro virou, pras mocinhas e mocinhos que aprenderam a cozinhar nas últimas duas décadas (eu incluída), uma planta que se compra desidratada, dentro de um saquinho na prateleira do supermercado.

Mas ainda é tempo de mudar o curso da história. Um vaso grande, pedrinhas ou argila expandida, um bom tanto de terra adubada (de preferência com húmus de minhoca ou esterco) e regas a cada 2 ou 3 dias são tudo de que uma muda de louro precisa para crescer na sua casa. Veja no post da horta em vasos o passo a passo e o material necessário para plantar seu louro.

O meu veio em um vaso de plástico de uns 30 cm de altura, e tinha mais ou menos 60 cm quando comprei. Passei para um vasão de barro de 50 cm de altura e em um ano ele cresceu cerca de dois palmos, com vários galhos novos nas laterais. No começo eu tinha pena de tirar as folhas; a planta não era muito cheia, então economizei um pouco. Depois que começaram a brotar as folhas novas tomei coragem e agora uso sempre. Costumo escolher as folhas mais antigas, e arrancá-las funciona como uma poda, que estimula o louro a brotar mais. E com o uso frequente ele se mantém uma arvoreta, apesar de ter potencial para crescer bastante se for plantado no chão.

Não tem mistério. Talvez o mais difícil seja encontrar a muda para comprar, mas pesquise bastante, mostre interesse e pergunte, no caso de não encontrar, se é possível encomendar. Lojas e produtores tem seus contatos, e o comércio de plantas funciona como qualquer outro: a procura gera a oferta. Aumentar a disponibilidade de temperos e condimentos nas lojas depende muito dos plantadores urbanos.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cenouras coloridas com manteiga de ervas


A Neide, do Come-se, deixou um comentário lá no post sobre a colheita das cenouras coloridas sugerindo que eu as comesse cozidas, em rodelinhas, e passadas na manteiga de ervas. Ela é sabida e eu não sou boba nem nada, então aceitei a sugestão e foi isso o que fiz.

Para quem estava morrendo de curiosidade, assim como eu, as notícias são as melhores.
Claro que com elas ainda cruas já fiz as primeiras degustações, e foi fácil perceber que todas se parecem um pouco com as cenouras comuns, alaranjadas, mas cada uma tem seu sabor específico. Dá até para brincar de adivinhar, de olhos fechados, que colorido tem cada gosto.

As brancas são mais fortes, quase picantes, as amarelinhas, minhas preferidas, são suaves e delicadas, enquanto as roxas, com seu lindo miolo alaranjado, tem um gosto só delas que nem sei dizer com o que se parece.
Depois de cozidas (com casca e no vapor, para não desbotarem) todas mantiveram suas características principais mas o sabor foi um pouco suavizado e acrescido de um leve doce, aquele que sempre aparece quando se cozinha cenoura.

E o toque final, ótima sacada da Neide, foi passá-las em manteiga de ervas. Na verdade não sei (e nem perguntei) se ela pensou em um naco de manteiga direto no prato, em cima das cenouras quentinhas, ou se a ideia era uma seladinha na frigideira com a manteiga, mas eu já fui partindo para a segunda possibilidade, e tenho para contar que ficou um arraso. De bom!

A manteiga preparei na véspera e deixei passar a noite na geladeira, aromatizando.


Depois coloquei uma colherada dela na frigideira, pinguei um tico de azeite por cima - dica para evitar que a manteiga queime muito rápido - e, assim que derreteu, joguei as rodelinhas de cenoura. Um tchiii de um lado, um tchiii do outro, e foram para o prato, acompanhadas de um risotinho legal que já tinha pronto e um pouco de couve da horta. Ficou espetacular, e eu sugiro que você experimente em casa, mesmo com cenouras comuns ou com batatas.

E sobre a manteiga de ervas: não tem coisa mais fácil de fazer e todo mundo adora. Tenho uma receita básica que costumo repetir, mas na verdade ela funciona mais como uma referência de quantidades, porque a manteiga fica ótima com as mais variadas combinações de temperos, por isso não se prenda a essa fórmula e use o que tiver em casa.

1 tablete (200 g) de manteiga (com ou sem sal) em temperatura ambiente
1 colher de sopa de salsinha fresca picada
1 colher de sopa de cebolinha fresca picada
1 colher de sopa de manjericão fresco picado
1 colher de sopa de orégano fresco picado
1 colher de sopa de orégano seco

Misture tudo como se estivesse fazendo um patê, coloque num copo ou mantegueira bonita e leve à geladeira por algumas horas. Se sua manteiga já tiver sal, você provavelmente não vai precisar de mais. Se for sem sal, acrescente uma pitada, se quiser. Também vale colocar uma pimentinha ou outra especiaria que gostar.
Ela serve para dar um aroma super especial em preparos culinários mas não deixe de experimentá-la simplesmente com pão. É o máximo.

Essa receita aprendi num curso chamado Jardinagem Gastronômica, dado pela Silvia e pela Sabrina Jeha, amigas queridas da Sabor de Fazenda. Se você mora em São Paulo e está a fim de passar uma deliciosa manhã de sábado aprendendo coisas bacanas sobre ervas e cozinha, clique aqui, veja os detalhes e faça sua incrição, porque o próximo já é no final de semana que vem, no dia 20 de outubro.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Hortas e paisagismo na Expoflora 2012


Canteiro de hortaliças elevado com mourões de cerca

 Começou, na última quinta-feira, a Expoflora 2012, a maior feira de flores e paisagismo do país. O evento acontece em Holambra - a cidade das flores, 150 km da cidade de São Paulo - e em meio a muitas plantas, comidas e apresentações culturais, está lá o assunto do momento: horta doméstica. Dentro da mostra de paisagismo são muitas as ideias para diversos tamanhos e estilos de canteiros para montar em casa. E o melhor é que na maior parte das vezes as instalações são simples e reaproveitam materiais já usados e descartados, o que torna os projetos baratos e fáceis de implantar.

Mesmo nos casos de recipientes industrializados, como os da foto abaixo, ver de perto os jardins comestíveis é uma boa oportunidade de conhecer alternativas, tamanhos, alturas e distribuições de vasos e canteiros, para ter certeza de que ervas e hortaliças podem ser instaladas em quase qualquer cantinho da sua casa.


Mas claro que as melhores soluções são as que aproveitam pallets inteiros ou desmontados, dormentes e antigos caixotes para elevar canteiros, além de recipientes inusitados para vasos e outros itens de decoração.

Alfaces em caixa feita de madeira de pallet

Ervas em caixas de madeira de pallet

Ervas e hortaliças em canteiros de dormente

Vasos de ervas em estantes de pallet

Ervas em caixas de vinho

Jardineiras de caixa longavida
Suculentas em conchas de ferro


Luminárias de garrafão de vidro

A feira acontece até 23 de setembro, de quinta a domingo das 9 às 19 horas, os ingressos custam R$ 30 por pessoa e mais R$ 20 do estacionamento. Crianças de até 5 anos entram de graça e estudantes e idosos pagam meia.
É programa para o dia inteiro, contando a viagem pelas ótimas rodovias Anhanguera ou Bandeirantes.
Venha com tempo e traga máquina fotográfica.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Chá quente, chá morno, chá frio... muito chá, sempre!


Os dias têm começado acelerados, a lista de coisas a fazer só cresce e, se bobear, até um lindo sítio sombreado por enormes árvores cinquentenárias pode virar fonte de stress e enlouquecer criaturas atarefadas, então... vamos com calma.
Hoje começamos o dia regados a chá de ervas, tentando segurar o ritmo e conter as ansiedades antes que elas se instalem.
Da cozinha vieram pauzinhos de canela e uma rodela de limão, e da horta em vasos foram colhidas, aleatoriamente, alguns punhados de folhas. Nada de receitas, o critério foi oferta e belezura - as espécies mais viçosas pediram para participar e ganharam a preferência; colhemos melissa, hortelã e manjericão.

Como ensina dona Rosy Bornhausen em seu simpático livro As ervas do sítio, os chás de ervas devem ser feitos em infusão, que nada mais é do que esquentar água até que bolinhas começem a se formar e desligar o fogo antes da fervura. Só então deve-se acrescentar as ervas e em seguida abafar por alguns minutos, para que as propriedadas terapêuticas das folhas se incorporem à água.
Dona Rosy ensina também que é sempre melhor usar recipiente de vidro ou porcelana para esquentar a água, que deve ser mineral ou pelo menos filtrada, para diminuir um pouco a ingestão de produtos químicos.

Enquanto a infusão fazia suas mágicas, descobri, consultando o indispensável Plantas medicinais no Brasil, de Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos, que estávamos em boas mãos: melissa é a erva perfeita para quem está precisando dar uma sossegada. Tem propriedades calmantes e combate a insônia, além de ser poderosa contra gripe, bronquite crônica, cefaléias e enxaqueca.
Hortelã e manjericão, por sua vez, são estimulantes digestivos e antiespasmódicos, por isso são recomendados para problemas estomacais, intestinais e hepáticos.
A canela e o limão entraram para participar nos quesitos sabor e aroma, mas também têm suas propriedades medicinais.

No início do dia o chá foi tomado quentinho, e o que sobrar, frio, vai virar refresco para a hora do almoço. Quando esfriam, os chás perdem um pouco do sabor, por isso podem ser preparados com um terço a mais dos ingredientes quando forem consumidos gelados.

A referência básica de quantidades é de 1 colher de sopa de ervas secas ou 2 colheres de ervas frescas picadinhas para cada xícara de água bem quente, mas depois de alguns preparos você vai aprender a medir na palma da mão a quantidade de folhas que deve colher e nem precisará mais picá-las para medir.

E uma boa dica para aproveitar sobras de chás de ervas é congelá-las em forminhas de gelo, para esfriar chás muito quentes sem diluir o sabor da bebida ou mesmo para usar em sucos de frutas. Imagine o suco de abacaxi com gelo de chá de hortelã, uma limonada com gelo de capim-limão ou melissa, refresco de melancia com chá de menta...


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Upcycle. Faça a sua parte


Muita gente tem vergonha de garimpar objetos descartados em "lixos" e caçambas de entulho por aí, mas os corajosos que já adotaram essa prática têm produzido coisas super úteis e bonitas com um pouco de visão e habilidade manual.
A receita é nem ligar se estão te olhando na rua e passar um tempo observando o que pode ser reaproveitado, com a cabeça aberta para reconhecer potenciais e deixar a criatividade trabalhar.

Ontem, o almoço na casa da Catharine - garimpadora habilidosa e de muito bom gosto - foi cheio de ótimos exemplos. Na primeira foto deste post, a mais recente adaptação: um suporte de alguma coisa, encontrado no lixo do condomínio, foi lixado, pintado e transformado em pendurador de parte da coleção de suculentas, que já há tempos mora nas casquinhas de coco produzidss lá mesmo, no quintal.
Essa, aliás, é uma história a parte. Catharine colhe os cocos do pé e os pendura para secar. Quando estão no ponto, quem faz a limpeza das cascas secas é o Marley, cruzamento super feliz e inteligente de Labrador com vira-lata. Marley rói coco por coco, tirando todas as fibras e deixando sobrar só a parte dura. Depois é só abrir, limpar por dentro e furar o fundo, para o escoamento da água das regas.
Infelizmente fico devendo a foto do Marley trabalhando, que deve ser a melhor parte desse processo de beneficiamento dos cocos!

Na foto abaixo, a horta de temperos plantada dentro de recipientes descartados de filtro de piscina. Os tambores iam para o lixo (reciclagem, provavelmente), mas foram recuperados a tempo e cortados ao meio, rendendo ótimos vasos de 50 litros cada um.


E por lá as plantas, além de lindas, estão sempre em suportes bonitos e criativos. Abaixo, a Phalaenopsis sp. dentro de um cesto de fibra natural e, na última foto, uma Oncidium sp. plantada numa bainha de folha de palmeira.
Por falar nisso, já mostrei um outro exemplo de aproveitamento de bainhas, aqui.



Esses, aliás, são exemplos perfeitos de UPCYCLE, um conceito criado recentemente no mundo da reciclagem. To upcycle significa produzir uma coisa a partir de outra, dar um novo uso a um objeto usado e descartado. Dessa maneira não se desperdiça algo que já foi produzido e economiza-se na produção de um novo produto. É um jeito de reduzir a geração de lixo e evitar um novo gasto de matéria-prima e energia de produção*.

Só para lembrar, o upcycle é diferente da reciclagem, que é o rebeneficiamento de matéria-prima que novamente abastecerá o processo de produção de algo. Por exemplo: latinhas de alumínio que são derretidas para produção de novas latinhas de alumínio ou de outros produtos feitos a partir de alumínio reciclado, como quadros de bicicleta, esquadrias para janelas, peças para indústria automotiva, obejtos de decoração, etc.

Então que tal olhar em volta de você e dar um passeiozinho por aí de cabeça aberta, procurando oportunidades de "upcyclar" e fazer a sua parte?
Inspire-se nos exemplos!

* Quer ver mais "upcyclagens"? Clique aqui e aqui para ler sobre a construção da minha primeira horta, lá no ínício da história desta Verde Casa, aqui para uma casinha de passarinho também feita de coco e aqui para coleta de água da chuva em tambores reaproveitados.