segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Alho mineiro - o Allium sativum de variedade incógnita


Conheci o alho mineiro (Allium sativum var. ?) pelas mãos da Cidinha, que conheci pelos frutos da Missão Cambuci. Ela, o marido Winfried e o filho Daniel vieram ao sítio ver minhas experiências com a espécie em extinção e me trouxeram dentes do alho de presente. Mal sabia eu que o alho mineiro é uma variedade de alho com pouca informação disponível. Não deve estar correndo risco de extinção, mas não sei porque não se fala muito dele em lugar nenhum.

Naquela época ainda não tinha pesquisado nada, só fiz o que a Cidinha mandou. "Enterre os dentes no final de abril e pronto. É como qualquer outro alho, nasce fácil e de cada dente enterrado nascerá uma planta, que produzirá uma cabeça inteirinha". Enrolei um bom tanto e acabei só plantando em meados de junho, mas logo vieram os primeiros brotos e realmente tudo aconteceu sem problemas; não tive cuidado nenhum além das regas frequentes. Enterrei os dentes a 15 cm de distância uns dos outros, todos germinaram bem, não deu praga nenhuma, tudo fácil.

Já se passaram seis meses e nada das folhas secarem - essa é a dica do momento certo para desenterrar as novas cabeças de alho originadas pelas plantas - mas nesses dias teve surpresa boa: lindas flores lilases enfeitando o canteiro e atraindo insetos polinizadores. Diferente de outras flores, que em botão têm as pétalas enroladinhas, as do alho vêm em um buquê que nasce espremido, embrulhado por uma película fina que um dia arrebenta como numa explosão de fogos de artifício.



Dias depois, na recepção de um prédio de consultórios em São Paulo, descobri que aproveita-se a flor do alho em arranjos ornamentais.


Pelo jeito o alho de qualquer espécie e variedade é bom para tudo, e a julgar pela quantidade de vezes que o prefixo anti e o sufixo protetor aparecem em suas propriedades, ele tem vocação para panaceia. É antitrombótico, antifúngico, antibacteriano, antioxidante, antitumoral, hipotensor, hepatoprotetor, cardioprotetor, hipoglicemiante...
Antigamente era utilizado na conservação de carnes e até na de cadáveres; os egípcios utilizavam-no em parte do processo de mumificação dos mortos.

As características do cultivo do alho são bastante específicas, e eu não sabia de nada disso quando plantei os meus: a planta prefere solos leves, ricos em matéria orgânica e bem drenados. Terrenos úmidos atrapalham o bom desenvolvimento das raízes, o que prejudica a nutrição e interfere na formação dos bulbos, as cabeças de alho. Depois de enterrar os dentes de alho com a ponta para cima deixando uma camada de terra de 2 a 3 cm sobre eles, deve-se espalhar palha ou folhas secas sobre a superfície do canteiro, assim a temperatura no subsolo se mantém menor do que a do ar, e é de solos mais frios que a planta do alho gosta.

O processo de colheita deve ser iniciado quando as folhas começam a amarelar e secar. Arranca-se as plantas inteiras, e se isso é feito durante um período sem chuva a durabilidade do alho é favorecida. Se a colheita for feita pela manhã, em dias secos e ensolarados, melhor ainda. Depois de arrancadas, as plantas devem ser dispostas sobre o canteiros com os bulbos direcionados para o nascente, com as folhas de uma fileira cobrindo os bulbos da fileira anterior. Esse é o processo de cura preliminar.

Depois de 3 dias de exposição indireta à luz solar, os bulbos passam para um processo de cura mais lenta, feito em galpões parcialmente iluminados, muito secos e arejados. Durante esse período, que pode variar de 20 a 60 dias, acontece a perda gradual de umidade que garante as propriedades do alho e favorece sua durabilidade. No caso de enrestiar o alho (réstia: trança feita com os caules e folhas de alho e de cebola), o processo de cura pode ser mais curto, já que é necessário manter um pouco da umidade nas folhas para trançar as réstias. E depois delas prontas a cura continua, já que as folhas ali trançadas continuam favorecendo a lenta perda de umidade pelos bulbos.

Os que ganhei da Cidinha foram produzidos, colhidos e curados por ela mesma, e foram esses os primeiros alhos mineiros que conheci. Eles são a cara do alho comum, mas um tanto maiores, de pelezinha branca transparente e têm sabor bem mais suave. Também me pareceram um pouco mais suculentos, mas não sei se são sempre assim ou se isso varia de acordo com o tempo de cura.

E agora, pesquisando para escrever esse post, descobri que pouco se fala e se cultiva dessa variedade. Na internet, pouca coisa encontrei, e nos livros e manuais sobre horta a que tive acesso trata-se todos os alhos como um só, apesar da frequente menção de que existem mais de 600 variedades.

O meu mineiro, discreto e misterioso, ainda não colhi, mas estou curiosíssima. Por enquanto curto só as flores, mas mostro o resultado da produção quando chegar a hora.
Será que se dão bem em vasos?

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O primeiro Terra Madre Day a gente nunca esquece


Ontem foi o Terra Madre Day, dia marcado pelo Slow Food para celebrar a terra e o que ela nos da. Muitos eventos aconteceram simultaneamente em todo o mundo, e em São Paulo teve Dia de Campo Urbano - identificar e colher, cozinhar e comer, promovido pela Neide Rigo.

Um bando de 14 foragidos do trabalho saiu, em plena segunda-feira, para caminhar pela Lapa com a missão de identificar e colher espécies comestíveis que nascem pelas ruas do bairro. Guiados pela Neide e com um pouco de colaboração e experiência de cada um do grupo (com ênfase nos incríveis conhecimentos do Guilherme), enchemos nossas sacolinhas com folhas, frutos, bulbos, legumes e ervas medicinais e aprendemos muito, principalmente no que diz respeito às possibilidades de um paisagismo mais útil e caprichado em qualquer grande cidade. Se haverá plantio de árvores, por que não frutíferas? Como trepadeiras para fechar muros e grades, por que não maracujás?

Grumixama amarela (Eugenia brasiliensis)


Vassoura-relógio (Sida rhombifolia)

Devidamente uniformizados com nossos crachás adesivos do Terra Madre Day, conhecemos a face "roça" da metrópole, lugar onde nascem mangas, bananas, tamarindos, limões cravo, graviolas, inhames, batatas-doce e dezenas de outros alimentos, e onde crescem também muitas variedades de matos comestíveis e ervas medicinais que pisamos em cima sem nem desconfiar que existem. Na Europa, por exemplo, vende-se dente-de-leão (Taraxacum officinale) em feiras livres, enquanto aqui no Brasil ele nasce espontaneamente em cada fresta e rachadura de calçada por onde andamos. Colhemos um bom tanto deles, para a salada.

Dente-de-leão (Taraxacum officinale)

Pelo caminho também encontramos feijões, uma linda espécie de mini pepininhos silvestres...

Vagens de feijão de espécie não identificada

Mini pepinos comestíveis (Melothria pendula)

... e cúrcumas, plantadas pela Neide e algumas crianças em uma pequena praça mal cuidada mas arborizada com lichias e uvaias, onde, até hoje, certamente pouquíssima gente parou para reparar e experimentar. Pois ali cavamos e desenterramos lindos bulbos amarelo-ouro com cheiro de terra para colorir o almoço.


No final do passeio, bolsas e bolsos passeavam cheios de plantas, frutos e matinhos que virariam nossa refeição.

Fábio e sua muda de café "plantada" no bolso

Buquê de sementes de maria-gorda (Talinum paniculatum)

Tudo foi colocado sobre a mesa da casa da Neide e, junto com os ovos doados e as laranjas que levei de presente na semana passada (deste post aqui), fizemos um belo conjunto de alimentos coletados por nós. Nada de compras, muito menos de comidas processadas. Tudo fresco, natural e recém-colhido nas ruas da quinta maior cidade do mundo. Pura celebração à terra.


Com 28 mãos na massa, em pouco tempo tínhamos muito suco de laranja, de tamarindo e de manga verde (espetacular, batido com água e um pouco de açúcar) e alguns pratos em andamento.


Folhas de caruru enfeitaram de verde o risoto de arroz integral e feijões que já tinha sido pré-preparado pela Neide, bananas verdes viraram nhoque romano e também um delicioso purê inventado na hora por ela e decorado com as sementes de maria-gorda do Guilherme, e as mangas, igualmente verdes, foram transformadas em chutney cru, temperado com pimenta, cebola, cominho e sementes de coentro. Na salada verde nem uma única hortaliça convencional, mas uma coleção de matos comestíveis: serralha, caruru, dente-de-leão, mentruz, maria-gorda e tomatinhos-cereja, esses últimos também enquadrados na categoria "mato" porque nasceram por aí, sem terem sido plantados. E teve também molho pesto de buva (Conyza bonariensis), feito segundo a receita da versão tradicional, mas substituindo o manjericão pela erva espontânea. Foi invenção da Cenia Salles, líder do convívio Slow Food São Paulo, e ficou saboroso, um pouco picante, perfeito.


Às quatro da tarde, quando deixei a festa que ainda entrava na etapa da sobremesa, me despedi de 13 pessoas felizes, que com certeza se lembrarão para sempre do nosso primeiro Terra Madre Day. Que venham muitos mais, e que possamos nos juntar novamente para celebrar uma alimentação rica, bonita, saudável e repleta de histórias para contar.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Mato como barreira natural contra pragas

Primeiras folhas do pé de repolho, murchas e retorcidas pela ação de pulgões

Se você ainda não sabe que cara tem um pulgão e os estragos que ele pode causar, cultive qualquer uma das hortaliças da família Brassicaceae (antigamente chamada de Cruciferae) e em alguns dias saberá do que se trata. Pulgões são apaixonados por couve, couve-flor, brócolis, repolho, e em alguns dias são capazes de sugar a seiva da planta até que ela definhe por completo. Combatê-los faz e sempre fará parte do trabalho de quem cultiva hortaliças comestíveis, e é preciso ter paciência. Esse é um dos motivos pelos quais dizem que horta da trabalho.

Conhecer as pragas mais comuns e saber como conviver com elas (porque se livrar definitivamente é impossível) é fundamental para quem quer ser recompensado com o prazer de comer o alimento que plantou, por isso, pesquisar bastante e colocar mãos à obra é a melhor maneira de criar seus próprios protocolos no cuidado com sua horta.

Na minha, dia desses, o acaso veio para ensinar mais uma artimanha que já conhecia de ouvir falar mas ainda não tinha experimentado. Num dia de "desmatamento", que é como tenho chamado a atividade de tirar o mato dos canteiros, comecei a arrancar as plantas invasoras que nasciam ao redor de três mudas de repolho roxo mas fui interrompida por alguma coisa. Fui resolver o que precisava de mim e acabei não voltando para terminar a limpeza. Dias depois encontrei uma infestação de pulgões nos dois repolhos da área já limpa, enquanto o que quase sumia sob o mato estava saudável, livre dos insetos.

Barreiras naturais são muito utilizadas no campo, em produções orgânicas e não orgânicas, tanto em pequenos quanto em grandes plantios. É comum, por exemplo, ver eucaliptos plantados como um muro para impedir que insetos e doenças carregados pelo vento atinjam as culturas. Faixas de mato entre áreas culivadas também servem de abrigo para sapos, rãs e diversos predadores de pragas. Mas é claro que, assim como as infestações, o mato como barreira também precisa estar sob controle, senão cresce e se alastra mais rápido do que o resto e rouba a água e os nutrientes disponíveis para suas hortaliças.

Observando esses três repolhos percebi também que o mato em volta do terceiro deles funcionou como uma proteção contra o sol excessivo, que tem castigado nesse final de primavera. Frequentemente os repolhos "desprotegidos" têm chegado ao fim do dia moles, desidratados, enquanto o que está acompanhado de mato, usufruindo de uma leve sombrinha, perde menos água por evaporação e permanece sempre mais tenro e firme. Certamente isso também o torna mais forte, já que, como nós, plantas saudáveis e hidratadas resistem melhor a doenças.

Repolho saudável, "escondido" no meio do mato

Mas não se anime muito; mais cedo ou mais tarde os pulgões encontrarão uma brecha e você os verá firmes e fortes, comendo sua comida sem te pedir licença. Quando isso acontecer, lembre-se do que ensina o permacultor Peter Webb:

"Pulgões vêm para compartilhar a abundância na seiva das plantas em rápido crescimento. A mãe deles deixa os filhos vivos no lugar onde começam a sugar a seiva de nossas plantas queridas. Eles só conhecem como casa aquele lugar, pois não chegam andando, nem voando para o local. Por este motivo, pode direcionar um jato de água neles e jogá-los no chão, pois não vão voltar para o local, nem sabem o caminho de como chegar. O truque é não deixar o número deles aumentar muito, pois a colônia cresce rapidamente. No caso de laranja e couve, as plantas encurvam as folhas, o que dificulta a água entrar. Passar os dedos carinhosamente na cabeça deles costuma atrapalhar bem. Se quiser alguma coisa para pulverizar (e satisfazer o desejo de alquimistas), use sabão de coco (2 colheres de sopa por litro - derreter na água quente e pulverizar depois que a água estiver fresca). Com pulgões é melhor fazer novamente depois de 15 dias, pois sempre deixam ovos que vão nascer. Se não fizer isso, eles voltam enquanto dorme à noite!".

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Laranjas a preço de banana e, ainda assim, no lixo


Este ano ficará na memória dos produtores de laranja como o ano do prejuízo. Plantou-se demais, comprou-se de menos e quem viaja pelas estradas do país passa ao lado de pomares cheios de laranja apodrecendo no chão. Não vale a pena colher porque não há onde estocar tanta laranja para ninguém comprar. Com que dinheiro se pagará a mão de obra, o transporte, a estocagem? É mais barato (ou menos caro) deixar perder.

Produtores rurais muitas vezes se deparam com situações como essa, e só sobrevivem os que têm algum dinheiro guardado no bolso e a alma repleta de resiliência, afinal, como jogar fora toda uma safra, o investimento financeiro, o suor do próprio corpo e ainda ter forças para começar tudo de novo para o ano que vem? Transfira essa situação para o seu trabalho, seu dia a dia, e talvez você perceba que não aguentaria o baque.

Nos últimos meses alguns laranjais foram destruídos aqui na região, e ontem, pela cerca, fui testemunha do "basta" de um vizinho. Em meio dia uma retroescavadeira deu fim a parte de um pomar de laranjas para abrir espaço para mais uma aposta, um novo investimento. É duro assistir (e o próprio vizinho não quis presenciar) a máquina derrubando, em minutos, pés de laranja que levaram anos para crescer e, saudáveis, ainda dariam muito suco. Pois dezenas deles foram ao chão e muita laranja sobrou, caída na terra.




Depois da derrubada, tudo foi arrastado para o centro do terreno e colocou-se fogo no miolo da montanha de laranjeiras. Nem é preciso esperar a massa verde secar, o óleo essencial da laranja é inflamável e aos poucos já começa a queimar. Quanto mais rápido acabar, mais rápido se esquecerá. Melhor assim.



Recentemente, neste post, escrevi sobre coisas que se aprende quando passamos a conviver minimamente com algum tipo de produção agrícola, ainda que seja uma horta em vasos. É um mundo completamente diferente do mundo da produção industrial, por exemplo, onde praticamente tudo é previsível e controlável. É no campo, nas fazendas, na roça mesmo, onde cresce nosso melhor alimento. Aquele que não nasceu dentro de máquinas, não foi colorido artificialmente, aquele que não vem dentro de pacotes de alumínio. E o que se conhece dele? Quem se conhece dele? Quantos amigos ou ao menos conhecidos nossos são produtores rurais?

O que um dia para mim foi apenas uma desconfiança, hoje é uma certeza: ambientes (e pessoas) rurais e metropolitanas são praticamente desconhecidos um do outro. Apesar de tão interligados e dependentes entre si. Incrível seria se todo mundo tivesse a oportunidade de conhecer o outro lado, de viver, ao menos por uns dias, as felicidades e dificuldades do outro. Talvez conseguiríamos resolver mais facilmente problemas que existem apenas por desconhecimento da realidade de ambas as partes. Talvez menos comida iria parar no lixo. Talvez todos daríamos mais valor ao trabalho uns dos outros. Talvez, neste ano, tantos laranjais não seriam sacrificados.

Quer ajudar? Participe mais. Mostre, comente, ensine, estude, visite, converse a respeito. E vá já comprar laranjas, que justamente nessa época de calor amadurecem, ficam mais docinhas do que nunca e agora estão a preço de banana.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Jardineira chocólatra


Família em casa no fim de semana, e a jardineira chocólatra juntou a gula com a vontade de plantar. A ideia dos vasinhos foi da Mari, irmã cozinheira especializada em eventos, e veio junto com a sugestão de montar a mousse de chocolate em copinhos de pinga. Mas na semana passada encontrei à venda mini vasinhos de vidro no tamanho ideal para porções individuais. Poderia ser mais perfeito?

A receita da mousse é da Patricia Scarpin, do delicioso Technicolor Kitchen, de onde saem atualmente todas as receitas de doce que faço. É levíssima, fácil e rápida de preparar.


Mousse de chocolate com especiarias

180g de chocolate amargo (70% cacau) picado
3 ovos em temperatura ambiente, claras e gemas separadas
3 colheres de sopa de açúcar refinado
1/4 de colher de chá de canela em pó
1/4 de colher de chá de noz moscada moída na hora
225ml de creme de leite fresco batido até formar picos suaves

Coloque o chocolate em uma tigela refratária e derreta-o em banho-maria.
Retire do fogo e deixe esfriar.
Acrescente as gemas e mexa - a mistura vai ficar espessa.
Junte as especiarias e misture.
Acrescente o creme de leite e misture delicadamente, de baixo para cima, com o auxílio de uma espátula de borracha/silicone.
Na tigela grande da batedeira bata as claras em neve até que formem picos suaves.
Junte o açúcar e bata para incorporar.
Misture as claras delicadamente ao creme de chocolate, novamente misturando de baixo para cima com a espátula - a mousse deve ficar homogênea tanto na textura quanto na cor.
Transfira para seis potinhos ou copinhos com capacidade para meia xícara (120ml) cada e leve à geladeira por 3 horas ou até firmar.


O acabamento com efeito de pedrinhas fiz com amêndoas cruas picadas, mas você pode usar amendoim, castanha de caju, do Pará, farofa para sorvete ou o que tiver em casa. E a plantinha aqui é hortelã, mas seus vasinhos também podem ser de menta, melissa, tomilho ou qualquer outra plantinha não tóxica que tiver à mão. Vale até flor.

Depois de ouvir todos os ahs e ohs das visitas encantadas, você vai ver como é uma delícia curtir a fama de anfitriã caprichosa!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Caruru-do-reino, a maledeta comestível


A primeira planta que conheci na primeira vez que fui na casa da Neide foi a última que eu poderia imaginar que seria comestível. No dia anterior à minha ida lá tinha passado horas arrancando (e xingando) a maledetinha, que subia por grades e plantas em todos os lados, aqui no sítio. Ela não quer saber de educação nem de direitos iguais; vai se agarrando, subindo e embrulhando tudo o que vê pela frente, porque é exagerada e quer saber das alturas. E sobe, sobe sobe.

Caruru-do-reino (Anredera cordifolia) é o nome da desvairada. Eu não conhecia e até hoje só a vi aqui e na casa sede do Come-se, o bunker da Neide, mas ela me disse que o caruru reina por aí, nasce em jardins e terrenos abandonados, e que já o viu em mais lugares em São Paulo. A planta toda é comestível. As folhas são suculentas e nutritivas e podem ser preparadas inteiras ou cortadinhas como couve e depois refogadas. As batatinhas são parecidas com inhame: têm um pouco de baba, então podem ser cozidas em água com um pouco de limão ou vinagre, e depois refogadinhas. Ou não. Para saber todos os detalhes, características nutricionais, nomes populares ao redor do país e modos de propagação da planta, clique aqui e aqui e leia dois posts super completos.

O que fiz ao voltar para casa foi correr atrás de algum restinho do caruru-do-reino para me redimir da devastação e me desculpar fazendo dele uma bela refeição. Saí de cestinha por aí, a la Chapeuzinho, e colhi alguns ramos e batatinhas, mas só encontrei um restinho, muito menos do que joguei fora uns dias antes.

As folhas, cortei e refoguei como couve, e as batatinhas cozinhei em água sem limão nem vinagre, para conhecer o quanto de baba elas realmente têm. A conclusão foi de que fica entre o inhame e o quiabo.



Depois juntei tudo numa frigideira com um arroz integral que já estava na geladeira e mais uns enfeitinhos: tomate, cebola, salsa e cebolinha...


Rendeu um risotinho legal que comi sorrindo, surpresa, pensando na quantidade de comida boa que a gente joga fora sem saber, sem falar da que a gente já desperdiça sabendo. 'Brigada por mais essa, Neide.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Vinagre: 1001 utilidades - parte 5 - na limpeza de vidros


É bem no comecinho do dia, quando os raios de sol chegam de lado nas janelas, que a gente percebe como o vidro está sujo. Aqui no sítio não temos o problema da poluição nem da sujeira oleosa que sai do escapamento dos carros nas cidades movimentadas, mas em compensação as vidraças ficam cheias de uma terra bem fininha e marcas de bichos variados que se chocam, como aqueles que morrem no parabrisas, na estrada. E mais uma sujeira esbranquiçada que faz a vista do jardim ficar turva, opaca, como visão de mergulho submarino.

Pois hoje cedo me deu os cinco minutos e ataquei de álcool, vinagre, pano e jornal, para fazer uma experiência. Limpa-vidros já era, não compro faz tempo. Caiu fora da lista de supermercado quando comecei a substituir produtos de limpeza industrializados por soluções caseiras, que são sempre mais baratas e menos tóxicas.

Andava usando jornal amassado embebido em álcool, como aprendi na casa da Mamma - e é ótimo - mas desde a última limpeza estava para experimentar vinagre com água, seguindo indicações. Limpei metade da janela e já aprovei. Mais do que aprovar, achei espetacular. O vidro simplesmente desapareceu e entrou em casa o verde lá de fora, lindo, vivo, enchendo a casa de jardim.


Fiz algumas variações de diluição para testar e acabei chegando à conclusão de que, ao menos para a sujeira daqui, funciona muito bem diluir um copo de vinagre (vinagre de álcool, que é o que uso para tudo) em três copos de água. Mas você pode fazer seus testes, se achar necessário. Cheguei a usar vinagre puro, que funcionou também, mas se diluído limpa bem, é desperdício usá-lo puro.

Na hora de aplicar, mais testes:
- Mergulhei um pano limpo no balde, torci e passei direto no vidro, secando em seguida com outro pano bem sequinho. Ótimo.
- Umedeci uma folha amassada de jornal na solução de vinagre e passei no vidro, secando em seguida com um jornal seco. Ótimo também.
- Borrifei a solução de vinagre no vidro, passei pano e sequei em seguida. A mesma coisa com jornal. Ótimo de novo.

Tudo ótimo, funciona de qualquer jeito.
E melhor ainda é relembrar as vantagens pré e pós uso: vinagre é barato, está à venda em qualquer lugar, não é tóxico para a pele e não polui a água que vai para o esgoto na hora da lavagem do pano.

A indústria que me desculpe, mas limpa-vidros nunca mais. Para que?

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O gervão e as fadas


Há cerca de um ano comprei, na Sabor de Fazenda, uma mudinha de gervão (Stachytarpheta cayennensis). Foi depois de ouvir a Sabrina contar, numa aula para crianças, que uma antiga lenda diz que as fadas gostam de comer suas flores. Já conhecia a espécie mas nunca tinha visto plantas bonitas, florescendo em quantidade, então não me dizia muita coisa. Mas naquele dia foi bonito ver a meninada logo se juntando em torno de uma grande touceira para beliscar o petisco das fadas.

Meu gervão cresceu e floresceu bonito. Fada mesmo ainda não vi por aqui (talvez eu me torne uma delas, já que venho comendo flores diariamente), mas a linda planta me cativou e hoje enfeita minha horta, toda pintadinha de azul.

O livro Plantas Medicinais no Brasil, de Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos, ensina que o gervão, gervão-azul ou falsa-verbena é planta nativa do Brasil e chega a ser considerada planta daninha em algumas áreas do país. É amplamente utilizada na medicina tradicional brasileira na forma de chás quentes feitos de suas folhas e tem diversas propriedades curativas, como tônico estomacal, diurético e estimulante digestivo, entre outras. Em países do Caribe é largamente empregada como vermífugo e anti-helmíntico, e entra na composição de várias fórmulas comerciais contra vermes e parasitas intestinais na Jamaica. Na Índia, o chá quente feito com as folhas é usado contra disenteria, febres, inflamações reumáticas e externamente em banhos contra úlceras purulentas.

Contra prisão de ventre, prepare o chá adicionando 1 xícara de água fervente em um recipiente contendo 1 colher de sobremesa de folhas fatiadas. Espere alguns minutos, coe e beba, na dose de 1 xícara de chá duas vezes ao dia, antes das refeições.

Para adquirir uma muda, vá visitar a Sabor de Fazenda, um lindo viveiro de ervas orgânicas na Vila Maria, em São Paulo, que abre também aos sábados, das 8 às 17 horas. E por falar nisso, neste sábado 24 de novembro vai rolar o curso de horta caseira orgânica, ministrado pelo Marcelo Noronha. Tudo sobre a montagem da horta em pequenos espaços e dicas de plantio, regas, adubação, incidência de luz, etc. Para saber mais detalhes e fazer sua inscrição no curso, acesse o site da Sabor de Fazenda.



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Couve em vaso

Couve rendada, uma delícia refogadinha com alho

Hoje o dia está corrido e para o almoço, pronto na geladeira, eu só tinha arroz e feijão. Sem problemas, adoro e como todos os dias com gosto, mas faltavam coisinhas pra dar uma incrementada. Nessa hora, ter uma horta em casa faz toda a diferença. Desde o começo das minhas plantações, nunca tive a pretenção de comer só o que produzo. Uma horta grande e variada que possa prover uma casa de vegetais em quantidade suficiente para dispensar a compra de horti fruti dá bastante trabalho e exige mais tempo e dedicação do que tenho disponíveis atualmente. Por isso, desde o começo, alterno culturas pensando no que gosto de ter como acompanhamento e no que é prático para complementar uma refeição, fazer um molho de macarrão, coisas assim.

Mas o que tenho colhido tem sido suficiente para comer bem variado e, muitas vezes, ainda sobra para presentear vizinhos e amigos. É o caso dos pés de couve. Quando me mudei para o sítio ganhei da D. Leonia seis mudinhas de uma linda variedade de couve toda recortada que batizei de couve rendada, mas quando ainda morava em São Paulo já tinha feito experiências super bem sucedidas com couve comum em vaso. Ambas são plantas fáceis de cultivar mas exigem alguma paciência e dedicação no quesito combate a pulgões.

Na verdade toda a família das couves - couve manteiga, couve-flor, brócolis, repolho - tem esse inconveniente. Vira e mexe as folhas são atacadas por pulgões, que sugam a seiva da planta e vão minando sua energia até a morte. São bichinhos brancos, cinzas ou pretos que aparecem na face inferior da folha, todos juntinhos, trabalhando em grupo. Esse ataque pode acontecer em qualquer época do ano, mas é mais frequente durante o calor intenso e quando faltam regas suficientes. Para combatê-los, o velho e bom óleo de neem resolve. Veja o post sobre pragas nas plantas.

Uma opção de prevenção ou mesmo de combate, quando a situação ainda não é grave, é esguichar as folhas por baixo com um jato forte de água, assim os pulgões se desprendem. Retirar do pé as folhas velhas, que não serão mais usadas porque estão feias, também ajuda a manter a couve livre de pragas, porque faz com que a planta fique bem arejada, sem folhas emboladas, que são o ambiente perfeito para pulgões se esconderem.

No mais, o cultivo é fácil, sem surpresas, e a colheita é recompensadora. Hoje tenho cinco pés de couve rendada e colho cerca de 15 folhas a cada duas semanas. Quando tinha só uma, em vaso, colhia 3 ou 4 folhas a cada duas semanas, que são o suficiente para duas pessoas. E o pé dura muitos meses, acho que mais de ano. Você já começa a colher folhas quando ele ainda é baixinho, com 30 cm de altura, e com o passar do tempo ele vai ficando alto, chega a mais de 1,5 metro.

Se quiser experimentar ter uma couve no vaso, plante em um que tenha, no mínimo, 40 cm de altura. Capriche na escolha da terra, bem fértil, adubada, para garantir uma couve saudável e bem bonita. E coloque-o num lugar onde bata pelo menos 4 horas de sol todos os dias. As regas devem ser frequentes para manter a terra sempre úmida. Se secar, sua couve vai murchar rapidamente.

É possível encontrar mudinhas prontas para o plantio no vaso em boas lojas de jardinagem. Ou então faça as suas a partir de sementes, seguindo o passo a passo do post como fazer uma sementeira.

Antiga couve comum, cultivada em vaso no quintal de São Paulo

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Botando o dever de casa em dia

Capuchinha, flor comestível e bastante visitada por abelhas

Uma semana praticamente fora da web, botando meu dever de casa em dia.

No início da semana passada, em São Paulo, fui à pré-estreia do filme Muito além do peso, de que falei aqui. Para começar já foi gostoso ver uma meninada super empolgada com o buffet lindo que recebia a plateia de adultos e crianças logo na entrada do auditório. Todas as comidinhas e petiscos eram vegetais, a grande maioria deles in natura. Tinha cestinha de amora, framboesa, maçã verde, pêssego, palitinhos de cenoura e pepino e alguns tipos de batata cortadas em fatias fininhas, tipo chips, assadas. Para beber, sucos naturais e águas aromatizadas com hortelã e limão, pétalas de rosas e capim santo. Tudo delicioso e muito charmoso.


Depois das comidinhas, o filme. Muito bom, obrigatório e esclarecedor para quem come e bebe tudo e qualquer coisa que passe por dentro de uma indústria de alimentos e porte uma embalagem que não seja sua própria casca natural. São assustadores as quantidade de óleo e açúcar acrescentados nas comidas processadas, e médicos entrevistados explicam que são esses os ingredientes que criam dependência e fazem a gente não conseguir largar refrigerantes e salgadinhos antes do fim do pacote. Além disso, células gustativas educadas à base de óleos e açúcares nunca serão muito receptivas a vegetais. Isso explica porque muitos adultos, apesar de conhecerem a importância de uma alimentação saudável, têm tanta dificuldade para se habituar com legumes e hortaliças.

Impressiona ver crianças se jogando no chão aos berros até ganharem dos pais um saco de batatas fritas, e uma mãe de duas ou três filhas dizendo à entrevistadora que não se lembra se houve o preparo de alguma refeição naquela casa ao longo da última semana. Detalhe importante: essa cena acontece diante de uma mesa coberta com o que foi tirado de dentro da dispensa da família. Tudo processado, empacotado e cheio de flavorizantes, conservantes e corantes. Nem um único vegetal. E a mãe completa dizendo que se preocupa que as meninas estejam bem nutridas, por isso procura comprar produtos vitaminados. É surreal.

Surreal também é ver uma menina de 12 anos, acima do peso, contar que há dois anos teve uma crise de pressão alta e trombose, que causou nela a paralisia das pernas. Depois da internação de emergência e do tratamento inicial, a orientação dos medicos foi mudança de hábitos alimentares e perda de peso urgente, para evitar que a crise voltasse a acontecer. E quando a entrevistadora pergunta quantos quilos a menina emagreceu desde então, a resposta é "nenhum".

De volta aos meus hábitos alimentares, fui à Agroplus (de onde falei aqui) comprar mudinhas para a horta. Talvez pela época propícia ao plantio de muitas das famílias de hortaliças, encontrei ainda mais variedade do que na última vez em que estive lá, e tive medo de chegar de volta e não ter onde plantar tudo o que trouxe.


O radiche coube nos canteiros junto com as mudas de quiabo, pimenta cambuci, acelga e brócolis, entre outras coisinhas, mas a abóbora foi para um cantinho do gramado, bem rente à cerca viva. Assim terá espaço para espalhar suas ramas e formar um maciço, uma ilhota baixa no meio das árvores. Experimentei plantar assim no ano passado e deu super certo. Foi só tirar um disco de grama do lugar escolhido e caprichar na cova, cavando um buraco de mais ou menos o volume de um balde desses médios, domésticos, e preenchê-lo com uma terra boa, bem fértil. Ali as raízes principais da planta se alimentam, e as ramas crescem por cima da grama mesmo, lançando suas raízes "acessórias" nos espacinhos vagos que vão encontrando no caminho. Como o pé de abóbora tem o ciclo de vida curto, dentro de 5 ou 6 meses para de produzir e morre sozinho, daí é só recolher toda a folhagem morta e começar tudo de novo. Ou não. A grama pode estar meio feia onde estava o "abobral", mas certamente não terá morrido. Uma boa roçada seguida de regas abundantes (grama gosta bastante de água) faz tudo voltar a ser como era antes. No ano passado tive visita que achou lindo e disse que ia copiar em casa. Pronto, pé de abóbora virou planta ornamental.

No feriado emendado de quinta e sexta-feira (que não acabou até hoje, terça, em algumas cidades do país) trabalhei - e como trabalhei - na horta. Planto minhas comidinhas em canteiros que um dia serviram de estufa de marantas mas estavam abandonados há alguns anos, tomados de mato, e quem já plantou onde antes era mato conhece bem as dificuldades que estou passando. Com anos e anos de abandono a terra se enche de sementes de diversas espécies de mato e assim que você arranca o que está crescido, a luminosidade combinada com a água faz com que novas sementes germinem. Você arranca o novo mato e novas sementes germinam. E de novo, e de novo, um sem fim de vezes. Muitos dos "matos" que nascem nos meus canteiros na verdade são plantas úteis para chás, saladas ou refogados. Quando recebi visita da Neide, do Come-se, a cada pouco caminhado ouvia dela "você conhece isso?, é de comer". Muitas das espécies conhecia, sim, como dente-de-leão, beldroega, serralha, maria-preta, mas outras não tinha a menor ideia do que seriam.

De qualquer maneira as tenho classificado como "mato" porque estão nascendo onde quero ter couves, rúcula, tomate, cenoura, alfaces, ervas diversas, etc, e como normalmente essas invasoras se desenvolvem mais rápido do que o que quero cultivar, se não arrancá-las perco o que plantei. Só que essa batalha ELAS versus AS MINHAS só será vencida pelas MINHAS seu eu arrancar ELAS sistematicamente, até que acabe o banco de sementes e eu consiga ter um pouco mais de sossego. Enfim, passei horas a fio debruçada arrancando o que não quero ter dentro da horta no momento.

Nesse canteiro, por exemplo, só eu sabia que cresciam tomateiros.


Mas arranquei o que estava atrapalhando e deixei só o que interessa (da pra ver o pequeno tomateiro bem ali, no centro da foto?).


A mataiada ficou por lá mesmo, estendida sobre a terra com a função de cobertura vegetal, também conhecida como mulching. Uma vez falei sobre isso, aqui. Desde que o que foi arrancado não esteja com sementes, é ótimo deixar tudo ali mesmo, primeiro secando e depois se decompondo, para enriquecer a terra com nutrientes, além de evitar que a umidade evapore. Toda terra coberta, por qualquer coisa que seja, é sempre mais rica e fértil do que aquela permanentemente exposta, que perde sua vida e sua fertilidade dia após dia pela ação do sol e do vento. Basta levantar um vaso, um jornal ou mesmo um pedaço de plástico velho que tenha ficado sobre um canteiro para ver ali um tanto de minhocas, centopeias e tatus-bola, todos seres que vivem em locais úmidos e com boa disponibilidade de matéria orgância. Eles e milhares de outros seres microscópicos são o sinal de terra boa, viva, pronta para receber plantas.

E como recompensa, depois de tanto trabalhar a terra, chega a hora de comer a produção. Recentemente andei colhendo cenouras e abobrinhas italianas, e nesses dias de feriado foi a vez das folhas. Preparei lindas saladas coloridas, com o verde das rúculas e o roxo das folhas de amaranto, que complementaram o vermelho fresquinho dos tomates. É sempre muito mais gostoso comer o que a gente mesmo plantou.


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Muito além do peso - o filme


Alguma coisa está muito errada quando um menino de oito anos olha para um chuchu e diz "coco?". E uma menina da mesma idade, com um pimentão nas mãos, diz "abacate?".

"Tem criança que nunca viu uma batata, só conhece frita", diz Estela Renner, diretora do filme Muito além do peso. O documentário, que estreia nos cinemas em 16 de novembro, mostra as causas e efeitos de uma das maiores pandemias da modernidade: a obesidade infantil. Dados como
  • o brasileiro come, em média, 51 kg de açúcar por ano
  • 56% dos bebês tomam refrigerante frequentemente antes de completar o primeiro ano de vida
mostram que a falta de educação alimentar está produzindo a primeira geração de crianças com expectativa de vida menor que a de seus pais. É mais uma questão de saúde pública com raízes muito fortes no ambiente doméstico, onde a gente experimenta (ou deveria experimentar) brócolis e cenoura pela primeira vez para, aos poucos, ir educando o paladar. E se os pais não fazem seu dever de casa na educação dos filhos, o resultado é o que se vê hoje em todo o mundo: mais crianças morrendo de obesidade do que de fome.

O filme tem pré-estreia gratuita hoje, às 20 horas, no auditório do parque Ibirapuera. Para garantir seu lugar é preciso retirar o ingresso com uma hora de antecedência. E logo após a exibição haverá um debate com a participação de Frei Betto, Ann Cooper, Amélio Godoy e Estela Renner. Eu vou.

Se você não puder ir assista ao menos o trailler, no site www.muitoalemdopeso.com.br e se programe para ver o filme no cinema. Porque todos nós estamos envolvidos com alimentação e saúde, não estamos?

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Feira de orgânicos no Ibirapuera


Agora é para valer. Começa amanhã a feira de produtos orgânicos e agricultura limpa do Ibirapuera. Mais um point de gente que valoriza a compra e a venda de comida limpa, produzida sob preocupações com saúde e meio ambiente. Tudo o que você já ouviu falar sobre alimentos orgânicos, agricultura familiar, comida local e comércio justo estárá lá, para quem quiser por a teoria em prática dentro de casa.

Vá ao menos visitar, prestigiar, bater um papo, tomar um café da manhã gostoso na feira e se deixar contagiar. E aproveite por mim, que morava ao lado do Modelódromo do Ibirapuera quando a feira infelizmente ainda não existia.

Cultivar para aprender a respeitar

Folhas rasgadas de amaranto comestível (variedade Red Asia)

Uma horta em casa enfeita o jardim e relaxa as tensões do dia a dia, premiando a gente com ervas, temperos, saladinhas, legumes e hortaliças frescas. Mas não é só isso. Acompanhar nossa comida crescendo dentro de casa nos ensina a reconhecer o valor de uma refeição. Ensina que aquilo que você vai jogar fora porque se serviu com o olho maior que a barriga demorou semanas, às vezes meses para existir. E ensina também que a frescura do consumidor é inimiga do trabalho do agricultor.

Quem tem horta ao ar livre descobre rapidinho que uma chuva de granizo, por exemplo, é capaz de acabar com a boniteza de uma lavoura, rasgando folhas e furando frutos que até então estavam perfeitos e fariam a felicidade de qualquer consumidor na feira. Cinco minutos de pedras caindo e está tudo estragado, pelo menos no que diz respeito ao visual. As folhas daquele alface repolhudo que você acompanhou desde a sementinha, sua couve manteiga linda de morrer, as rúculas... tudo picotado. As abobrinhas, tenras e lisinhas que mais pareciam de plástico... todas machucadas por pedras geladas.

Plantação de comida é natureza, e natureza está sempre sujeita a intempéries. E vai reclamar com quem? Tem número de disque-denúncia? Depois da tempestade o sol volta a brilhar, a vida continua, mas as feiras e hortifrutis ainda contam a história dos dias passados. E a gente lá, de frescura, revirando as bancas atrás da comida perfeita. O pimentão não pode ter um rasguinho. Abóbora furada e tomate amassado, de jeito nenhum. Cenoura torta, então... Sem falar na reclamação do preço, que aumentou demais. Pois é, aumentou porque o produtor perdeu muito de sua colheita por causa da seca, ou da chuva demais, ou do granizo...

Não, não estou advogando em defesa da "associação do agricultor injustiçado pelas condições climáticas" nem ignoro que atravessadores e supermercados também têm responsabilidade sobre produtos bem conservados e preços acessíveis. Escrevo o desabafo de quem teve a horta atingida por uma chuva de pedras e aprendeu a deixar de ser fresca na hora de escolher comida viva.

Abobrinha italiana furada por pedras de gelo

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Para comer com os olhos e com a boca


Dois charminhos da horta, para enfeitar e para comer.
Na frente, peixinho, lambari ou orelha-de-lebre (Stachys byzantina ou Stachys lanata). É uma graça, bem peludinha, parece mesmo orelhinha de coelho fofo. Os nomes peixinho e lambari são porque se come as folhas empanadinhas em farinha e ovo e depois fritas, e elas ficam parecendo peixinhos-aperitivo. Uns adoram e outros, depois de experimentar, fazem cara de nada. Estou no segundo grupo. Mas o efeito decorativo é inegável, pelos pelinhos e pelo verde claro levemente azul-acinzentado, que se destaca do verde vivo da maioria das ervas e hortaliças. Nunca vi sementes à venda, mas a Sabor de Fazenda tem mudas e, se algum conhecido seu tiver, peça para ganhar um raminho, mesmo que seja sem raiz. Com um pouco de talo enfiado na terra a orelha-de-lebre enraíza em poucos dias e logo já começa a soltar folhas novas.

E no vaso de trás, amor-perfeito (Viola tricolor) em versão mini. Assim como o amor-perfeito de tamanho normal, se adapta otimamente bem em lugares de meia-sombra. Nada de muito sol direto nem calor demais. É perfeito para hortas em apartamento e vai bem em vasos pequenos e jardineiras. É preciso regar a cada dois dias e então a planta retribui com lindas flores comestíveis que se parecem com pequenas borboletas. Para colocar muitas numa salada bem colorida ou poucas num cantinho do prato, enfeitando com minimalismo.
As opções de cor são as mais variadas que você possa imaginar, incluindo bi e tricolores, e o bom é que a planta está meio na moda, então tem sido fácil encontrá-la em boas lojas de jardinagem. Existem pacotinhos de sementes da variedade de tamanho normal. Da mini nunca vi, mas mudinhas em saquinhos já vêm florescendo e ainda crescem mais quando vão para um vaso com terra boa. Vale a pena.

Duas espécies super recomendadas e fáceis de cuidar. Tem um espacinho aí?

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Lagartas na horta


Horta precisa de supervisão diária com olhos atentos e detalhistas, senão, é uma bobeadinha só e alguém come suas hortaliças antes de você.
Ontem no final da tarde, enquanto regava a minha, descobri que as rúculas estavam sendo comidas. Alguns pés já estavam sem folhas, enquanto outros ainda pareciam intactos.


Quando as folhas somem e ficam só os caules, é fácil descobrir quem é. Lagarta. E também é fácil encontrá-las, porque costumam ser grandes e em alguns casos são coloridas.
As de ontem por sorte eram poucas, cinco ou seis, e tinham começado recentemente a comilança, então o estrago era pequeno. Mais dois dias e certamente teriam devorado tudo. Lagartas são rápidas e vorazes, comem sem parar e aos montes.


Se você ainda não passou por isso, muito provavelmente um dia passará. É quase inevitável. E se acontecer será um bom indicativo de que você tem uma horta saudável em casa, cheia de vida, e um dia recebeu a visita de uma borboleta que aprovou sua plantação e resolveu procriar.

Borboletas colocam seus ovos onde suas filhas lagartas possam se alimentar em abundância. E a escolha da planta não é ao acaso. Cada espécie de lagarta se alimenta de um tipo de planta específico. Normalmente é fácil achar um ninho desses no verso das folhas. Os ovos costumam ser de cor clara e ficam meticulosamente organizados em linhas, num capricho só. E são "autosuficientes" - se desenvolvem sozinhos, sem necessidade de ninguém para chocá-los. Depois de alguns dias nascem pequenas lagartinhas que logo começam a se alimentar das folhas onde nasceram, e aí começa o arraso. Depois de dar cabo de tudo (ou quase tudo!) elas param de comer e saem em busca de um lugar onde poderão passar em paz pela fase da metamorfose, para então se transformarem em borboletas.

É um ciclo bonito de acompanhar. O que não é bom é ter sua rúcula devastada, então...
A primeira e melhor opção de combate é a catação manual. Não custa nada, não intoxica você nem a planta e só exige alguns minutos de trabalho. Proteja-se com uma luva de plástico, já que algumas lagartas queimam, e tome coragem para pegá-las, uma a uma. No começo pode parecer um pouco estranho - elas são meio moles e se mexem na sua mão - mas respire fundo e continue.

Não sou das pessoas que cata lagartas com muita naturalidade, confesso, mas também não tenho coragem de matá-las, então recolho todas dentro de um saco ou copinho plástico e solto longe de onde as encontrei. Sei que isso pode não significar sobrevivência, uma vez que elas podem não encontrar o que comer, mas se virarem comida de passarinho, ao menos serviram para alimentar alguém.

Voltando à questão do combate, existe um plano B aceito dentro dos princípios do cultivo orgânico de alimentos que se chama Bacillus thuringiensis. Trata-se de uma bactéria que se aplica nas folhas e, quando ingerida pelas lagartas, produz uma proteína de efeito inseticida. Não é tóxico para humanos nem animais domésticos e pode ser encontrado nas lojas de jardinagem em forma de pó, que deve ser diluído em água e aplicado com borrifador na planta infestada. Vem num envelopinho pequeno e barato. Já experimentei e resolve mesmo, mas às vezes é mais rápido e prático catar as lagartas do que sair para comprar o bacilo, aplicar na planta e esperar as lagartas morrerem. Mas em caso de infestações graves, de 100, 200 lagartas numa planta das grandes, é bastante prático.