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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Carnaval no jardim

Flores, Arthur (que nem veio pra almoçar mas não resistiu, Marcos e Neide)

No domingo, repetindo pela terceira vez o que eu já chamo de tradição desde a segunda, nos encontramos Neide, Marcos, Flores e eu para ao menos um dia juntos durante o carnaval. Nos anos anteriores fomos ao sítio deles carregados de plantas para enriquecer a diversidade por lá - plantas são o nosso assunto. Desta vez eles vieram a Holambra, no nosso sítio, carregados de comidinhas, folhas e flores secas para chá, frutinhas para sobremesa, maracujá para semear… comidas são o assunto deles.

Não houve muito planejamento, mas eu e Neide trocamos por celular algumas mensagens sobre fazer macarrão caseiro colorido. Minha irmã Mari, a Mariana Valentini da Brodo Rosticceria, fez lindas gravatinhas coloridas para o carnaval que eu só vi pelo Instagram mas que me inspiraram bastante. Comer é uma delícia, e comer comida bonita é melhor ainda. Em boa companhia então…

Pois ficou combinado que almoçaríamos massa. A Neide, sempre muito prática e animada, ofereceu de trazer a máquina e flores azuis de Clitoria ternatea para testarmos a cor na comida. Eu botei na roda a primeira moranga colhida este ano no jardim e beterrabas, assim teríamos três cores no prato.


Só que das caixas vindas da cozinha do blog Come-se saíram muito mais do que ingredientes para chás e macarronada. Veio uma tigelona de coxas de frango para os que comem carne, uma boa fatia de melancia, um punhado de siriguelas, maracujás de duas espécies para sucos e mudas, uma metade de limão siciliano que só hoje encontrei esquecida na geladeira… É interessante como para quem trabalha com comida é tudo muito simples. Rapidinho junta-se uma coisa com outra com outra e com outra e vai a assadeira cheia para o forno. O processador de alimentos (que também veio na mala) em um instante transforma tomate fresco com melancia e temperos em um delicioso gazpacho pra comer como entrada. E enquanto eu fico pensando se é melhor juntar dois disso com três daquilo ou ao contrário, a Neide já bateu a massa de abóbora e eu nem vi como ela fez.

O gazpacho ficou delicioso. Acho que
quero ter um processador de alimentos...

Uns minutos depois já estavam prontas três bolas de massa: a azul clarinha, colorida com flores de Clitoria ternatea; a amarela, feita com abóbora moranga e uma roxinha linda, de beterraba. O próximo passo era instalar a máquina numa superfície grande pra trabalhar, e a despeito das moscas e dos cachorros de plantão, Neide escolheu montar a traquitana toda lá fora, na grama, sob a sombra da Teca.

No melhor estilo gambiarra, com cadeiras viradas sobre a mesa e um pedaço grande de cano de pvc, foi montado um varal para secar os fettuccines, e num minuto em que deixei a cozinha para ir ao banheiro ouvi risadas e fui chamada às pressas. Corre, vem fotografar! Não sei muito bem como aconteceu, mas em questão de segundos a primeira leva de massa de abóbora escorregou do varal de cano e foi parar na grama, e em mais um piscar de olhos os três cachorros devoraram aquilo tudo.


Depois das melhorias no varal para evitar futuras perdas vieram lindos fettuccines azuis e roxos combinando com a camiseta da cozinheira, e comemos nossa macarronada com molhinhos de manteiga e sálvia e de tomate, junto com as coxas de frango e fatias de abóbora assadas com temperinhos da horta. Isso é que é almoço de domingo!



Marcos, o companheiro que acompanha,
espantava moscas e ajudava na produção da massa





Hoje acordei pensando em contrastes.
A massa foi a Neide que fez e o molho fui eu, com tomates pelados de lata mas quase sem processamento industrial. A manteiga era de pacote mas a sálvia é produção da casa. Os corantes da comida eram totalmente naturais: beterraba, abóbora do quintal e flores da horta da Neide. Comemos na mesa sobre a grama, debaixo de uma árvore bonita, com moscas e cachorros por perto, sem muitos problemas.

Agora pense em alguém que more num apartamento. Pode ser você, pode ser eu, que já fui muito urbana. Essa pessoa acorda lá no alto, décimo segundo, vigésimo quinto andar. Olha pela janela só pra saber se faz sol ou se chove e se enfia rápido numa roupa, café solúvel numa mão, bolacha de pacote na outra. Pega o elevador com o vizinho que nem responde o bom dia e aperta o G3, a garagem mais do alto. Entra no carro, afivela o cinto e logo se entala no trânsito; cinquenta minutos pra chegar ao trabalho. O prédio de escritórios fico no topo de um shopping, daqueles com muitos níveis de garagem. De novo o G3. Estacionamento cheio, vaga apertada, elevador lotado, a mesa tomada de pilhas de papel e um monte de e-mails para responder. Na hora do almoço a praça de alimentação salva: um salgado frito com refrigerante diet, porque não vai dar tempo de almoçar direito. De tarde telefone, computador, reunião no ar condicionado, cafezinho da máquina no copinho plástico, mais computador, mais telefone… Acaba o expediente e o dia termina como começou, só que ao contrário: mesa ainda tomada de papéis e os e-mails a responder, elevador lotado, vaga do carro apertada, fila pra passar pela cancela do estacionamento, uma hora e vinte no trânsito até chegar em casa, G3, elevador com os vizinhos… e chega o momento relax: um banho quente (mas rápido por causa do rodízio de água), pijaminha de malha feito de fio de garrafa PET (sustentável) e um jantarzinho leve (salada hidropônica com nuggets de vegetais e um chá gelado, daqueles de misturar o pozinho na água. Sabor pêssego).

Essa pessoa (eu, você, alguém da sua família) não colocou o pé na Terra! Não digo descalço, na terra terra, aquela que tem minhocas, falo do planeta Terra! O dia inteiro se passou no alto, em andares de cimento. Os deslocamentos foram dentro do carro, as garagens eram elevadas, o almoço foi na praça de alimentação do shopping... Essa criatura não pisou numa calçada que seja, muito menos em um só metro quadrado de grama. Capaz que não tenha reparado no céu, não escutou um pio de pomba e nem comida de verdade comeu. Nem bebida de verdade bebeu! E pelo que me consta não inventei nenhum absurdo, nada que eu, você e seus conhecidos não tenhamos feito muitas e muitas vezes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte…

Antes que você me chame de Pollyanna, deixe-me dizer que não acho que tenhamos todos que nos mudar para ecovilas, plantar nossa própria comida, costurar nossas próprias roupas, vender nossos carros… Adoro dirigir, uso computador todos os dias, tenho pilhas e pilhas de papel sobre a mesa e dezenas de e-mails a responder, mas tenho tentado andar pelo caminho do meio. Planto horta (quando morava em São Paulo plantava em vasos), sento na grama com os cachorros no colo, como comida de verdade feita por mim em oitenta por cento das refeições, boto um tênis e vou correr na rua e tento, diariamente, melhorar minhas escolhas. Já morei em diversos lugares diferentes, já trabalhei com coisas saudáveis e com insalubres também, e a cada dia que passa acho mais importante e prazeroso o contato diário com a Terra. E mais: não conheço ninguém que tenha feito o caminho contrário sem ao menos cultivar um plano de, no futuro, voltar às raízes.

É um caminho sem volta. Quanto mais a gente planta, mais quer plantar. Quanto mais pensa na comida, mais se dedica a fazê-la saudável. Quanto mais põe a mão na terra, senta na grama e corre na rua, mais sente falta disso tudo quando por algum motivo não pode fazer. E tem mais uma coisa bem interessante: a gente começa a se relacionar com pessoas que fazem o mesmo, que pensam igual, que andam pela mesma trilha sem querer voltar pra trás. É o caso da minha amizade com a Neide. Quando eu morava em São Paulo, trabalhava muito perto da casa dela e era um pouco aquela pessoa que não tinha tanto contato com a Terra, a gente não se conhecia. Agora que ficamos amigas, pergunta se eu quero passar um Carnaval sem ela???

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Generosidade


O mundo para quando ele vem aqui, e eu largo tudo o que estiver fazendo só pra ouvi-lo falar. Ele sabe tudo de plantas e tem no viveiro nada mais nada menos do que 1.200 espécies delas (aposto que tem mais; sempre tem umas que ficam esquecidas na hora do levantamento). O que não tem no sítio no momento ele diz quando vai ter ou conhece quem tem. Ou melhor ainda: diz que no trevo da cidade tal, do lado esquerdo de que vem de X e vai para Y tem um pé daquilo, que no ano passado não deu flor mais que nesse já está dando, e daqui a tanto tempo vai ter semente, e que o momento certo de colher é...

Já viajou o país inteiro diversas vezes garimpando espécies e cita montes de lugares interessantes que abrigam o que há de mais bonito e curioso no reino vegetal. Diz que hoje não tem mais aquele pique de antigamente, quando percorria mais de mil quilômetros num único dia visitando produtores e propriedades, então agora só encara 4 ou 5 horas no volante de cada vez. Só que falta tempo. Precisaria ter alguém para deixar no viveiro no lugar dele enquanto ganha mais mundo. Para isso tem ensinado Gustavo, o filho, que é daqueles casos que dispensam exame de DNA. Olhando um ao lado do outro você entende o real significado do termo herança genética.

O nome dele? Edilson Giacon, do viveiro Ciprest.

Não bastasse tudo o que essa criatura conhece, digo com toda segurança que é uma das pessoas mais simpáticas e generosas que conheço. Pra começar ele fala sorrindo, o que faz qualquer conversa ficar mais especial. E sorrindo ele vai contando casos, falando nomes, descrevendo formatos de folhas, flores, frutos e ensinando coisas que eu não sei. Como o que mais tem é coisas que eu não sei, ele passa horas respondendo (numa boa!) as minhas perguntas. Com a maior generosidade me ajuda a identificar o que estamos cultivando sem saber o que é, sugere alterações, melhorias e ainda pede preços e reserva lotes. 

Estamos muito próximos um do outro - coisa de meia hora de estrada - e ele às vezes compra plantas aqui, o que me deixa muito lisonjeada. Nada mal poder fornecer algo para quem é referência nacional por ter de tudo. Mas ele está sempre atrás de mais: invariavelmente chega com novidades de uma planta nova que conseguiu que alguém mandasse de outro continente e que já está multiplicada, enraizada e crescendo no viveiro. Assim, garimpando sem fronteiras, ele hoje tem variedades especiais como a orquídea que produz a verdadeira baunilha em fava, a Amapá - árvore que dá leite tão nutritivo quanto o leite materno, as diferentes espatódias branca e amarela, o cipó-alho, diversas frutíferas que você e eu nunca ouvimos falar, muitas variedades de manga e laranja, sem falar dos perfumadíssimos limões yuzu, cafir e agora também um  novo que me trouxe de presente: o limão-caviar, ou "caviar vegetal".

Folhagem fininha do limão caviar

A folhagem é uma graça, e mais bonito ainda parece que é o interior do fruto, que ao invés dos gominhos em formato de gota, como todos os cítricos, tem o sumo embalado em bolinhas verdes, amarelas ou alaranjadas, dependendo da planta.

Fico sempre tentando retribuir tudo o que ele me ensina e me dá de presente, por isso, na visita da semana passada convidei-o a passear pelo jardim para ver como estão seus filhos - muito do que tenho de bonito veio da casa dele. O Combretum amarelo floresceu esse ano pela primeira vez e encheu nossa antena de ferro de delicadas escovas de cerdas macias. O eucalipto arco-íris ainda não coloriu mas cresce bonito, já está mais alto do que eu. A Hamelia patens dá flores e frutos o ano inteiro, e por causa dela sempre assistimos briga de beija-flores, que disputam a planta a bicadas. A paineira branca também floresceu pela primeira vez recentemente e foi o ponto alto do jardim por mais de um mês, com suas grandes flores de miolo cor de vinho. A fruta do milagre produziu bastante no primeiro semestre e agora com a chegada da primavera se animou a crescer ainda mais, já preparando botões para uma nova florada.

Combretum fruticosum florido no início do inverno

Flores da Hamelia patens,
super disputadas por beija-flores

Frutos da Hamelia patens,
super disputados por passarinhos vários

Flor da paineira branca
Ceiba glaziovii

Depois de três horas aprendendo, aprendendo e aprendendo ainda ganhei de presente uma poda no arbusto Alegria-dos-pássaros (Elaegnus umbellata), que também veio do Ciprest mas nunca fez a alegria dos voadores daqui. Já são dois anos tentando de tudo para que ele floresça e frutifique mas ainda nada. Acho que dei azar, porque quem tem a planta diz que ela produz fácil e realmente é um sucesso com a bicharada do jardim. Edilson conta que quando conheceu a espécie, anos atrás, teve a impressão de que macacos pulavam entre os galhos, de tanto que o arbusto chacoalhava. Chegando mais perto percebeu que eram pássaros, mais de uma centena deles num mesmo pé. Fez estacas, passou a produzir a espécie e batizou-a com esse nome mais adequado e sugestivo, para substituir Acerola-japonesa, que era como a chamavam. Parece que pegou, porque é assim que atualmente ele é conhecida, inclusive nos livros.


Quando Edilson foi embora fui curtir os presentes, repassar as anotações e, como sempre, fiquei me sentindo eternamente em débito pelo pacotão de coisas interessantes que sempre fica aqui comigo depois que ele sai pelo portão.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Flores na salada. As folhas são só um detalhe


Pode-se dizer que flores na salada são ingredientes perigosos. Depois que você começa a usá-las, nunca mais consegue parar. As saladas "comuns" perdem a graça e você nunca mais vai achar bonito um monte de folhas sem flores. Acredite, eu sei do que estou falando, aconteceu comigo.

No sábado tive visitas para o almoço e preparei uma salada de folhas com bolinhas de ricota e flores de gervão (já falei dele aqui). Lindo e gostoso, o prato fez sucesso. É nessas horas que a gente percebe como uma apresentação caprichada faz toda a diferença, porque as folhas eram as de sempre, a ricota era branquela como todas são e o prato poderia ter sido montado de um jeito qualquer, mas as mini-flores ganharam elogios pelo todo.

Não importa se você usa só uma florzinha ou muitas delas. A comida fica mais chamativa, a mesa fica mais colorida e todo mundo se encanta. É como passar um batonzinho antes de sair, ou colocar um broche ou um lenço sobre a camiseta lisa. Duvido você achar que fica melhor sem.



quinta-feira, 14 de março de 2013

Sobre valorizar


Passei alguns minutos do final da tarde de hoje filosofando a respeito de uma história que li na internet. Iram Leon, um corredor de 32 anos, tem câncer no cérebro e venceu uma maratona empurrando a filha Kiana em um carrinho.

"As pessoas não deveriam começar a viver quando disserem que elas irão morrer", diz ele.

A reportagem termina com: depois de ouvir músicas da Disney com sua filha durante a prova, Iram escolheu a "Carry on" para cruzar a linha de chegada por um verso em especial que diz "minha cabeça está pegando fogo, mas minhas pernas estão bem".

Saí para o jardim com uma xícara de café com leite quentinho e fiz um bom passeio filosófico pensando na declaração sobre começar a viver quando sabemos que vamos morrer. Me lembrei que também pensei muito nisso depois de viver o baque da morte de algumas pessoas queridas, época em que fui tomada por uma baita urgência de aproveitar a vida.

Outro tema que me fez pensar durante o passeio foi a notícia de que a L'Occitane, fabricante francesa de cosméticos, lança neste mês a L'Occitane au Brésil, nova marca que venderá produtos feitos no país com ingredientes locais. Até ai nenhuma (ou apenas alguma) novidade. O mais interessante é que a nova grife vai utilizar apenas ingredientes inéditos, nunca antes explorados pelas indústrias de cosméticos nacionais, e começa lançando produtos feitos com vegetais da caatinga e do cerrado.

O primeiro deles é o mandacaru (Cereus jamacaru), um cacto típico do sertão nordestino usado como alimento para animais. Depois de muita pesquisa descobriu-se que a espécie é muito eficiente na hidratação da pele e do cabelo. Não é à toa que mesmo nos piores momentos de seca o mandacaru mantém cabras e vacas hidratadas.

A segunda espécie nacional escolhida é o jenipapo (Genipa americana), fruta típica do cerrado muito utilizada na preparação de licores. Depois de se encantar com o cheiro da fruta, os profissionais da L'Occitane descobriram que ela tem grande potencial de restaurar tecidos danificados, que é tudo o que um creme para o rosto tem que fazer, nos dias de hoje.

Juntando maratonista desenganado com mandacaru e jenipapo cheguei à conclusão de que a gente é mesmo muito boba de só valorizar o que alguém nos diz que tem valor. Cheios de coisas em volta, estamos sempre achando que a grama do vizinho é mais verde. Que se é vendido é melhor do que se é de graça. Que se for mais caro deve ser ainda melhor.  E que se for morrer logo é melhor aproveitar de uma vez, mas se não for pra morrer agora pode deixar pra aproveitar mais tarde.

Quando me dei conta já aproveitava melhor o passeio, inspirando mais fundo para sentir o perfume da murta florida e o cheiro de chuva na terra. Comi acerolas no pé e colhi limões galegos para um suco mais tarde. Segui borboletas coloridas e fiquei quietinha curtindo a falação das maritacas no alto da nogueira-pecã. E me lembrei que hoje de manhã, pela primeira vez, vi cinco canarinhos amarelos comendo quirera e alpiste na mesa do quintal - até ontem vinham sempre só dois.

Passeios filosóficos em meio à natureza são um tanto mágicos e fazem a gente voltar pra casa mais feliz, com a certeza de que basta um pouquinho de boa vontade e observação e então conseguimos transformar isso:


Nisso:

Flores de maria gorda (Talinum paniculatum),
considerada praga invasora mas que também
pode ser usada como planta decorativa.
Basta olhar com olhos de ver.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Como escolher gérberas que durem


Sortuda é o mínimo que se pode dizer de alguém que sempre adorou gérberas e acaba indo morar num sítio cercado delas por todos os lados. Essa sou eu, que além de tudo acabei ouvindo do simpático vizinho produtor a frase mágica "fique à vontade para pegar quando você quiser".

Com toda essa proximidade acabei aprendendo alguns truques que fazem toda a diferença na hora de escolher as flores, que chegam a durar 15 dias na sala de casa. Antes de mais nada é importante saber que elas são como frutas: nascem verdes, amadurecem e daí estragam, por isso têm o momento certo para serem (es)colhidas.

O segredo da durabilidade começa no produtor, que deve fazer certinho a sua parte e mandar para o mercado flores colhidas no ponto exato de maturação. Nada de verdes demais nem passando da hora, porque nos dois casos elas murcham em poucos dias mesmo em água nova. As primeiras porque, no vaso, não se sentem mais nas condições adequadas para continuar o ciclo, e as últimas porque, muito maduras, já estão no final da vida.

A floricultura também deve fazer a sua parte e disponibilizar apenas flores frescas, bem escolhidas e ainda com muitos dias de vaso pela frente. Neste caso, fazer amizade com os vendedores sempre ajuda, porque claro que toda loja tem suas manhas e segredos, e clientes amigos e simpáticos acabam levam o melhor da mercadoria.

Em todo caso, nada como conhecer alguns detalhes para escolher com segurança as flores que vão enfeitar sua casa. O miolo da gérbera diz tudo sobre ela, veja:

Mistique amadurecendo - média durabilidade

Mistique madura demais - pouquíssima durabilidade

Todas as cores de gérbera têm nome (existem mais de 60 variedades!), e Mistique é minha favorita, top das tops. Nela é bem fácil perceber a evolução do miolo, que vai "enchendo" conforme a flor amadurece.

O que acontece, na verdade, é que as flores propriamente ditas estão no miolo das gérberas. Aquilo que nós, leigos, chamamos de flor, é, no vocabulário botânico, um capítulo: conjunto de pequenas flores agrupadas e protegidas por brácteas (folhas modificadas). No caso das gérberas, as brácteas estão reunidas numa base circular e têm cor, forma e textura, então formam algo vistoso que chamamos erradamente de flor.

O mesmo acontece nas outras espécies da família Asteraceae, ou Composta, que é também a dos girassóis e das margaridas. Em todas elas o vistoso são as brácteas, e as flores são aquelas anteninhas do miolo que vão se abrindo conforme amadurecem. Por isso, quando o centro da gérbera está todo cheio sabe-se que ela só dura mais um ou dois dias, afinal, todas as flores se abriram, amadureceram e em seguida morrerão (em alguns casos dando origem a sementes).

Mais exemplos, para treinar e pegar prática:

Dino verde - bastante durabilidade

Dino média - boa durabilidade

Uma observação importante: variedades como a Dino (acima) e a Presley (abaixo) têm dois grupos de brácteas. Um bem grande, de brácteas mais longas e externas, e um mais denso, de brácteas curtinhas, que fica bem ao redor do miolo. Cuidado para não confundir essas brácteas menores com anteninhas se abrindo, senão sempre vai parecer que a gérbera está passando do ponto. Veja mais:

Presley verde - bastante durabilida

Presley um pouco mais madura - boa durabilidade

Presley ainda mais madura - alguma durabilidade

Em todos os casos, conforme a gérbera vai amadurecendo vê-se menos do miolo e mais das anteninhas (flores) expostas. É sempre igual.

Rosabela verde - bastante durabilidade

Rosabela amadurecendo - boa durabilidade

Rosabela bem madura - pouca durabilidade

Tem também a variedade Sunny que, diferente das anteriores, tem diversas camadas de brácteas de tamanhos diferentes. Apesar disso, ela segue o mesmo padrão de flores amadurecendo no miolo, dá só uma olhada:

Sunny verde: bastante durabilidade

Sunny amadurecendo: boa durabilidade

Sunny madura: pouca durabilidade

Depois de escolhidas as flores, na hora de montar o arranjo você deve cortar as pontinhas dos caules dentro da água, para que não entre ar nos "caninhos" de circulação da seiva. Faça isso novamente a cada três dias, para renovar as pontas, e troque a água do vaso diariamente. São essas as dicas dos produtores. Aquela história de aspirina, pílula anticoncepcional, água sanitária e mais um tanto de coisas estranhas na água para aumentar a durabilidade é besteira.
Vergeet het maar!, diriam os holandeses.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Para comer com os olhos e com a boca


Dois charminhos da horta, para enfeitar e para comer.
Na frente, peixinho, lambari ou orelha-de-lebre (Stachys byzantina ou Stachys lanata). É uma graça, bem peludinha, parece mesmo orelhinha de coelho fofo. Os nomes peixinho e lambari são porque se come as folhas empanadinhas em farinha e ovo e depois fritas, e elas ficam parecendo peixinhos-aperitivo. Uns adoram e outros, depois de experimentar, fazem cara de nada. Estou no segundo grupo. Mas o efeito decorativo é inegável, pelos pelinhos e pelo verde claro levemente azul-acinzentado, que se destaca do verde vivo da maioria das ervas e hortaliças. Nunca vi sementes à venda, mas a Sabor de Fazenda tem mudas e, se algum conhecido seu tiver, peça para ganhar um raminho, mesmo que seja sem raiz. Com um pouco de talo enfiado na terra a orelha-de-lebre enraíza em poucos dias e logo já começa a soltar folhas novas.

E no vaso de trás, amor-perfeito (Viola tricolor) em versão mini. Assim como o amor-perfeito de tamanho normal, se adapta otimamente bem em lugares de meia-sombra. Nada de muito sol direto nem calor demais. É perfeito para hortas em apartamento e vai bem em vasos pequenos e jardineiras. É preciso regar a cada dois dias e então a planta retribui com lindas flores comestíveis que se parecem com pequenas borboletas. Para colocar muitas numa salada bem colorida ou poucas num cantinho do prato, enfeitando com minimalismo.
As opções de cor são as mais variadas que você possa imaginar, incluindo bi e tricolores, e o bom é que a planta está meio na moda, então tem sido fácil encontrá-la em boas lojas de jardinagem. Existem pacotinhos de sementes da variedade de tamanho normal. Da mini nunca vi, mas mudinhas em saquinhos já vêm florescendo e ainda crescem mais quando vão para um vaso com terra boa. Vale a pena.

Duas espécies super recomendadas e fáceis de cuidar. Tem um espacinho aí?

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Marianinha - Streptosolen jamesonii


Estamos em plena época de floração da Marianinha (Streptosolen jamesonii). É agora, entre o outono e o inverno, que a planta abre seus inúmeros buquês de flores em tons que variam do amarelo ao laranja escuro, e o efeito ornamental é incrível. A florada acontece sempre em profusão e chama a atenção de longe.

A Marianinha é um arbusto de até 1,50 m de altura, perfeito para enfeitar muros e cercas. Não se prende sozinho, como uma trepadeira, mas seus ramos são maleáveis e aceitam muito bem a condução pelas hastes de uma grade, por exemplo.
Deve ser plantada em terra bem adubada com esterco ou húmus de minhoca, em áreas de pleno sol, e irrigada em intervalos de três a quatro dias, principalmente depois do plantio e em épocas de muito calor. Depois de bem adaptada no local definitivo, apresenta boa tolerância a períodos de seca e volta a ter muito vigor quando recomeçam as chuvas (ou regas). Também se desenvolve bem plantada em vasos.

E como se não bastasse o incrível efeito ornamental, a Marianinha também atrai beija-flores


e insetos polinizadores aos montes.

 

É o tipo de planta apaixonante; quem tem adora e está sempre encantado com a biodiversidade ao seu redor.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Água aromatizada + educação e respeito


Ontem o almoço foi em companhia de visitas holandesas, e para refrescá-las do calorão a refeição foi regada a suco de caju (Anacardium ocidentale), fruta nativa do Brasil, e água geladinha aromatizada, que toda vez faz sucesso. É mais fácil e rápido do que fazer qualquer suco, todo mundo adora e sempre pergunta o que tem dentro.
Nada mais simples: canela em pau, fatias de limão (ou laranja, ou tangerina, ou carambola, ou maçã, ou...) e dois ou três raminhos de hortelã, tudo dentro de uma jarra ou garrafa de vidro bem bonita.
Quanto antes você preparar (com duas ou três horas de antecedência), mais aromatizada ficará a água. Mas se, como eu, esquecer e deixar para a última hora, vai dar certo também.
E depois que beberem tudo, encha com água de novo que funciona; eu fico reabastecendo a garrafa até o dia seguinte, curtindo os sabores.

E depois do almoço fomos ao Google Earth, conhecer virtualmente a região onde moram as visitas. A tecnologia nos permitiu caminhar pelas ruas e quintais limpos e caprichosamente arrumados da mini-cidadezinha chamada Heerhugowaard, onde o amigo Evert Appelman tem sua banquinha de flores à beira da estrada (no canto esquerdo da foto). E ouvimos dele que, na maior parte do dia, as flores se vendem sozinhas: o cliente escolhe o que quer, olha o preço na tabela, coloca o dinheiro na latinha, se for o caso pega o troco, e vai embora levando suas flores.
Quando eu crescer, quero morar num país assim...


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Vaso de flores com manjericão


Tudo bem, você não está a fim de cozinhar (ou não gosta muito de manjericão, como a Flora Maria, visita querida deste blog). Então, ao invés de preparar um macarrão ao pesto, aproveite a poda de galhos dos seus vasos de ervas para dar volume e perfume a um arranjo de flores e enfeitar um cantinho escuro da sua casa.
Na foto, a garrafinha é do leite de coco usado de manhã em um bolo, as flores foram colhidas na rua e o manjericão é da horta do quintal.
Banheiro enfeitado a custo zero.

sábado, 30 de julho de 2011

Espetáculo

Pelos próximos dois meses estará em cartaz, nas ruas e parques das cidades brasileiras, o espetáculo dos ipês amarelos (Tabebuia sp.).
Bastante conhecido pela excelente qualidade de sua madeira, o ipê é uma árvore decídua ou caducifólia, ou seja, espécie que perde todas as folhas em certa época do ano.
No caso do ipê, isso acontece no início do inverno.
Mas depois de algumas semanas pelado, com aparência de árvore morta, eis que um dia ele tira seu fôlego no momento em que você dobra uma esquina e, desavisadamente, se depara com um show de flores amarelas.
Há que se ter coração forte.
Passeie pela sua cidade curtindo esse presente e prepare-se, porque quando ele estiver acabando, virá em seguida a floração de um parente muito próximo: o ipê branco.
Assim são os ipês: florescem um de cada vez - primeiro o rosa, depois o amarelo e por último o branco - para que, entre uma cor e outra, você tenha tempo de se recuperar da emoção.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Tulipas

Uma lembrança de presente inusitado que tenho da adolescência é dos buquês de tulipas que vinham direto da Holanda, entregues como brindes de uma companhia aérea. As flores chegavam geladinhas, recém saídas da câmara fria do avião, mantendo o frescor de recém colhidas.
No calor do Rio de Janeiro, onde eu morava, aquelas estrangeiras acostumadas ao frio duravam pouco, mas eram curtidas intensamente até sucumbirem ao calor.
Duas décadas depois temos tulipas adaptadas ao clima brasileiro, mas como apesar de nacionais elas ainda preferem um friozinho, deixam para mostrar suas flores quando nós, tropicais, começamos a tirar as blusas de lã do armário.
Então aproveite a onda de tulipas no mercado e leve pra casa um vaso desse show de charme. Uma dica é comprar as flores ainda em botão, já que depois que abrem não costumam durar muito. Assim você aproveita cada etapa do desenvolvimento da planta.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Fácil e simpática

Esse é o arbusto fácil e simpático que você procurava pra um vaso no quintal ou na varanda.
A Lanterninha chinesa ou Sininho (Abutilon striatum) aceita ficar no sol o dia inteiro mas também se vira bem com poucas horas de luz direta ou mesmo sombra clara. Ou seja, não importa onde você mora, ela tem grandes chances de se adaptar.
Prefere a terra mais pra úmida, e quando você acertar a mão nas regas ela corresponde com lindas flores tipo sininho que atraem beija-flores e cambacicas, aqueles pequenininhos que não conseguem parar no ar então se penduram nos bebedores de água com açúcar.
A planta é parente da Lanterninha japonesa, talvez você já tenha notado a semelhança, mas há uma diferença importante: esta, a chinesa, tem flores maiores, mais gordinhas, e cresce na vertical, com tronquinho grosso formando um arbusto, enquanto a japonesa tem flores menores e seus longos ramos são finos e não sustentam o próprio peso, o que faz a planta ser pendente ou própria para ser conduzida por uma treliça.
Esta espécie se adapta às condições climáticas de todo o pais, inclusive nas regiões onde o frio pega mais pesado, e floresce em grande parte do ano caprichando durante a primavera e o verão.
Se você gosta de plantas, flores e passarinhos, experimente!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Horta em vasos - dia 36

Pra todos aqueles que me perguntaram "mas dá mesmo pra plantar hortaliças em vasos?", aí estão elas.
Trinta e seis dias de sol e água, e agora só falta a coragem pra começar a comer essa boniteza!
Veja em detalhes:

Alface roxa crespa

Alface romana

Alface crespa

E a rúcula, que de tão satisfeita já deu flor...

... e tem estado enfeitada de joaninha.

Se você quer rever como isso começou, clique aqui.
E não fique aí passando vontade. Aproveite o clima de ano novo vida nova e adquira um novo hábito: divirta-se plantando sua comida!