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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Um poço caipira, o Sebastião Salgado e a Martha Medeiros


Demorou um pouco mais do que em outros lugares do interior de São Paulo, mas a água aqui no sítio também já começou a rarear. Toda a nossa água vem de um poço caipira de 6 metros de profundidade que nos abastece regiamente durante todo o ano. É água límpida, gostosa, que sempre dá e sobra. Mas agora falta.

Nesta segunda-feira, pela primeira vez neste inverno, o nível da água desceu mais de um metro, e conforme nosso consumo aumenta (nos dias de irrigar as mudas do viveiro de árvores, por exemplo) ele desce ainda mais um pouco, chegando quase à pontinha do cano da bomba. Se a gente bobear, ela puxa ar.

A solução foi colocar uma boia que liga a bomba quando os lençóis freáticos abastecem o poço e desliga a sucção de água quando o poço esvazia. Isso quer dizer que às vezes nossa caixa d'água enche, outras não. Isso quer dizer que às vezes tem água pra tomar banho, às vezes não. E o mesmo pra regar as plantas, lavar a louça, a roupa, escovar os dentes…

No início da semana terminei de ler Da minha terra à Terra, livro em que o famoso fotógrafo Sebastião Salgado conta sua história de vida e sua experiência trabalhando ao redor de todo o mundo, de áreas de grandes mazelas sociais, como muitos países da África, a lugares de paisagem inesquecível, paraísos na Terra. Todo o texto é muito bonito e cheio de reflexões sobre o mundo e a raça humana, mas o que mais me tocou foi a reflexão ao final, na conclusão, onde ele diz algumas coisas importantes:

- … o homem das origens é muito forte e muito rico em algo que fomos perdendo com o tempo, tornando-nos urbanos: nosso instinto.
- Vi o que éramos antes de nos lançarmos à violência das cidades, onde nosso direito ao espaço, ao ar, ao céu e à natureza se perdeu entre quatro paredes. Erguemos barreiras entre a natureza e nós. Com isso, nos tornamos incapazes de ver, de sentir…
- Se em meu livro Trabalhadores fiquei orgulhoso por poder mostrar que somos um animal incrivelmente engenhoso na capacidade de produção, também vi que, em nossa maneira de viver, fizemos de tudo para destruir aquilo que garante a sobrevivência de nossa espécie.

Depois de terminar esse livro andei folheando A graça da coisa, da Martha Medeiros, espetacular coleção de crônicas guardada na minha estante entre outros livros dela, lidos sempre com muito prazer. Na página 40 está Alguém quem?, texto publicado num jornal do Rio de Janeiro ou de Porto Alegre em 20 de novembro de 2011.

Filosofando sobre aquele tão familiar pensamento do "alguém tem que fazer alguma coisa" ela fala de mim e de você que, por arrogância ou egoísmo, nos anunciamos muito capazes, mas quando a teoria necessita ser posta em prática, somos os primeiros a transferir responsabilidades.

Nessa parte do texto, lendo deitada, fechei o livro sobre o peito e fiquei lembrando da imagem da pouca água lá no fundinho do poço. Somos cinco adultos morando no sítio e ainda temos direito ao espaço, ao ar, ao céu e à natureza que, segundo Sebastião Salgado, a maioria das pessoas já perdeu. Além disso (e por causa disso), ainda preservamos um pouco do nosso instinto e interagimos com a natureza tentando nos integrar sempre mais e entendê-la.

Talvez muitos dos moradores das cidades já tenha se dado conta de sua responsabilidade no uso correto da água que chega às torneiras, mas certamente muitos ainda transferem responsabilidades dizendo que alguém tem que fazer alguma coisa. Quando se mora numa comunidade enorme, onde é impossível acompanhar tudo o que acontece na cidade - e eu passei a maior parta da vida em lugares assim - acho que a gente tem a sensação de que existe ali uma infra-estrutura pronta para nos servir seja lá qual for a nossa demanda. É muito comum ouvir gente dizendo "eu pago, eu tenho direito". Isso, aliás, acontece muito em relação a lixo: "eu pago os impostos que pagam os salários dos varredores de rua, então quando jogo lixo no chão eu estou dando emprego a eles". Eu já ouvi isso, juro.

Basta a gente se mudar para um mini lugar, onde está nas nossas mãos o controle de tudo o que entra ou sai, funciona ou quebra, tem ou falta, que a gente percebe a responsabilidade de cada um no funcionamento do todo. Somos cinco aqui pra dividir aquela aguinha no fundo do poço. Se usarmos com inteligência e educação, vai dar pra hoje e pra amanhã. Se bater um egoísmo, acaba hoje mesmo para as pessoas, os animais e as plantas, que são o comércio que nos sustenta. E aí toda a engrenagem emperra.

O raciocínio e o funcionamento são os mesmo numa pequena, numa média ou numa grande comunidade, e certamente todo mundo já sabe disso. O que falta é se perceber responsável, ao invés de esperar que alguém faça alguma coisa, e usar com muito respeito aquilo que garante a sobrevivência da nossa espécie.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Descansar

A gente devia ser obrigada a viajar de vez em quando, a cada três, quatro ou no máximo cinco meses, só para descansar. Como numa meditação, ir para um lugar onde nada acontecesse, rodeado de muito silêncio e energia boa.

É certo que a paz começa dentro da gente, mas quando ela também está do lado de fora é bem mais fácil relaxar. E mesmo que o retiro aconteça num lugar muito parecido com onde a gente vive, o fato de olhar de fora os problemas renova a serenidade que nos faz perceber que tudo tem solução. A falta d'água, a saúde da gata e o mato nascendo a cada centímetro de terra parecem dificuldades menores quando não estão sob nossa responsabilidade, mas na verdade têm o mesmo tamanho, só não estão pesando no nosso colo.

Já virou tradicional o Carnapira, e no ano que vem (e no outro, e no outro, e no outro…) a gente quer voltar a curtir o sítio da Neide e do Marcos no feriadão. Sob os cuidados desses carinhosos anfitriões e na casinha super cheia de charme, teve:

Café da manhã no jardim com vista para as montanhas

Suco de cambuci que tínhamos congelado em casa, mas que só tivemos
coragem de fazer junto com quem também valoriza

Banho na represa...

… que estava com menos água que o normal (veja o contorno de terra
que no verão não deveria existir) mas pra nadar deu

Existe uma grande diferença entre gente que vive e gente que vive bonito. Entre quem cozinha e quem cozinha com prazer. Entre quem planta e quem planta com amor. Passar dias gostosos em companhia de amigos que dão valor às coisas e querem melhorar a vida e o ambiente em que vivem ensina sempre mais um pouquinho a quem, como eu, gosta de caprichos e toques especiais.

Neide e Marcos compraram, há três anos, uma terra que havia sido pasto. Isso significa que toda a área era coberta de capim braquiária e poucas árvores haviam. De lá pra cá muito têm batalhado - com o próprio muque e a ajuda de um casal de caseiros especiais - para inverter essa paisagem e acabar com o capim sombreando a área toda com árvores. Quem olha para o Dr. Marcos no consultório, de jaleco em dias úteis, não imagina o trabalho físico do médico nos dias de descansar; e o mesmo deve acontecer com quem conhece a Neide só da coluna quinzenal no Estadão: a nutricionista poeta e sabida, que conta suas descobertas com paixão, pega pesado na roça sem parar nem pra beber água. Ela tem uma constituição camelística, diz o marido. Sinceramente, fico com inveja de não ter a energia dela. Quando eu crescer, quero ser igual quiném.

Para colaborar com o reflorestamento e a diversidade levamos o carro lotadinho de mudas - algumas que eles insistem em pagar e outras de presente, que a gente fica feliz em oferecer. No ano passado já tínhamos levado mais de trinta espécies, principalmente frutíferas, então dessa vez escolhemos algumas árvores ornamentais, que a Neide disse que anda com vontade de flores. Foi lofântera, jeniparana, abricó de macaco, além de bastante assa-peixe pra atrair abelhas (que depois descobri que lá nasce espontâneo), cabeludinha pra chupar no pé, olho de dragão, cajá mirim…



Ah, foi também uma jabuticabeira bonita, ainda de quando eu morava em São Paulo, que estava num vaso e há anos pedia para se mudar para o chão. Fiquei feliz por ela, porque casa nova melhor não há! Foto não tenho porque enquanto Neide plantava a muda com os maridos (ela tem um só, o outro era o meu) eu curtia a vida de visita folgada, copiando receitas deitada na rede.

No resto do tempo comemos muita comida boa e curtimos bonitezas e invenções. Coisas como o escorredor de louça, por exemplo, adaptação perfeita de um aramado de armário que de um lado é apoiado no parapeito da janela da pia e do outro é suspenso por uma correntinha quem vem do teto. Assim não ocupa espaço na cozinha nem molha a pia. Genial.



Dendezoca, assim como eu, mais descansou que trabalhou. E Tapioca está viva, graças a São Francisco que fez plantão especial durante a semana, quando Neide e Marcos tiveram que deixá-la sozinha.




Nós voltamos leves, agradecidos pelos dias tão gostosos, com ares de felicidade e uma sensação boa de ter ajudado um pouquinho os amigos a fazerem seu lugar melhor. Do lado de fora, porque por dentro já é só charme…



 

 




sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Sobre chuva, água e eucaliptos


Finalmente está chovendo aqui. Já chegamos a 6 mm e continua, daquele tipo fraco e persistente que parece que vai se manter pelo dia todo. O mais interessante foi notar como todo mundo está feliz com isso, afinal tivemos o janeiro e o fevereiro mais secos de que temos notícia. Ao menos quem tem um mínimo de envolvimento direto com meio ambiente tem pensado e falado quase diariamente sobre isso. Tenho conversado sobre chuva e seca com a Carol, com a Neide, com minha mãe, com os vizinhos produtores de Holambra...

E ontem, papeando com a Neide, comentamos sobre um post dela de uns dias atrás que fala sobre as inúmerasplantações de eucalipto Brasil a fora. Se você pegou estrada ao menos uma vez nos últimos anos sabe do que eu estou falando. Quem gosta de coisa organizada acha bonito de ver aquela floresta toda igualzinha, simétrica, todas as árvores do mesmo tamanho (eucaliptos clonados), da mesma cor, muito bem comportadinhos.

Mas o eucalipto é espécie que chupa muita água do solo. Muita mesmo. Não é à toa que Manequinho Lopes escolheu plantar a espécie numa área brejosa que hoje é conhecida como Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Tudo ali era muito molhado, e o entomologista conseguiu secar a área e torná-la urbanizável graças ao plantio de eucaliptos. Eles estão lá até hoje, grandes e frondosos.

Acontece que as inúmeras plantações de eucalipto que vemos quando viajamos de carro têm alterado muito as características dos lençóis freáticos e das nascentes que em outros tempos jorravam abundância de água. Além disso, os tratos culturais aplicados nas áreas de plantio de eucalipto estão afetando a biodiversidade e acabando com a lavoura de pequenos agricultores vizinhos que viviam de plantar um pouquinho de milho, de tomate, de verduras...

Aqui faço uma pausa e sugiro que você assista ao vídeo que a Neide postou, que com depoimentos ilustra melhor o que estou dizendo.
Clique aqui, vá até o post e veja o vídeo, que é curtinho.

O que muita gente diz (e eu mesma já repeti isso por aí) é que é melhor plantar eucalipto do que derrubar matas nativas para aproveitar a madeira. É verdade. O pouco que resta de árvores brasileiras em ambiente natural por aqui não pode sofrer nem mais uma triscadinha. Mas, como sempre, o buraco é mais embaixo.

Por que tanto eucalipto?

A resposta, infelizmente, revela a minha responsabilidade, a sua, a da minha família, a da sua, e a de cada pessoa que usa papel higiênico, come pão, pizza, e imprime folhas de papel sulfite, entre muitas outras ações comuns na vida do século 21.

A gente pensa em árvores para fazer papel - e esse é mesmo um grande motivo das florestas plantadas - mas elas se prestam também a fornecer lenha para diversos fins. São Paulo tem a maior quantidade de pizzarias delivery com forno a lenha de todo o planeta, por exemplo, e nelas se queima muito eucalipto.

Outros grandes consumidores de lenha são as padarias, churrascarias, as indústrias de cerâmica, de cimento e as siderúrgicas – todos setores ligados ao consumo e ao desenvolvimento do(s) país(es). Daí facilmente se conclui que quando mais se consome de tudo e qualquer coisa, mais lenha a gente gasta e mais eucalipto a gente tem que plantar.


É fácil passar em frente a uma gigantesca floresta de eucalipto e pensar “que absurdo”. Mais raro é alguém que pense “tenho feito a minha parte na redução do consumo? O que é supérfluo lá em casa? O que pode ser reduzido?”. Mas sempre é tempo de começar.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

As deliciosas histórias da Missão Cambuci

Desde que conheci o cambuci, há pouco mais de um ano, comecei a tecer uma rede muito interessante de amigos. Alguns são pessoas preocupadas com ecologia e meio ambiente e outros nunca pararam por muito tempo pra pensar sobre isso mas tem toda boa vontade do mundo pra ajudar, sabendo ou não que se trata de algo importante.
Se antes já me empenhava em trocar mudas, sementes e experiências por aí, agora então faço questão de retribuir toda a ajuda que me deram na coleta de frutos dessa espécie ainda em risco de extinção, nem que tenha que revirar caçambas de lixo em busca de meus frutos podres jogados ali sem querer ou confinar pequenas árvores dentro de uma caixa de camisa e mandá-las por correio em viagem de 10 dias rumo a Porto Seguro.

Foram três meses de e-mails, conversas, pesquisas e bastante estrada atrás de qualquer quantidade de sementes que se pudesse conseguir. De algumas cidades voltei com um único fruto na mão. De outras, vieram quilos e quilos de cambuci em todos os estados de conservação que se possa imaginar, do mais saboroso e perfumado ao mais podre e fedido. E para fazer valer cada e-mail enviado e cada litro de gasolina gasto na empreitada, todos os frutos foram cuidadosamente despolpados e tiveram suas sementes selecionadas, processo trabalhoso que levou dias e dias até ser finalizado.
A boa notícia é que o número é grande: são 4.773 sementes viáveis sendo regadas diariamente e recebendo cuidados dignos de estrela. E vale lembrar que apenas cerca de 25% das sementes de um cambuci são viáveis, ou seja, tem possibilidade de germinar, então calcule o quanto de sementes conseguimos!
Por isso, para mostrar que quando cada um faz um pouquinho o resultado é incrível, a seguir conto as histórias de quem topou abraçar comigo essa causa.

Coletas secretas
No começo, quando éramos só eu e eu nessa aventura, passei algumas semanas monitorando os três únicos pés de cambuci adultos que conheço na cidade.
Um deles, na rua, tem a copa muito alta e nas primeiras visitas que fiz não encontrei nenhum fruto no chão. Era preciso continuar monitorando até que amadurecessem mais um pouco e começassem a cair. Só que, depois de duas semanas quando voltei ao pé, não sei via mais um único cambuci em lugar nenhum, no chão ou na copa. Algum coletor de sementes mais rápido do que eu deu cabo de tudo. Primeira decepção.
Outra árvore, pequena ainda e na rua também, tinha só dois frutos quando a visitei pela primeira vez, mas estavam ainda muito duros e não tive coragem de arrancá-los antes da hora. O cambuci, assim como o abacate, tem a casca verde mesmo quando está maduro, então só se sabe se está bom para colher apalpando a fruta. Nesse dia também fui embora de mãos abanando e, quando voltei lá, não encontrei mais nenhum. Segunda decepção.
Restava a terceira árvore, dentro de um parque municipal onde dizem que não se pode coletar nada. Já sabendo que é uma árvore das boas e que no ano passado produziu bastante, resolvi não correr riscos e a cada visita levar comigo alguém que me desse cobertura. As instruções para os acompanhantes eram:

1) Enquanto encho meu saquinho secreto (camuflado dentro de uma bolsa grande) fique de olho e me avise se vier alguém do parque.
2) Faça sempre cara de paisagem. Tem tudo a ver com o lugar.
3) Se alguém vier reclamar e dizer que não se pode pegar frutos, finja que não me conhece e eu me viro sozinha. Melhor só uma metida nisso.

Deu tudo certo e saímos incólumes (e abastecidas!) de todas as investidas, então ficam aqui meus sinceros agradecimentos às amigas que corajosamente me acompanharam em nome da preservação da espécie: Helô, Bia e Mari L.

Um ecólogo alto astral
Escalado pela minha mãe para ajudar na Missão Cambuci, o Vitor, ecólogo e professor mais sabido e divertido que eu conheço na área, aproveitou o dia de aulas que deu em um parque para coletar frutos num pé que conhecia. Logo chegou um e-mail: Ju, pode vir buscar, tem um tanto aqui pra você.
Passaram mais uns dias e recebi outro e-mail: Ju, tenho mais.
Mas antes de conseguir encontrá-lo veio mais uma mensagem, desta vez triste: Ju, minha tia velhinha viu aquele monte de frutos podres e, achando que era lixo, jogou tudo fora. Semana que vem tento mais uma coleta.
Sem comentários sobre a tia velhinha.
Sorte que dentro de mais alguns dias veio outro e-mail: Ju, mais. Estão ao lado da minha mesa em cima de um vaso com o seu nome. São de uma variedade pequena mas bastante doce. Estão meio podres, já, e os colegas de trabalho reclamando que está fedido, mas é história deles; eu não sinto nada. E já avisei que é proibido jogar fora! Se eu não estiver aqui quando você chegar, pode entrar e levar.

Vitor, muito muito obrigada. Conte comigo para o que precisar, e assim que as mudas estiverem grandinhas me diga quantas quer e te entrego sem pestanejar.

A dupla dinâmica
Sair do sítio da Mari e da Carmem sem a certeza de ter conhecido o significado da expressão “calor humano” é impossível. Na chegada já tem festa como se fôssemos amigas há anos, com beijo, abraço, sorriso, boas vindas da cachorrada, gato trançando nas pernas, cafezinho, biscoito, um monte de histórias divertidas e o almoço pronto esperando. Isso porque a ideia era coletar o que elas tem no quintal, mas parecia que quem estava fazendo o favor era eu.
Depois de duas visitas, muitas risadas e andanças pra conhecer o sítio, ganhei geléia de cambuci feita por elas e sementes já prontas para plantar, além dos frutos propriamente ditos. E mais folhas de flor de cera para fazer mudas, bulbos de dália, de clívia, mudinhas de suculenta, sementes de anis estrelado, de rambutan e um caroço de abacate. Só esses 10 itens porque recusei outros 23 que Mari ofereceu, tentando convencê-la de que agora quem precisa de um sítio sou eu!!!

Mari e Carmem, como agradecer tanto carinho?
Muito obrigada por tudo e são de vocês todas as mudas de cambuci que nascerem, me digam quantas querem.

Rosana, Henrique e os ouriços
De Mogi das Cruzes, no início de abril, chegou o e-mail da Rosana: Tenho um pé de cambuci a pleno vapor, separei um tantão de frutos para vc. A árvore frutifica de 3 a 4 vezes por ano. Entre em contato.
Era pra já! Em dois ou três dias combinamos tudo e, sorrindo de orelha a orelha, parti para Mogi das Cruzes, escala de uma viagem a São José dos Campos para ajudar a babar, quero dizer, cuidar do sobrinho recém nascido.
Fui recebida com pão de queijo quentinho e suco de cambuci feito na hora. Não é demais? Batemos um papinho de uma hora e segui viagem, já mais de nove da noite, levando na bagagem cambucis maduros e cheirosos (ô fruta de cheiro bom!), cambucis podres para extrair sementes e ainda polpa de cambuci congelada, pra fazer suco e mousse.
De presente levei mudinhas de árvores de três espécies, mas mesmo assim fiquei até meio sem graça com o tanto de coisas que ganhei, a quantidade de pães de queijo que comi e todo o suco de cambuci que bebi! Minha mãe tinha me dado mais educação...

Cheguei a São José dos campos para uma estada de quatro ou cinco dias e escolhi um canto da varanda onde deixar o saco de cambucis podres até o dia de ir embora. O cheiro de vinagre é forte, não dá pra ficar com aquilo por perto. Mas sem me esquecer da tia do Vitor, avisei a todos da casa que ali estavam minhas preciosas sementes, não era pra mexer no saco.
Passados os meus dias de tia babona de primeira viagem, me ajeitei para tomar a estrada de volta e, na hora de ir embora, cadê os cambucis?
Juro que por alguns minutos dei uma de maluca e andei em círculos olhando em volta e repetindo “cadê eles?, cadê eles?, cadê eles?”. Eram 4, 5, 6 quilos de frutos e tinham sumido! Logo caiu a ficha que alguém que foi ajudar na faxina da casa naquele dia não sabia do que se tratava e jogou tudo no lixo.
Não, lixo de novo não!
Corri para o interfone e o porteiro me disse: tá tudo aqui ainda, o lixeiro só passa mais tarde.
Num passe de mágica lá estava eu, protagonizando espetáculo na calçada do prédio, abrindo caçamba por caçamba, saco de lixo por saco de lixo atrás dos cambucis da Rosana.
O porteiro parou do meu lado e disse: já sei, você jogou seu celular no lixo! A moça do 72 também fez isso outro dia. Às “veiz” bate uma bobeira e a gente faz essas coisas, é normal.
Eu dei risada e resolvi explicar que não era o celular, era pior! Era um fruto em risco de extinção e eu tinha arrumado sementes pra plantar. E então ele me surpreendeu: Extinção? É sério? Ah, mas então nós vamos ter que achar isso!
Nesse momento Tomé virou meu herói. Tem amigo meu que não diria uma frase dessas.
E foi um tal de conhecer a intimidade dos apartamentos vizinhos até que... Maktub! Dentro do enésimo saco preto que abri estava a sacolinha do supermercado Maktub de Mogi das Cruzes, onde a Rosana faz compras. Maktub, em árabe, que dizer “estava escrito”. E estava mesmo. Aqueles cambucis eram meus e ninguém tascava!

Depois dessa experiência inesquecível ainda voltei mais uma vez a Mogi, recentemente, porque como tinha dito a Rosana, a árvore do sítio frutifica de 3 a 4 vezes por ano e ela tinha mais frutos pra mim. Dessa vez cheguei e a encontrei, junto com Henrique, em volta de uma banheira infantil de plástico, na calçada, tomando sol. Dentro da banheira dois ouriços, animais da savana africana. São criaturas acostumadas ao calor, e como os dias do fim de maio vinham sendo cada vez mais frios, era preciso esquentá-los um pouquinho.

Não, isto não é um cambuci! É o ouriço do Henrique, filho da Rosana

De novo ganhei lanchinho e, desta vez, suco multi frutas preparado pelo Henrique além de um tanto maior ainda de cambucis podres. Nunca vi alguém ficar tão feliz com um sacão de frutas estragadas!

Rosana, não tenho palavras para explicar para quem não te conhece o quanto você é delicada e simpática. Muito obrigada pela acolhida sempre tão carinhosa, pelos quilos de cambucis bons, “ruins”, pelas polpas congeladas, pães de queijo, bolo de cenoura...
E vamos plantar por aí mais dessa espécie pela qual nós duas temos tanto carinho. Me diga quantas mudas quer e elas são suas.

Depois de tudo isso veio a hora de despolpar os frutos. Eu e Flop, dono do Viveiro Oiti, em Holambra - SP, passamos horas e horas sentados em frente a uma peneira e uma torneira com a mão na massa, uma massaroca úmida e com forte cheiro de vinagre, separando a casca e a polpa das sementes.
A etapa seguinte foi passar as sementes pela peneira, lavando com um jato forte de água para tirar os restos de polpa, que continua a apodrecer sob a terra e pode por a perder todo o processo de germinação.

Então as sementes limpinhas foram postas para secar à sombra sobre folhas de jornal e depois selecionadas uma a uma, trabalho que consiste em separar as vazias das “gordinhas”, as chamadas sementes viáveis.

Depois disso as escolhidas foram colocadas em tubetes sob fina camada de terra, serão regadas diariamente e devem demorar cerca de 60 dias para mostrar as primeiras carinhas. Isso deve acontecer no final de julho.

Agora, só no ano que vem. O cambuci floresce entre novembro e dezembro e seus frutos amadurecem de março a maio, quando aliás acontece o Festival do Cambuci, em Paranapiacaba – SP, e a Rota do Cambuci, em um circuito de cidades do interior paulista. Nessas festas é possível provar quitutes preparados com essa fruta tão simpática quanto desconhecida – muitos paulistanos acham que Cambuci é apenas o nome de um bairro.

A Rota do Cambuci ainda não visitei, mas em Paranapiacaba este ano tomei suco, comi bolo de chocolate com cambuci (é d e l i c i o s o!), mousse, trufa recheada e ainda comprei umas garrafas de pinga da fruta para dar de presente. Ano que vem vou fazer tudo igual outra vez!

Abaixo, a plantação de que tenho tanto orgulho. Ainda não se vê nada, claro, mas dentro de cada tubete está uma das sementes dessa história. E tudo sendo cuidado com carinho pelas mãos profissionais do Flop, a quem, junto com a mamma, falta agradecer por todo o empenho e apoio nessa empreitada. Muito obrigada!

terça-feira, 1 de março de 2011

Cambuci, a missão

Logo na primeira vez que ouvi dizer que o cambuci é espécie ameaçada de extinção senti por ele uma afeição instantânea. Foi em fevereiro de 2010, durante um curso sobre sementes na UMAPAZ.
Nunca tinha visto um fruto mais gordo na minha frente nem tampouco bebido o suco, tomado o sorvete ou experimentado a pinga de cambuci, mas saber da ameaça despertou em mim a urgência de fazer alguma coisa.
Desde então virei uma obcecada! Você pode achar engraçado o exagero (e eu também acho!), mas é verdade. Ando que só falo nisso!

Ainda no início do ano passado ganhei cerca de 5 quilos do fruto podre - colhidos ao pé da árvore às vésperas de irem para o lixo - e resolvi encarar a missão de fazer as sementes germinarem. Não é uma espécie fácil, não produz muitas sementes nem germina em qualquer condição, mas estudei um pouco a respeito das exigências e me propus o desafio.
Foram horas despolpando frutos estragados cheirando a vinagre (e eu detesto vinagre!), mais horas escolhendo as sementes mais promissoras e mais meses regando diariamente uma bandeja de terra sem a certeza de que dali viria alguma vida, mas um dia um brotinho apareceu trazendo a boa nova: deu certo! (leia aqui o post da época)

Depois desse primeiro vieram centenas de brotos, e cada um deles fez crescer em mim a sensação de estar, realmente, fazendo a minha parte. É indescritível!
Como infelizmente não tenho espaço para criar centenas de árvores, fiquei com alguns poucos e doei o resto para um viveiro amigo, com quem faço trabalhos voluntários de vez em quando, e tenho sempre notícias deles, meus filhotes cambucis.

Mas chegou de novo a época de frutificação do cambucizeiro (meados de fevereiro e março), e minha obsessão adormecida acordou! Por que não fazer tudo de novo?
Conversei com gente conhecida, pesquisei na internet, mandei e-mails, dei telefonemas e já consegui alguns frutos, mas ainda é pouco.
E foi então que veio a Mamma, criativa minha mãe, com uma ideia: por que não pedir ajuda no blog?

Pois estou aqui, prezado leitor, convidando você a participar comigo dessa empreitada. Topa me ajudar na missão de produzir o maior número possível de árvores de cambuci?
A espécie ocorre naturalmente apenas nos estados de São Paulo e Minas Gerais, na parte da serra do mar que dá para o planalto paulista e no início do planalto em direção ao interior, na mata pluvial Atlântica.
A região já não é muito extensa, e pra piorar a árvore não é muito frequente mesmo no seu habitat natural, então...

Mas não desanime! Se você tem vontade de ajudar, o primeiro passo é conversar com parentes, vizinhos, amigos e os conhecidos que tem sítio no interior ou casas antigas na cidade. Algumas décadas atrás a fruta foi bastante cultivada em pomares domésticos, então aquela velhinha simpática que mora na sua rua pode ter um pé de cambuci no quintal. Ou a irmã dela, ou uma amiga...
E a proposta é a seguinte: você me manda um tanto de frutos (maduros e até mesmo podres) ou me dá dicas de onde encontrar um cambucizeiro, eu cuido de todo o processo de beneficiamento das sementes, germinação e acompanhamento dos primeiros 6 meses (é uma árvore leeeenta pra crescer) e em retribuição te dou uma porcentagem (3%?) das mudas que nasceram das sementes que você conseguiu. O resto das mudas será encaminhado ao viveiro amigo, a projetos de reflorestamento e plantado em praças, parques e vias públicas de São Paulo, como já era o plano para os germinados no ano passado.

Quanto mais gente participar maiores as chances de um resultado incrível, porque além da quantidade, um outro fator importante é a variedade genética. Um reflorestamento de qualidade é feito com árvores de diferentes características genéticas mesmo se tratando de uma mesma espécie, neste caso o cambuci. Quanto mais fontes de sementes, melhor. Porque cada uma delas traz no seu DNA traços específicos, "qualidades" e "defeitos", e se todos os exemplares plantados no estado, por exemplo, forem filhos de uma mesma matriz, a variedade genética, característica importantíssima para a preservação da espécie, será pobre.

Aliás, para incrementar ainda mais essa questão da variedade de DNAs por aí, a ideia é te mandar de volta mudas de origem diferente das sementes que você doou, assim o resultado será ainda mais embaralhado.

E então, quem se anima?
Deixe um comentário, seu telefone ou endereço de e-mail e vamos logo começar com isso!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Lenda urbana

Na década de 90, época da ampliação da avenida Brigadeiro Faria Lima, o enorme Jequitibá rosa (Cariniana legalis) da foto conseguiu uma façanha: alterar o traçado da via.
O local era o quintal de uma residência, e diz a lenda que o projeto da prefeitura previa a retirada da árvore, mas o porte e a importância dessa espécie nativa brasileira se impuseram e ela conseguiu ficar. Um canteiro foi projetado no seu entorno e hoje até uma plaquinha pode ser vista fincada ao seu lado fazendo as honras à nobre figura.
O Jequitibá rosa é uma das maiores árvores da flora brasileira. Quando adulta pode alcançar os 50 metros de altura, e seu tronco ultrapassa facilmente os 70 cm de diâmetro. Floresce durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro e suas sementes podem ser colhidas entre agosto e setembro.
Se quiser conhecer pessoalmente essa lenda viva, ela está firme e forte esperando sua visita na avenida Faria Lima altura da rua Tabapuã.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Filhotas mimadas

No dia 14 de junho deste ano, depois de passar exatos 60 dias regando uma bandeja com terra sem saber se as sementes de cambuci iriam germinar, ganhei de presente essa figurinha:

O primeiro broto deu o ar da graça e já foi capaz de me fazer achar que os dois meses de expectativa sem dúvida tinham valido a pena. O cambucizeiro, árvore cientificamente batizada de Campomanesia phaea, corre risco de extinção. Em abril, quando ganhei alguns quilos da fruta para extrair as sementes (leia aqui), me propus o desafio de fazê-las germinar como forma de brigar contra a possibilidade de desaparecimento de mais uma espécie de fruta nativa brasileira. Essa árvore já foi muito comum na região da atual cidade de São Paulo; tanto que até batizou um bairro, onde hoje infelizmente é raro encontrá-la.
Sua madeira é resistente e de boa durabilidade em ambientes internos. Foi muito utilizada no madeiramento de construções e na fabricação de cabos de ferramentas e instrumentos agrícolas.
Quando adulta, a árvore mede de 3 a 5 metros de altura, tem o tronco descamante característico das espécies da família Myrtaceae e suas folhas, se maceradas, exalam o cheiro do cambuci.
Essa fruta, aliás, tem formato curioso: o jeito e o tamanho de uma empadinha, mas é convexa em cima e embaixo. Igualzinha a um disco voador. É verdade! Outra curiosidade é que, assim como um abacate, o cambuci é de cor verde mesmo quando está maduro. É comum encontrá-lo no interior dos estados de Minas Gerais e São Paulo dentro de garrafas de pinga. Dizem que o suco também é muito gostoso, melhor até do que a fruta consumida in natura. Eu ainda não tive oportunidade de provar, mas se depender dos meus esforços isso não deve demorar a acontecer.

Minhas arvoretas já tem cerca de 15 cm de altura. São as mais mimadas do meu micro viveiro doméstico, tem sombra especialmente criada para elas, já que são sensíveis ao sol forte, e estão protegidas por uma tela porque já foram atacadas por um sabiá gordo que deu cabo de algumas dezenas delas. Isso mesmo, o folgado comeu várias mudinhas de cambuci num ataque só. Foi enquadrado na categoria "criminoso ambiental"!
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Ainda não decidi para onde vão as crianças quando estiverem em idade para transplante, mas certamente serão plantas em lugares escolhidos a dedo. O mesmo dedo cuidadoso que conseguiu fazê-las germinar. Modéstia a parte!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Museu de frutas

Em algumas daquelas conversas "pelo muro" com a vizinha, minha mãe descobriu uma raridade nos dias de hoje em São Paulo: um quintal cheio de árvores frutíferas. E melhor ainda, a maioria frutíferas nativas e "raras".
F., que comprou a casa já com o quintal pronto, ganhou junto com a escritura um mapa de identificação das árvores. Seu Antônio, antigo proprietário, caprichou na escolha das espécies, e desenhando o mapa fez questão de transmitir para o morador seguinte a importância que tem aquele pomar.
São apenas duas espécies exóticas (lichia, originária do sul da China, e limão-cravo, da Índia) entre diversas frutíferas nativas brasileiras, muitas das quais a maioria das pessoas nunca nem ouviu falar: grumixama, cambuci, jaboticaba, uvaia, cereja-da-mata e cambucá.
Os passarinhos se deliciam nesse jardim tão variado e eu já ganhei sementes de cambuci e cereja-da-mata, que frutificaram recentemente.
Pra colaborar com esse museu vou fazer a minha parte tentando multiplicar essas espécies e espalhá-las por aí, para que mais gente possa ter a oportunidade de conhecer frutas que quase não se encontra mais pela cidade.
E você, tem ou já teve alguma árvore frutífera no quintal?

quinta-feira, 25 de março de 2010

A utilidade das pessoas inúteis

A região da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, originalmente era ocupada por Mata Atlântica, que foi praticamente toda destruída em razão da retirada de madeira para a construção do Rio de Janeiro, produção de carvão e lenha para os engenhos de cana-de-açúcar, exportação das espécies nobres e fins domésticos variados, além da expansão da lavoura de café em quase toda a área.
Em meados de 1650 começou-se a falar na defesa das florestas para manutenção dos mananciais e em 1844, após uma grande seca, o ministro Almeida Torres propôs a desapropriação das casas ali existentes e o plantio de árvores para salvar as nascentes do Rio de Janeiro. “Em 1862 o imperador dom Pedro II nomeou o major Manoel Gomes Archer para tomar conta da área, inicialmente com a mão de obra de apenas seis escravos da união escolhidos entre os considerados inúteis para qualquer outro tipo de trabalho: um menino de doze anos, uma mulher e quatro homens de mais de cinqüenta anos. Em dez anos, plantaram 76.394 árvores. A partir daí a natureza restaurou-se e hoje existe o Parque da Floresta da Tijuca, maior floresta urbana do mundo, com uma flora rica e diversificada de espécies nativas e exóticas”.*

*trecho retirado do livro Meio Ambiente: e eu com isso? da autora Nurit Bensusan

quarta-feira, 17 de março de 2010

Cerrado x desperdício

No jornal Folha de São Paulo de hoje, 17 de março de 2010, pode-se ler a matéria Minc quer antecipar meta contra desmate do cerrado. Segundo o jornal, Objetivo foi formulado com ajuda do próprio Minc, que deixa a pasta daqui a duas semanas; ele defende agora cumpri-lo entre 2009 e 2012. Mais um trecho do texto: A duas semanas de deixar o governo e disputar uma vaga de deputado estadual no Rio,o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) atacou ontem a proposta brasileira para a redução do desmatamento no cerrado, apresentada na conferência do clima da ONU, em dezembro, em Copenhague. Segundo ele, é um “absurdo” reduzir em 40% o desmate no bioma somente em 2020. Porém, essa meta foi definida pela Casa Civil e pelo Itamaraty e contou com ajuda do próprio Minc.

Fico em dúvida se desanimo com a incoerência ou comemoro a mudança de discurso antes tarde do que nunca. De qualquer maneira, seria importantíssimo correr atrás do tempo perdido e preservar a maior parte possível do que ainda resta do cerrado, bioma do qual ninguém fala quando se trata de desmatamento (não existem só a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica) mas que tem fundamental importância no equilíbrio de todo o ecossistema.

Por exemplo:
- o Cerrado possui mais de 100.000 espécies vegetais e animais
- 5% de todas as espécies de mamíferos do mundo são encontradas no Cerrado
- as três mais importantes bacias hidrográficas do país (São Francisco, Tocantins-Amazonas e Paraná-Prata, as maiores responsáveis pelo abastecimento de água e pela geração de energia do Brasil) nascem no Cerrado.

Tudo isso está ameaçado, entre outras coisas, pela retirada de 1.000 caminhões por dia de carvão vegetal para a produção de aço nas siderúrgicas da região, pela criação de um terço do rebanho bovino e 20% do rebanho suíno do país, pelos cultivos extensivos de soja (13% da produção mundial), milho e arroz (20% e 15% da produção nacional, respectivamente).
Agora pare por um instante para fazer uma co-relação: o Brasil joga no lixo 39.000 toneladas de alimentos por dia. Se tudo continuar do jeito que vai, grande parte do cerrado e de toda sua biodiversidade terá sido sacrificada e irá parar nos lixões e aterros sanitários por caminhos tortuosos e às custas de muito trabalho e consumo de energia humana, elétrica, de combustíveis fósseis, etc. Tem graça?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Palestra sobre Restauração Florestal

Restauração Florestal é tema de palestra nesta quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010, na SOS Mata Atlântica.
A Fundação mantém em sua programação regular palestras gratuitas sobre meio ambiente em sua sede, em São Paulo. Nesta quinta-feira às 20h o coordenador de restauração florestal do Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica – Grupo Schincariol, Rafael Bitante, falará sobre os desafios do trabalho nesta área. Os encontros acontecem à Rua Manoel da Nóbrega, 456, Paraíso, São Paulo. Para participar não é necessário se inscrever antecipadamente, basta comparecer no local. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3055-7888 ou pelo email agenda@sosma.org.br.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

VIP

Atenção para os números: estima-se que 90% das 250.000 espécies de plantas com flores dependem de animais, especialmente dos insetos, para se reproduzir. Abelhas, moscas, borboletas, besouros e outras centenas de tipos de insetos garantem que o café, a laranja e o feijão, só pra citar alguns exemplos cotidianos, cheguem à sua mesa todos os dias. Voando de planta em planta esses bichos carregam o pólen das flores e promovem a fecundação entre elas.
Mas, apesar de você ainda não ter sido avisado, já se vive uma “crise de polinização”: por causa do desmatamento, poluição ambiental e uso de pesticidas nas lavouras milhares de espécies de polinizadores estão desaparecendo, e em diversos países do mundo agricultores têm sido obrigados a introduzir colméias nos campos ou fazer polinizações artificiais para manter altos os níveis de produtividade. Claro que tudo isso custa dinheiro, e adivinhe quem é que paga as contas no final? Sim, você paga mais por seus alimentos também por causa disso.
Que tal então receber melhor as visitas voadoras na sua casa a partir de agora?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O massacre da serra elétrica

Coisa mais comum em áreas urbanas e em seu entorno é acordar no domingo com barulho de serra elétrica, você já reparou? É nesse dia que quem está incomodado com a árvore do quintal ou da calçada aproveita pra cortar o mal pela raiz. Contando com a cidade mais vazia, com menos olhos atentos nas ruas e os fiscais municipais de folga, quem não tem autorização da prefeitura para remoção da árvore age certo de que não está sendo observado. Algumas vezes, pra não chamar atenção nem com o barulho, corta-se tudo com machado e serrote. Mas você pode fazer alguma coisa. A maneira mais rápida de parar com a poda e remoção ilegal é acionar a polícia militar (telefone 190 em todo o Brasil), que tem poder para autuar o proprietário do local e quem está fazendo o corte da árvore se não for apresentada, na hora do flagrante, a autorização da prefeitura. E mesmo as árvores que estão dentro de terrenos particulares só podem ser removidas (ou mesmo podadas) com autorização do órgão municipal responsável, que deve fazer uma vistoria prévia no local para analisar se há mesmo a necessidade do corte. Qualquer árvore é considerada patrimônio público, independente de onde ela se encontre. Fique atento.