sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Passiflora alata, o maracujá doce


Tem gente que diz que as flores do maracujá doce são as mais lindas da natureza. Eleição difícil de definir, essa, mas certamente a planta como um todo é muito bonita e decorativa. Na espécie Passiflora alata as flores são super perfumadas e chegam a medir 14 cm de diâmetro. As sépalas e pétalas, quase escandalosas, são coloridas com uma interessante mistura de vermelho, amarelo e roxo zebradinho com branco, e esse show de cores e formas atrai um exército de mamangavas - aqueles besourões grandes, pretos, que na verdade são uma espécie de abelha -, responsáveis por polinizá-las para que produzam frutos.


As folhas são grandes e têm a forma de um coração gordo, por isso é bem fácil diferenciá-las das folhas do maracujá azedo, aquele comum, fácil de encontrar no supermercado, que tem folhas divididas em três partes.

E os frutos, quando estão bem alaranjados, ainda mais maduros que o da foto abaixo, são facilmente confundidos com o mamão papaya. A propósito, essa planta nasceu de um maracujá doce que comprei no supermercado, há cerca de um ano e meio, depois de achar que estava em frente à banca de mamões. Na primeira olhada a gente se confunde, mas por ser mais leve e muito perfumado, o fruto logo se entrega.


Aqui no sítio tem sido difícil chegar antes dos bichos. Mal os frutos começam a ganhar um amarelinho na casca, já vem alguém roubar, sorrateiro e misterioso. O maracujá desaparece de um dia para o outro e a gente nem vê, só fica aquela sensação de "mas não tinha um quase maduro aqui?".

Quando o ladrão bobeia e deixa para trás um fruto começado, resta analisar as pistas: pelas marcas deixadas na casca, deve ser pássaro ou gambá.


No livro Frutas Brasileiras e Exóticas Cultivadas, Harri Lorenzi descreve mais de 22 espécies de maracujá. Tem doce, tem azedo, tem grande, pequeno, amarelo, vermelho, verde, roxo... tem até um que parece uma mini melancia, de casca verde rajadinha de branco. E não é só por fora que eles variam, não. A maioria tem as sementes pretas envoltas em mucilagem amarela, mas tem até um (Passiflora caerulea) de miolo vermelho, lindo!

Todos são nativos do Brasil, encontrados na natureza nas regiões mais variadas: restingas litorâneas (os terrenos arenosos próximos ao mar), Mata Atlantica (desde a Bahia até o Rio Grande do Sul), região amazônica, capoeiras do Pantanal, matas ciliares e até no cerrado do Tocantins. Cada região tem sua própria espécie de maracujá, e suas características climáticas tão diferentes são responsáveis por tantas nuances de cores e sabores.

Os frutos variam de cor e formato, as flores variam de cor e perfume, mas uma coisa é sempre a mesma: todas as espécies são trepadeiras herbáceas (de caules verdes e macios) e possuem gavinhas, esses pequenos bracinhos finos que parecem ter vontade própria e, quando não estão exercendo sua função de amarrar, desenham lindas esculturas suspensas no ar.










quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fazendo a minha parte


Prezados fabricantes de absorventes higiênicos,

Em meu último ciclo menstrual me propus a juntar todo o material de embalagem descartado para o uso dos absorventes higiênicos e fiz uma foto, que envio aos senhores junto com esta mensagem. Será que seis dias de menstruação precisam mesmo gerar o descarte de tanto papel e plástico?

Não faz muito tempo um ciclo menstrual não produzia tanto lixo. Eu me lembro de, ainda criança, ver os absorventes higiênicos de minha mãe embalados em caixa de papel ou saco plástico simples, e só. Vinham todos abertos, sem os saquinhos de embalagem individual e as fitas de hoje em dia.

O conforto dos absorventes higiênicos atuais nem sem compara ao uso das antigas toalhinhas íntimas, mas creio que as embalagens estão um pouco além da conta. Não se encontra mais no mercado um único tipo de absorvente que não esteja embalado individualmente. A mulher moderna tem sido levada a produzir um lixo com o qual não necessariamente concorda, por falta de opção no mercado. Entendo a questão da praticidade de levar na bolsa um absorvente embalado individualmente, mas todos precisam ser fabricados assim? E se, em cada pacote, contássemos com duas ou três unidades embaladas e as outras abertas? Ou então uma pequena bolsa ou envelope reutilizável onde se coloque os absorventes que serão levados para o trabalho, por exemplo?

A título de curiosidade, dispus em cima de uma superfície todo o material descartável que aparece na foto anexa e pude constatar que, um ao lado do outro, os plásticos e papéis cobrem uma área de exato meio metro quadrado. Considerando a média de 480 ciclos menstruais na vida de uma mulher, o material descartado por cada uma de nós durante nossos 37 anos de fase fértil é suficiente para cobrir 240 metros quadrados de uma área qualquer. Isso significa que 29 mulheres cobrem a grama de um campo de futebol com o descarte de suas embalagens de absorvente (sem contar os próprios absorventes, claro). E somos mais de 97 milhões de mulheres no país!

Entendo que se trata de material potencialmente reciclável, mas assim mesmo questiono a necessidade do uso de matéria prima e da mobilização de todo um processo industrial para produzir algo que pode (e deve) ser evitado.

Por isso pergunto: qual dos fabricantes será o primeiro a tomar a corajosa iniciativa de dar um passo a frente, voltando atrás na maneira de embalar absorventes higiênicos e, consequentemente, poupando o meio ambiente da extração de matéria prima e do descarte de materiais? Estou certa de que oferecer a opção de absorventes sem embalagem individual, informando a consumidora de que a iniciativa poupa os recursos naturais do planeta, demonstra clara preocupação com a sustentabilidade, o que acrescenta à imagem da empresa ainda mais credibilidade, além de ter imenso caráter educativo.

É tempo de fazermos nossa parte, empresas e consumidores, porque se não valorizarmos o ambiente, poderemos acabar trocando ganhos do capital financeiro por perdas do capital ambiental. Ambiente e economia não são diferentes. Tratá-los como se o fossem é a receita mais certa para o desenvolvimento insustentável.*

Atenciosamente,
Juliana Valentini
www.deverdecasa.com

*Blueprint for a Green Economy de David Pearce, Anil Markandya e  
  Edward B. Barbier. Earthscan Publications, 1989


Carta enviada à Johnson & Johnson, Kimberly-Clark e Procter & Gamble, os três principais fabricantes de absorventes higiênicos no Brasil.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Dias de 8 e de 80

Tem dias em que a gente acorda com o pé esquerdo e, para piorar, um doido fala grosserias no telefone, um cliente em potencial só pede o que a gente não tem e o caminhão de entrega atola no barro. Mas...


... a natureza é sempre capaz de nos recompensar com uma surpresa deliciosa, daquelas com poder de fazer tudo melhorar.
Hoje, pela primeira vez, ganhei a visita de um casal de Canário-da-terra-verdadeiros, os Sicalis flaveola. Vieram comer a quirera de milho e o mix de sementes que ponho no jardim, em frente à janela da cozinha.
Já vinha recebendo a visita de um só, sempre na hora do almoço, mas hoje deve ter rolado um convite daqueles de namorado, do tipo "vou te levar pra comer num lugar super legal", e quem ganhou o presente fui eu. Resta torcer para que gostem do cardápio, do sítio, e aproveitem a época para começar uma grande família.


PS: os antigos moradores de Holambra contam que em outros tempos via-se canários amarelos aos montes por aqui, mas a captura para criação em gaiolas e principalmente os agrotóxicos usados nas lavouras foram os grandes responsáveis por quase acabar com eles na região. É a história que sempre se repete: algumas espécies sendo prejudicadas em benefício de outras.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Mais um 22 de setembro - Dia Mundial Sem Carro


Neste ano o Dia Mundial Sem Carro (22 de setembro) cai num sábado e, para estimular ainda mais a sua adesão, a prefeitura de São Paulo vai ativar os 72 km de ciclofaixas que normalmente só funcionam aos domingos e feriados. Claro que continuam valendo as outras opções de transporte, como ônibus e metrô, além de andar a pé, mas essa é uma ótima oportunidade para você participar e experimentar fazer seus percursos sobre duas rodas. As ciclofaixas são seguras e a cada dia contam com mais ciclistas; já são 100.000 pessoas usufruindo a cada final de semana.

Há os que gostam de reclamar e dizem que ela atrapalha o trânsito da cidade, mas é inegável que, pelo menos aos domingos e feriados, não se pode mais imaginar a cidade sem essa opção de transporte e lazer. E melhor ainda será quando pudermos dizer que milhares dos que andavam de bicicleta só como curtição agora fazem dela seu meio de transporte oficial. Para que isso um dia se torne realidade, é preciso que aos poucos todos tomem coragem de fazer a sua parte. A prefeitura vai mexendo seus pauzinhos, os motoristas vão se acostumando a ceder espaço e os paulistanos que querem aderir mas ainda sentem medo vão percebendo que as condições são melhores a cada dia.

O jornal Estado de São Paulo desta quarta-feira 19 de setembro traz uma reportagem interessante sobre pessoas que vêm trocando o segundo carro pela bicicleta elétrica, e mostra que esse tipo de bike resolve o problema de quem tem vontade de ir ao trabalho pedalando mas não quer chegar lá todo suado. Elas têm autonomia de até 40 km por carga de bateria, são silenciosas e não poluentes. Se carregadas diariamente (em tomadas comuns mesmo), geram um custo mensal de R$ 30 a R$ 40 de energia elétrica, o que nem se compara a gastos com combustível e estacionamento de quem roda os mesmos 40 km diários em um automóvel. O único investimento mais pesado é o preço, que pode variar de R$ 2 mil a R$ 12 mil. Um dos fatores que fazem com que elas sejam tão caras é o IPI de cerca de 35% (que nas bikes comuns é de 12%) e aí o governo federal também poderia mostrar que está disposto a fazer a sua parte.

Mas seja de bike, de metrô, de ônibus ou a pé, não perca mais uma oportunidade de aderir a uma mobilização internacional que só cresce e que também precisa da sua participação. Tome coragem e planeje um dia diferente. Estude as melhores rotas, recalcule os tempos de percurso e abra sua cabeça para conhecer uma nova maneira de se locomover. Não se esqueça que experimentar é fundamental, e só quem conhece as opções pode criticar com razão e cobrar as mudanças necessárias para fazer da sua cidade um lugar melhor. Para si próprio.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A natureza e a ecologia de Julio Cortázar


E finalmente choveu, depois de 64 dias de estiagem, então terminei o dia em casa lendo com som de chuva no telhado e cheiro de terra molhada. No livro, mais natureza e ecologia, vistas pelas lentes da criatividade insuperável de Julio Cortázar.

Flor e cronópio
Um cronópio encontra uma flor solitária no meio dos campos. Primeiro pensa em arrancá-la, mas percebe que é uma crueldade inútil, e se coloca de joelhos junto dela e brinca alegremente com a flor, isto é: acaricia-lhe as pétalas, sopra para que ela dance, zumbe feio uma abelha, cheira seu perfume, e deita finalmente debaixo da flor envolvido em uma enorme paz.
   A flor pensa: "É como uma flor."

Fama e eucalipto
Um fama anda pelo bosque e embora não precise de lenha olha ambiciosamente para as árvores. As árvores sentem um medo terrível porque conhecem os hábitos dos famas e temem o pior. Entre elas há um belo eucalipto, e o fama ao vê-lo dá um grito de alegria e dança trégua e dança catala em torno do perturbado eucalipto, dizendo assim:
   - Follhas anti-sépticas, inverno com saúde, grande higiene.
   Puxa um machado e bate no estômago do eucalipto sem se importar com nada. O eucalipto geme, mortalmente ferido, e as outras árvores escutam o que ele diz entre suspiros:
   - Pensar que este imbecil não precisava mais do que comprar umas pastilhas Valda.

Do livro:
Histórias de cronópios e de famas
Julio Cortázar
Editora Civilização Brasileira
10ª edição   2007
páginas 126 e 127

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Reaproveitando, sempre

 
Um saco de 15 kg de ração de cachorro e algumas embalagens de chocolate foram retalhados esta manhã e transformados em etiquetas de identificação para mudas de árvores nativas.
Normalmente, numa venda de mix de espécies, algumas mudas de cada lote vão indentificadas com nome popular e/ou científico, conforme o que quer o cliente.
Como estamos em tempos de economia, reaproveitamento e reciclagem, temos pensado todas as ações do viveiro de maneira que gastem o mínimo possível de material novo, além de priorizar os recicláveis, os reciclados, e ainda gerar quase nada de lixo. Por isso tudo, deixamos de comprar etiquetas de identificação e criamos as nossas próprias.

Neste caso, quase qualquer embalagem plástica flexível serve, desde que tenha uma superfície onde se possa escrever com caneta para retroprojetor. Já tentei usar papel, mas com algumas chuvas ele se desmancha ou rasga quando se engancha em qualquer coisa.

Para que o serviço fique limpo, bem feito e a indentificação dure o máximo possível, abri as embalagens cortando fora as soldas e acabamentos, lavei a face de dentro com buchinha e sabão de coco (para tirar restos de alimento e a oleosidade, que impede a fixação da tinta permanente) e daí cortei tudo em tiras. Numa das pontas fiz um corte, assim posso enfiar ali a outra ponta da tira, envolvendo o tronco numa espécie de gravatinha.
Ao cliente, cabe encaminhar o material para reciclagem quando tiver feito seu plantio, suas plaquinhas definitivas e não precisar mais de nossas etiquetas.

E assim vamos reaproveitando materiais e transformando as coisas, gerando menos lixo e reduzindo o uso de matéria prima para novos produtos.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Sambando de tamanco holandês na Expoflora 2012


"É som bonito, organizado, Holambra toca, ninguém fica parado"

É assim que a fanfarra Amigos de Holambra abre uma de suas apresentações na Expoflora 2012. Algumas vozes chamam de lá, outras respondem de cá, soam os bombos, as caixas, os surdos, e logo uma espécie de "Olodum holandês" envolve e contagia a platéia. Daí em diante, é só alegria.

Cinquenta e cinco jovens da região se apresentam vestidos em trajes típicos holandeses e tocam um som que bate forte no peito e emociona a gente. Os ritmos, compostos pelos próprios participantes, contagiam até mesmo o público mais tímido, e é só olhar em volta para perceber que não há pé que não acompanhe a batida, marcando no chão o compasso da música.

A fanfarra, coordenada pelo casal Catharine e Mário Sitta, existe há 11 anos e nos últimos 3 atua como banda independente. Quase 400 jovens já passaram pelas diversas formações do grupo, que atualmente tem integrantes a partir de 6 anos de idade. A maior parte deles nasceu na região de Holambra, cidade fundada por imigrantes holandeses e que até hoje respira muito da cultura da Holanda, por isso todos tocam vestidos com os trajes típicos desse país, como uma forma de reverenciar sua cultura. Têm orgulho de dizer que são uma grande família e fazem questão de homenagear, com o nome Amigos de Holambra, os colaboradores anônimos que os ajudam a se manter.

Nos ensaios semanais os jovens aprendem sobre disciplina e responsabilidade, enquanto se envolvem com música, parceria, amizade e sentimento de união. E na Expoflora e festivais onde se apresentam, em diversos estados do país, mostram que estão escrevendo seu nome na história e na cultura nacional, afinal, uma fanfarra de jovens brasileiros sambando em tamancos holandeses não é sempre que se vê por ai.

Assista aos vídeos mas, se puder, venha vê-los pessoalmente, porque ao vivo é sempre mais emocionante.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Hortas e paisagismo na Expoflora 2012


Canteiro de hortaliças elevado com mourões de cerca

 Começou, na última quinta-feira, a Expoflora 2012, a maior feira de flores e paisagismo do país. O evento acontece em Holambra - a cidade das flores, 150 km da cidade de São Paulo - e em meio a muitas plantas, comidas e apresentações culturais, está lá o assunto do momento: horta doméstica. Dentro da mostra de paisagismo são muitas as ideias para diversos tamanhos e estilos de canteiros para montar em casa. E o melhor é que na maior parte das vezes as instalações são simples e reaproveitam materiais já usados e descartados, o que torna os projetos baratos e fáceis de implantar.

Mesmo nos casos de recipientes industrializados, como os da foto abaixo, ver de perto os jardins comestíveis é uma boa oportunidade de conhecer alternativas, tamanhos, alturas e distribuições de vasos e canteiros, para ter certeza de que ervas e hortaliças podem ser instaladas em quase qualquer cantinho da sua casa.


Mas claro que as melhores soluções são as que aproveitam pallets inteiros ou desmontados, dormentes e antigos caixotes para elevar canteiros, além de recipientes inusitados para vasos e outros itens de decoração.

Alfaces em caixa feita de madeira de pallet

Ervas em caixas de madeira de pallet

Ervas e hortaliças em canteiros de dormente

Vasos de ervas em estantes de pallet

Ervas em caixas de vinho

Jardineiras de caixa longavida
Suculentas em conchas de ferro


Luminárias de garrafão de vidro

A feira acontece até 23 de setembro, de quinta a domingo das 9 às 19 horas, os ingressos custam R$ 30 por pessoa e mais R$ 20 do estacionamento. Crianças de até 5 anos entram de graça e estudantes e idosos pagam meia.
É programa para o dia inteiro, contando a viagem pelas ótimas rodovias Anhanguera ou Bandeirantes.
Venha com tempo e traga máquina fotográfica.