Passei dois dias observando a mariposa número 1 dentro do borboletário, esperando que ela parecesse um pouco ativa para então soltá-la. Ninguém disse que ela precisaria se mostrar lépida e fagueira para merecer a liberdade, mas ela ali parada o dia todo no mesmo lugar não me dava a impressão de que desejasse ganhar o mundo.
Também tive um pouco de dúvida a respeito da melhor hora para soltá-la lá fora. De dia ou de noite? Como dizem que as mariposas voam à noite, fiquei nesse dilema. Mas uma coisa era certa: dentro do vidro ela estava sem comer (e eu sem saber como alimentá-la) então achei por bem colocar o jardim inteirinho à disposição, para que ela resolvesse isso por si mesma. E me resolvi pelo fim da tarde, assim ainda é um pouco dia mas já vem caindo a noite.
Capturei-a dentro de um copo e fui pra baixo do ipê roxo, não sem antes fazer a foto acima. Foi nesse momento, quando ela abriu as asas, que confirmei se tratar de uma mariposa chamada popularmente de "olho de boi", e de Automeris umbrosa nos livros. Quando está em repouso ela esconde as asas inferiores, mas quando voa (ou se prepara para decolar), se abre toda e mostra dois grandes "olhos" pretos e amarelos bastante característicos da espécie.
Foi bem bonito quando ela entendeu que estava livre e deu duas voltas acima da minha cabeça, antes de escolher um lugar no tronco da árvore para apreciar a nova paisagem. Nova mais ou menos, porque voltou ao jardim de onde saiu lagarta, depois de passar dois meses rodeada pelos livros do escritório. É como a história dos adultos que voltam (transformados) à casa onde nasceram depois de passar um tempo estudando na cidade grande.
No final daquele mesmo dia mais alguém nasceu no borboletário, mas dessa vez com uma história um pouco complicada. Mariposa número 2 teve problemas durante a transformação e saiu da pupa com má formação da asa esquerda. Acontece nas melhores famílias, inclusive na das saturniidae.
Ainda assim a vida continua, por isso, mesmo com sérios problemas para voar ela também foi solta no jardim e vai se virar como pode.
São 32 dias de borboletário e desde o quarto dia novos casulos vêm surgindo. O primeiro aparece no meio, na foto acima, e tem vídeo da construção dele postado aqui, clique para ver. Depois, com o passar dos dias, outros foram ficando prontos, todos construídos em ângulos formados onde os pedaços de madeira encostam no fundo de vermiculita.
Minto. Existem duas excessões: são lagartas mais arrojadas que resolveram encasular no segundo andar. Um aparece acima, e outro, na foto abaixo.
Muitos deles pude observar enquanto eram construídos. O borboletário está no escritório, ao lado da minha mesa de trabalho, perto da janela, e passei muitos minutos assistindo à escolha de pedaços especiais de vermiculita e depois ao encaixe deles nos locais certos, com todo o capricho. Percebi também que as lagartas usam uma espécie de baba para fazer a cola que deixa tudo juntinho e faz o casulo ficar firme.
Algumas usaram na construção pedaços de folhas encontrados no entorno do local do casulo, e alguma mágica fizeram, porque esses pedaços estão verdes até hoje, enquanto outros que ficaram caídos pelo borboletário já secaram faz tempo.
Mas uma pequena lagarta parece que não conseguiu dar continuidade ao seu ciclo. Já há uns dias está caída ao lado de um tronquinho e hoje apareceu mais escura do que estava ontem. Capaz que tenha morrido.
É a menorzinha, que comia bem mas nunca cresceu muito. Quando parou aí nesse lugar achei que iria começar o casulo, mas depois de dois dias de lado, na mesma posição, achei por bem dar uma cutucadinha e conferir se estaria viva. Estava, porque se mexeu um pouquinho. Mas agora há pouco cutuquei de novo e acho que foi viver no céu das lagartas.
E sobrou uma última, retardatária, que come sem parar e já está causando prejuízo nas minhas touceiras de maranta. Dei as folhas que estava feias, amarelando, depois dei umas furadas e rasgadas e agora estou dando folhas bonitas e saudáveis para alimentar a princesa, que de mimada que está não quer saber de passar para a próxima etapa.
Já são 7 centímetros de pura vitalidade, da grossura de um dedo, e crescendo, crescendo...
Para acompanhar essa história desde o início clique aqui ou em Borboletário, no menu ao lado.
Parecia até que o dia ontem estava ganho. Fingi que não tinha mil coisas a fazer e passei a manhã toda às voltas com a preparação de um borboletário; finalmente, depois de tantas lagartas!
A última turma que apareceu aqui foi de Automeris sp., uma das espécies mais bonitas que conheci nesse ano. Encontrei algumas delas comendo as marantas de um canteiro novo, que ainda nem acabei de plantar. Eu trabalhando em uma ponta e elas comendo o que eu havia acabado de plantar na outra. Oportunidade melhor, impossível.
Nas semanas que passaram andei guardando umas e outras lagartas em vidros, a maioria lagartas-cachorrinho, mas estava meio improvisado porque os vidros eram pequenos e mal cabiam as folhas para alimentar as aprisionadas.
Pois ontem acordei profissional e resgatei um aquário de 45 litros embrulhado há anos. Nem precisava ser tão grande, mas o espaço foi perfeito pra brincar de paisagista oriental e fazer um jardim zen para as meninas. Junto com o vidro tinha guardado alguns pedaços de toco de madeira que faziam parte do aquário, e usei também no borboletário. Decoração absolutamente desnecessária no quesito funcionalidade, mas fez toda a diferença na boniteza final.
Segundo João Angelo, técnico do Laboratório de Entomologia e Acarologia da ESALQ, para fazer um borboletário básico você só precisa de um vidro com um pouco de substrato no fundo (pode ser terra ou vermiculita) e das folhas que a lagarta estava comendo quando você a encontrou. É que cada espécie de lagarta tem hábitos alimentares específicos, e pode ser que seja difícil descobrir, na base da tentativa e erro, o que vai apetecer a uma lagarta que você encontrou andando por aí. Você pode tentar folhas de couve, de repolho, mas é bem mais garantido conseguir alimentar uma que você tenha encontrado comendo. É só manter o cardápio que ela escolheu.
Além disso, muitas vezes encontra-se lagartas já andando à procura de um lugar onde vão passar pelo processo de metamorfose, e nesse momento elas não querem mais comer, não adianta oferecer alimento. Nessa fase elas precisam mesmo é de um lugar seguro onde vão virar pupa. Esse é o nome do casulinho que constroem quando chega a hora de mudar de estágio. Algumas pupas são chamadas de crisálidas por causa da coloração dourada que têm. Em grego, chrysós significa ouro. E uma curiosidade bem legal: aurélia (aurus é ouro em latim) foi um termo usado no passado para as crisálidas, e dele surgiu aureliano, que é quem estuda o processo de saída da borboleta da crisálida.
Enfim, se você quer acompanhar um lepidóptero em transformação, colete uma lagarta ainda se alimentando e com um pouco de sorte você vai vê-la borboleta.
Conheci o João Angelo enquanto navegava tentando identificar espécies, e escrevi pra elogiar o blog que ele escreve sobre borboletas e perguntar se ele não gostaria de identificar as que fotografei. Ele, super simpático, me respondeu sugerindo que eu fizesse o borboletário, porque é mais fácil identificar os indivíduos adultos (borboletas e mariposas) do que os imaturos (lagartas e taturanas) que tenho mostrado aqui no blog.
Lavei o aquário, coloquei vermiculita no fundo (por acaso tinha comprado recentemente, para o viveiro), ajeitei os tronquinhos e fui coletar folhas e lagartas. Já tinha percebido que as folhas de maranta enrolam rapidamente depois de cortadas, e murchas assim as lagartas não querem, então instalei dois vasinhos de vidro com água dentro do borboletário para manter as folhas mais frescas até serem devoradas.
Com pauzinhos e a ponta de uma tesoura caçei uma a uma as sete peludas que encontrei, e com paciência fui passando todas para dentro da casa nova, convencendo-as de que as instalações são de primeira.
Nos primeiros minutos andaram bastante, fazendo o reconhecimento da área. No vidro não conseguiram subir - acho que ficou escorregadio depois da limpeza - mas logo encontraram as madeiras e as folhas.
O nhac-nhac começou em poucos minutos e logo já davam cabo de grandes pedaços de folhas. Como comem! E como "descomem"! Em menos de uma hora os cocozinhos pretos já caíam na vermiculita.
Hoje foi o dia 2 do borboletário; vamos ver quanto tempo dura a brincadeira. Enquanto isso deixo vídeos, para quem quiser passar minutos a fio assistindo junto comigo ao hipnotizante programa A vida das lagartas.
Depois de saber que as colegas estavam aparecendo na internet, a atrasadinha chegou esbaforida na varanda, pedindo para ser fotografada também. Merece, não merece?
(juro, acabou de aparecer, enquanto eu postava sobre as outras!)
Um dia, se eu tiver mesmo galinhas, pode ser que diminua um pouco a variedade de lagartas e taturanas que temos atualmente, e vou sentir saudades de encontrar criaturas tão caprichosamente desenhadas como as que conheci esse ano.
Enquanto algumas enormes parecem inofensivos brinquedos feitos para bebê morder, como a da foto acima, outras, tão pequenas, não têm onde carregar mais espinhos.
Tem as discretas
e as sofisticadas.
As singelas
e as exageradas.
Automeris sp.
No próximo post tem mais. Um time de preferidas que deixei por último para arrematar o desfile.
Podalia sp., a Lagarta cachorrinho ou Lagarta gatinho
'Inda bem que não tem feito tanto calor nesses dias, porque agora, para trabalhar aqui, só de calça, mangas compridas e luvas. Desde meados de fevereiro temos encontrado taturanas por todo o sítio, e de lá pra cá são poucos os que ainda não sentiram na pele o poder de fogo dessas peludas. D. Neuza deu só uma triscadinha, Seu Nelson encostou pra valer, Yuri, Rose e Reginaldo deram uma boa raspada e Flores esfregou o mesmo braço em duas delas num intervalo de uma hora. De todos eles ouvimos a mesma coisa: nossa, como isso doi!
A primeira sensação é de uma queimadura na pele, e logo em seguida vem a íngua - uma dor forte acompanhada da impressão de ter uma bolinha de ping pong na axila se a taturana encostou no braço, e na virilha se ela encostou na perna. Depois de um certo tempo alguns sentiram também a dor se espalhar por uma área maior no entorno do local atingido.
Assim que acontece de encostarem no bicho e alguém vem me contar, vou logo oferecendo de levar o acidentado no posto de saúde. A maioria não quer ir, alguns por medo de injeção, outros por macheza, segundo vieram fofocar. Mas outro dia um deles achou melhor ser atendido, e fomos nós para o postinho. Antes de sair fiz uma foto da fera, para não ter que levá-la junto.
O rapaz ganhou uma injeção de analgésico na veia e uma pomadinha para a queimadura. Não há mais o que fazer. Mas foi bom ter ido, assim aprendi um pouco mais para orientar com segurança nas próximas vezes (quase inevitáveis, infelizmente). Os modelinhos de taturana que temos aqui não matam nem causam sequelas graves além da queimadura, que escurece a pele por uns dias e doi a valer. Nosso recorde populacional é da taturana que chamam de lagarta cachorrinho ou lagarta gatinho, do gênero Podalia.
Lagarta cachorrinho de frente (se é que eu acertei onde fica a frente)
Bonitinhas que são, se elas não queimassem bem que poderiam ser alçadas à categoria de animais de estimação e eu ficaria rica, mas queimam, e é por isso que são chamadas de taturanas ou tataranas. Na língua tupi "tata" quer dizer fogo e "rana" significa semelhante. A sensação de queimadura acontece porque, com a pressão, os pelos da taturana comprimem as glândulas de veneno que ficam sob eles - como o êmbolo sob a agulha, numa seringa - e a toxina é injetada na pele, causando reação instantaneamente. Os médicos relatam casos de gente que, ao encostar no bicho, leva a área atingida à boca, passando o veneno para a língua e os lábios, que em seguida começam a arder também. Depois vem a íngua na língua, que é rima engraçada mas de tanto que doi não tem graça nenhuma.
Se acontecer com você de encostar numa dessas, antes de mais nada deixe bastante água da torneira correr pelo local atingido e lave com sabão comum. Não esprema, não fure, não faça sucção com a boca nem coloque nada sobre a pele. Passar manteiga, pó de café ou pasta de dentes não ajuda e ainda pode piorar a reação alérgica. Se puder, vá ao posto de saúde nem que seja só para ganhar um analgésico. A gente fica sempre mais tranquila quando é atendida por um profissional. Parece até que a dor passa mais rápido.
Mais graves são os acidentes com taturanas Lonomia obliqua e Lonomia achelous, duas das poucas espécies potencialmente letais no país. O veneno delas tem componentes anticoagulantes que podem causar hemorragia e insuficiência renal, e em alguns casos levam pessoas à morte, principalmente no sul do Brasil, onde são mais frequentes. Sintomas como dor de cabeça, náusea e vômitos também ocorrem nesses casos, além de manchas roxas pelo corpo (não só no local da queimadura) de 3 a 4 horas após o contato com o animal. Todas essas são reações importantes que indicam que o acidentado deve ser levado rapidamente a um posto médico para receber o soro antilonômico, produzido em São Paulo pelo Instituto Butantã.
Para identificar as taturanas do gênero Lonomia (com tônica no segundo O) observe se o animal tem o corpo marrom com espinhos verdes em forma de pinheirinho, o dorso com listra marrom contornada de preto e algumas manchas brancas.
Lonomia obliqua - Foto do CIT Santa Catarina
Veja também o documento produzido pelo Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina, neste link, e assista ao vídeo da TV Saúde Paraná, onde a Dr. Gisélia Rubio explica mais sobre locais de ocorrência da Lonomia sp. e sintomas graves pós contato.
A gente aqui se orgulha de nunca usar veneno, mas às vezes o bicho pega, literalmente, e dá um desânimo só.
Estamos com um ataque sério de grilos e lagartas na produção e no quintal de casa, e não sobrou folha viva inteira. De uma hora pra outra tudo foi aparecendo comido, furado, rasgado, e em rápidos passeios pelos os canteiros começamos a ver os grilos pulando pra longe e as lagartas comendo sossegadas, como se não fosse com elas.
Também não se passam três dias sem que alguém encoste numa taturana daquelas bem peludas, que queimam a pele e dão uma íngua doída, na axila se pegou no braço, na virilha se pegou na perna. Seu Nelson, funcionário simpático, diz que tem mais medo da que "parece um cachorrinho". Parece mesmo, e a queimadura doi tanto quanto uma mordida.
Os danados dos bichos são todos lindos, mas têm estragado tudo o que a gente cuida com capricho, que têm trabalho pra regar, adubar, manter. Pior é que já tem cliente percebendo que o viveiro está sendo atacado.
Furos normalmente são feitos por grilos
Bordas comidas são serviço de lagarta
Mesmo assim não tenho coragem de tomar uma atitude drástica e jogar veneno em tudo. Fico olhando a passarinhada, que só aumenta a cada dia que passa e canta bonito ao amanhecer, e não consigo imaginar que muitos morrerão envenenados também, já que são eles que comem as pragas das plantas, fazem ninhos entre as mudas e se alimentam pelo jardim.
Em casa, ontem, dei uma borrifada geral com óleo de neem e vamos ver o que acontece, mas no viveiro ainda não tomamos nenhuma providência. Vamos deixando, deixando, e torcendo pra natureza conseguir se equilibrar e dar seu jeito. O difícil é que isso aconteça quando todo o entorno já está tão desequilibrado, com as cadeias alimentares quebradas e sem os bichos que dão conta dos bichos que dão conta dos bichos que dão conta dos bichos...
Primeiras folhas do pé de repolho, murchas e retorcidas pela ação de pulgões
Se você ainda não sabe que cara tem um pulgão e os estragos que ele pode causar, cultive qualquer uma das hortaliças da família Brassicaceae (antigamente chamada de Cruciferae) e em alguns dias saberá do que se trata. Pulgões são apaixonados por couve, couve-flor, brócolis, repolho, e em alguns dias são capazes de sugar a seiva da planta até que ela definhe por completo. Combatê-los faz e sempre fará parte do trabalho de quem cultiva hortaliças comestíveis, e é preciso ter paciência. Esse é um dos motivos pelos quais dizem que horta da trabalho.
Conhecer as pragas mais comuns e saber como conviver com elas (porque se livrar definitivamente é impossível) é fundamental para quem quer ser recompensado com o prazer de comer o alimento que plantou, por isso, pesquisar bastante e colocar mãos à obra é a melhor maneira de criar seus próprios protocolos no cuidado com sua horta.
Na minha, dia desses, o acaso veio para ensinar mais uma artimanha que já conhecia de ouvir falar mas ainda não tinha experimentado. Num dia de "desmatamento", que é como tenho chamado a atividade de tirar o mato dos canteiros, comecei a arrancar as plantas invasoras que nasciam ao redor de três mudas de repolho roxo mas fui interrompida por alguma coisa. Fui resolver o que precisava de mim e acabei não voltando para terminar a limpeza. Dias depois encontrei uma infestação de pulgões nos dois repolhos da área já limpa, enquanto o que quase sumia sob o mato estava saudável, livre dos insetos.
Barreiras naturais são muito utilizadas no campo, em produções orgânicas e não orgânicas, tanto em pequenos quanto em grandes plantios. É comum, por exemplo, ver eucaliptos plantados como um muro para impedir que insetos e doenças carregados pelo vento atinjam as culturas. Faixas de mato entre áreas culivadas também servem de abrigo para sapos, rãs e diversos predadores de pragas. Mas é claro que, assim como as infestações, o mato como barreira também precisa estar sob controle, senão cresce e se alastra mais rápido do que o resto e rouba a água e os nutrientes disponíveis para suas hortaliças.
Observando esses três repolhos percebi também que o mato em volta do terceiro deles funcionou como uma proteção contra o sol excessivo, que tem castigado nesse final de primavera. Frequentemente os repolhos "desprotegidos" têm chegado ao fim do dia moles, desidratados, enquanto o que está acompanhado de mato, usufruindo de uma leve sombrinha, perde menos água por evaporação e permanece sempre mais tenro e firme. Certamente isso também o torna mais forte, já que, como nós, plantas saudáveis e hidratadas resistem melhor a doenças.
Repolho saudável, "escondido" no meio do mato
Mas não se anime muito; mais cedo ou mais tarde os pulgões encontrarão uma brecha e você os verá firmes e fortes, comendo sua comida sem te pedir licença. Quando isso acontecer, lembre-se do que ensina o permacultor Peter Webb:
"Pulgões vêm para compartilhar a abundância na seiva das plantas em rápido crescimento. A mãe deles deixa os filhos vivos no lugar onde começam a sugar a seiva de nossas plantas queridas. Eles só conhecem como casa aquele lugar, pois não chegam andando, nem voando para o local. Por este motivo, pode direcionar um jato de água neles e jogá-los no chão, pois não vão voltar para o local, nem sabem o caminho de como chegar. O truque é não deixar o número deles aumentar muito, pois a colônia cresce rapidamente. No caso de laranja e couve, as plantas encurvam as folhas, o que dificulta a água entrar. Passar os dedos carinhosamente na cabeça deles costuma atrapalhar bem. Se quiser alguma coisa para pulverizar (e satisfazer o desejo de alquimistas), use sabão de coco (2 colheres de sopa por litro - derreter na água quente e pulverizar depois que a água estiver fresca). Com pulgões é melhor fazer novamente depois de 15 dias, pois sempre deixam ovos que vão nascer. Se não fizer isso, eles voltam enquanto dorme à noite!".
Horta precisa de supervisão diária com olhos atentos e detalhistas, senão, é uma bobeadinha só e alguém come suas hortaliças antes de você.
Ontem no final da tarde, enquanto regava a minha, descobri que as rúculas estavam sendo comidas. Alguns pés já estavam sem folhas, enquanto outros ainda pareciam intactos.
Quando as folhas somem e ficam só os caules, é fácil descobrir quem é. Lagarta. E também é fácil encontrá-las, porque costumam ser grandes e em alguns casos são coloridas.
As de ontem por sorte eram poucas, cinco ou seis, e tinham começado recentemente a comilança, então o estrago era pequeno. Mais dois dias e certamente teriam devorado tudo. Lagartas são rápidas e vorazes, comem sem parar e aos montes.
Se você ainda não passou por isso, muito provavelmente um dia passará. É quase inevitável. E se acontecer será um bom indicativo de que você tem uma horta saudável em casa, cheia de vida, e um dia recebeu a visita de uma borboleta que aprovou sua plantação e resolveu procriar.
Borboletas colocam seus ovos onde suas filhas lagartas possam se alimentar em abundância. E a escolha da planta não é ao acaso. Cada espécie de lagarta se alimenta de um tipo de planta específico. Normalmente é fácil achar um ninho desses no verso das folhas. Os ovos costumam ser de cor clara e ficam meticulosamente organizados em linhas, num capricho só. E são "autosuficientes" - se desenvolvem sozinhos, sem necessidade de ninguém para chocá-los. Depois de alguns dias nascem pequenas lagartinhas que logo começam a se alimentar das folhas onde nasceram, e aí começa o arraso. Depois de dar cabo de tudo (ou quase tudo!) elas param de comer e saem em busca de um lugar onde poderão passar em paz pela fase da metamorfose, para então se transformarem em borboletas.
É um ciclo bonito de acompanhar. O que não é bom é ter sua rúcula devastada, então...
A primeira e melhor opção de combate é a catação manual. Não custa nada, não intoxica você nem a planta e só exige alguns minutos de trabalho. Proteja-se com uma luva de plástico, já que algumas lagartas queimam, e tome coragem para pegá-las, uma a uma. No começo pode parecer um pouco estranho - elas são meio moles e se mexem na sua mão - mas respire fundo e continue.
Não sou das pessoas que cata lagartas com muita naturalidade, confesso, mas também não tenho coragem de matá-las, então recolho todas dentro de um saco ou copinho plástico e solto longe de onde as encontrei. Sei que isso pode não significar sobrevivência, uma vez que elas podem não encontrar o que comer, mas se virarem comida de passarinho, ao menos serviram para alimentar alguém.
Voltando à questão do combate, existe um plano B aceito dentro dos princípios do cultivo orgânico de alimentos que se chama Bacillus thuringiensis. Trata-se de uma bactéria que se aplica nas folhas e, quando ingerida pelas lagartas, produz uma proteína de efeito inseticida. Não é tóxico para humanos nem animais domésticos e pode ser encontrado nas lojas de jardinagem em forma de pó, que deve ser diluído em água e aplicado com borrifador na planta infestada. Vem num envelopinho pequeno e barato. Já experimentei e resolve mesmo, mas às vezes é mais rápido e prático catar as lagartas do que sair para comprar o bacilo, aplicar na planta e esperar as lagartas morrerem. Mas em caso de infestações graves, de 100, 200 lagartas numa planta das grandes, é bastante prático.
De casaca e gola alta
Vim inspecionar a horta
Atento, andei em folhas e caules de ponta a ponta
Balançando as antenas, conferi as plantas por conta
Com meus três pares de patas caminhei por entre couves e abobrinhas
Para constatar que aqui não se usa veneno nem mesmo para ervas daninhas
Estou feliz e gostei
Fiquei para morar e já me ambientei
Cumprimento todos pelo nome
E não me aperto quando estou com fome
Como de tudo um pouco
Mas é por abóboras que sou louco
No popular me chamam de vaquinha ou patriota
Mas no científico, Diabrotica speciosa é chacota!
Dois tipos de insetos (ou machos e fêmeas?) em folha de Imbê
Inverno é época de pragas nas plantas e não tem jeito, sempre da um pouco de trabalho. Às vezes os bichos são incríveis, bonitos mesmo, mas se não removê-los você vai ter suas plantas danificadas e, em algunas casos, pode até perdê-las. Por isso, quanto antes você interromper o ataque, melhor.
Insetos em folha de alface
Árvores, plantas ornamentais e também as comestíveis estão sujeitas a ataques de pragas durante todo o ano, mas o inverno é a época de maior incidência de infestações porque é quando os vegetais entram em um período de repouso - também chamado de dormência - que os deixa mais suscetíveis. Situações de baixa oferta de água, pouca luz ou falta de nutrientes na terra também fazem com que as folhas fiquem mais moles e frágeis e ofereçam menor resistência às pragas.
Perceber que algo estranho está acontecendo não é difícil; basta uma inspeção atenta e você logo encontra pequenos bichinhos - estáticos ou que se locomovem - e manchas de cores variadas que antes não existiam. Teias, pintinhas pretas ou brancas e substâncias estranhas nas folhas também são sinais de praga. E atenção: na maior parte das vezes o lado superior da folha ainda parece bem mas o "verso" pode já estar completamente infestado, por isso sempre inspecione as folhas dos dois lados.
Insetos na face inferior da folha de Imbê
Mas depois de identificar o problema, vem a questão: como resolver?
É fácil encontrar no mercado diversos venenos e inseticidas que dão conta de praticamente todos os tipos de praga num piscar de olhos, mas... e quanto à toxidade? Certamente em grande parte deles você encontrará o desenho de um caveira - símbolo incontestável de perigo - e também as recomendações de usar luvas ao aplicar o produto e manter crianças e animais domésticos afastados. Alguns deles ainda advertem que não podem ser aplicados em plantas comestíveis.
Depois de tantos alertas, sobra coragem para usar um produto desses?
Que tal então abraçar a causa orgânica e passar a consumir apenas inseticidas e repelentes que não agridam a saúde da sua casa, da sua família e das suas plantas?
Conheça as principais pragas de inverno, seus estragos e soluções para combatê-las:
Ácaros: não podem ser vistos a olho nu mas normalmente atacam a parte inferior das folhas deixando-as com cor de ferrugem. Se apenas algumas folhas estiverem comprometidas, corte-as fora. Se toda a planta estiver atacada, combata com pulverizações de calda bordaleza a cada 15 dias
Fungos: se alastram na superfície das folhas interferindo em sua coloração e causando pintinhas brancas. Costumam atacar quando a planta está em locais de menos luz do que precisa para se manter saudável. Remova as folhas danificadas e mude a planta para um local mais iluminado. Em casos extremos, calda bordaleza a cada 15 dias também pode ajudar.
Folha de manjericão com fungos
Pulgões: podem ser de cor branca, cinza ou preta. Fixam-se em caules e folhas novas para sugar a seiva da planta. A natureza oferece, como inimigo natural do pulgão, as joaninhas. Vorazes devoradoras desse tipo de praga, elas chegam a comer centenas deles por dia. Por isso, se você usar um veneno, matará, além dos pulgões, essas charmosas bolotinhas vermelhas. Opte então por combater a praga com um jato forte de água, que pode ser de borrifador ou de mangueira de jardim. Assim eles se soltam das folhas e você preserva as joaninhas. Só em último caso, de plantas muito ameaçadas, pulverize com óleo de neem. Além das joaninhas, outro inseto que aparece nas plantas junto com os pulgões são as formigas, que se alimentam do líquido doce excretado por eles. Mas não se preocupe: acabando com os pulgões, automaticamente as formigas vão embora.
Pulgões pretos em botões de flor de acerola
Pulgões cerosos: recebem este nome porque excretam uma substância fofa e cerosa de cor branca acinzentada. São frequentes no cactos. Para acabar com eles (que são mais grudentos que os outros pulgões e não saem com jatos de água), pulverize toda a planta com óleo de neem.
Grilos: na maior parte das vezes os grilos comem as folhas das plantas pelo centro, abrindo furos. É fácil identificar. O controle deve ser feito por catação manual ou com óleo de neem, que age como repelente.
Folha de Peixinho atacada por grilos
Lagartas: diferente dos grilos, as lagartas comem as folhas pelas beiradas, deixando nítidas marcas de mordida. A forma mais orgânica e natural de acabar com elas é a catação manual. Como algumas podem queimar, use luvas para tirá-las das folhas, uma a uma. Outra opção é borrifar toda a planta com uma solução aquosa feita à base de Bacillus thuringiensis, uma bactéria que entra no organismo das lagartas e causa sua morte. Vêm em forma de um pó fino vendido em envelopes nas lojas de jardinagem e paisagismo. Mas independente do método de combate escolhido, seja rápido, porque numa grande infestação as lagartas podem acabar com sua planta da noite para o dia.
Folha de Tumbergia comida por lagarta
Mosca minadora: dos ovos de uma mosca nascem lagartas que andam pelas folhas cavando túneis para comer a polpa e a seiva da planta. É muito comum no manjericão. A mancha causada pela mosca minadora é muito característica e frequentemente tem forma de flor. Remova as folhas atacadas e pulverize óleo de neem em toda a planta, por cima e por baixo das folhas, uma vez por semana por quatro semanas consecutivas.
Mosca minadora no manjericão
Cochonilhas verdes, farinosas, de carapaça e outras: sugam a seiva das plantas afetando seu crescimento e, muitas vezes, retorcendo suas folhas. Para remover as cochoninhas, esfregue delicadamente na superfície das folhas um pano umedecido com óleo de neem. Se estiverem muito grudadas, como as de carapaça, utilize a ponta de um palito. Depois, pulverize toda a planta com óleo de neem para previnir a reinfestação.
Cochonilhas farinosas em folha de Alocasia
Cochonilhas de carapaça em folha de Ráfia
O óleo de neem é um inseticida natural resultado da prensagem das sementes da Azadirachta indica, uma árvore originária da India, e pode ser usado com segurança em plantas ornamentais e comestíveis por ser inofensivo à saúde de adultos, crianças e animais domésticos. Seu uso é uma das formas de combate a pragas permitida em todo o mundo pela cartilha de cultivo orgânico, e por essa razão deve ser sempre a primeira opção na tentativa de eliminar insetos das plantas domésticas.
O óleo de neem diluído em água (segundo as instruções da embalagem) também pode ser usado como forma de prevenção a pragas e para dar brilho nas folhas das plantas ornamentais.
Folha de Alocasia sanderiana tratada com óleo de neem
De qualquer maneira, para prevenir pragas e doenças nada é mais garantido do que manter suas plantas sempre saudáveis, com regas e adubações corretas e em local de luz adequada. Afinal, no fundo todos os organismos vivos funcionam da mesma maneira: os fortes e sadios sempre são mais resistentes.