terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O primeiro Terra Madre Day a gente nunca esquece


Ontem foi o Terra Madre Day, dia marcado pelo Slow Food para celebrar a terra e o que ela nos da. Muitos eventos aconteceram simultaneamente em todo o mundo, e em São Paulo teve Dia de Campo Urbano - identificar e colher, cozinhar e comer, promovido pela Neide Rigo.

Um bando de 14 foragidos do trabalho saiu, em plena segunda-feira, para caminhar pela Lapa com a missão de identificar e colher espécies comestíveis que nascem pelas ruas do bairro. Guiados pela Neide e com um pouco de colaboração e experiência de cada um do grupo (com ênfase nos incríveis conhecimentos do Guilherme), enchemos nossas sacolinhas com folhas, frutos, bulbos, legumes e ervas medicinais e aprendemos muito, principalmente no que diz respeito às possibilidades de um paisagismo mais útil e caprichado em qualquer grande cidade. Se haverá plantio de árvores, por que não frutíferas? Como trepadeiras para fechar muros e grades, por que não maracujás?

Grumixama amarela (Eugenia brasiliensis)


Vassoura-relógio (Sida rhombifolia)

Devidamente uniformizados com nossos crachás adesivos do Terra Madre Day, conhecemos a face "roça" da metrópole, lugar onde nascem mangas, bananas, tamarindos, limões cravo, graviolas, inhames, batatas-doce e dezenas de outros alimentos, e onde crescem também muitas variedades de matos comestíveis e ervas medicinais que pisamos em cima sem nem desconfiar que existem. Na Europa, por exemplo, vende-se dente-de-leão (Taraxacum officinale) em feiras livres, enquanto aqui no Brasil ele nasce espontaneamente em cada fresta e rachadura de calçada por onde andamos. Colhemos um bom tanto deles, para a salada.

Dente-de-leão (Taraxacum officinale)

Pelo caminho também encontramos feijões, uma linda espécie de mini pepininhos silvestres...

Vagens de feijão de espécie não identificada

Mini pepinos comestíveis (Melothria pendula)

... e cúrcumas, plantadas pela Neide e algumas crianças em uma pequena praça mal cuidada mas arborizada com lichias e uvaias, onde, até hoje, certamente pouquíssima gente parou para reparar e experimentar. Pois ali cavamos e desenterramos lindos bulbos amarelo-ouro com cheiro de terra para colorir o almoço.


No final do passeio, bolsas e bolsos passeavam cheios de plantas, frutos e matinhos que virariam nossa refeição.

Fábio e sua muda de café "plantada" no bolso

Buquê de sementes de maria-gorda (Talinum paniculatum)

Tudo foi colocado sobre a mesa da casa da Neide e, junto com os ovos doados e as laranjas que levei de presente na semana passada (deste post aqui), fizemos um belo conjunto de alimentos coletados por nós. Nada de compras, muito menos de comidas processadas. Tudo fresco, natural e recém-colhido nas ruas da quinta maior cidade do mundo. Pura celebração à terra.


Com 28 mãos na massa, em pouco tempo tínhamos muito suco de laranja, de tamarindo e de manga verde (espetacular, batido com água e um pouco de açúcar) e alguns pratos em andamento.


Folhas de caruru enfeitaram de verde o risoto de arroz integral e feijões que já tinha sido pré-preparado pela Neide, bananas verdes viraram nhoque romano e também um delicioso purê inventado na hora por ela e decorado com as sementes de maria-gorda do Guilherme, e as mangas, igualmente verdes, foram transformadas em chutney cru, temperado com pimenta, cebola, cominho e sementes de coentro. Na salada verde nem uma única hortaliça convencional, mas uma coleção de matos comestíveis: serralha, caruru, dente-de-leão, mentruz, maria-gorda e tomatinhos-cereja, esses últimos também enquadrados na categoria "mato" porque nasceram por aí, sem terem sido plantados. E teve também molho pesto de buva (Conyza bonariensis), feito segundo a receita da versão tradicional, mas substituindo o manjericão pela erva espontânea. Foi invenção da Cenia Salles, líder do convívio Slow Food São Paulo, e ficou saboroso, um pouco picante, perfeito.


Às quatro da tarde, quando deixei a festa que ainda entrava na etapa da sobremesa, me despedi de 13 pessoas felizes, que com certeza se lembrarão para sempre do nosso primeiro Terra Madre Day. Que venham muitos mais, e que possamos nos juntar novamente para celebrar uma alimentação rica, bonita, saudável e repleta de histórias para contar.

15 comentários:

  1. Ah, esse passeio foi demais mesmo!!! As coisas que a gente encontrou na rua! Foi interessante ver que as coisas estão lá, em qualquer lugar, a gente é que não vê. Precisamos usar as lentes da Neide para enxergar as maravilhas que estão à nossa volta. Eu adorei te conhecer (já frequentava seu blog), assim como todo o pessoal presente. Bjs!

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    1. Leticia, que gostoso, obrigada!
      Quanto a gente aprende numa saída dessas, não?
      Um beijo grande e seja sempre muito bem vinda!
      Juliana.

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  2. Tj

    Adorei a proposta do Terra Madre Day. Aquilo que esta bem debaixo do seu nariz e voce pensa que é mato... mas é comestivel!!! Uma curiosidade - os mini pepinos nascem apenas espontaneamente ou podemos conseguir sementes para plantar em casa?
    Beijos

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    1. Olá. Sou seguidora e leitora do Come-se. Sei que a pergunta não foi endereçada a mim, mas vejo o meu pai plantar esses pepininhos há muitos anos.

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    2. Tj,
      nunca vi sementes deles à venda, mas acho que se você arrumar unzinho que seja, deve conseguir reproduzi-lo facilmente. Veja a experiência do pai da Sandra...
      Um beijo,
      Juliana.

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  3. Olá Juliana, acabei de chegar, vindo direto do Come-se. Só quero dizer que adorei seu blog e serei uma visita constante por aqui. Abraços.
    Sandra

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    1. Tj

      Grata pela atenção. Tambem sou fã do come-se. Mas seu pai planta os pepininhos através de sementes? Qual o sabor deles?

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    2. Muito obrigada, Sandra!
      Volte mesmo. Um beijo grande,
      Juliana.

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  4. Oi, Juliana
    Vim conhecer seu sítio. Lindo seu blog. Aliás, já tinha passado por aqui, mas já faz um tempão.
    beijo, Índigo

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    1. Oi, Indigo!
      Que gostoso! Muito obrigada por ter vindo. Te espero um dia em pessoa também.
      Beijo grande,
      Juliana.

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  5. Gente, sou muuuito a favor de sair pra catar e colehr e comer coisas. algumas sementes já vi pra vender no mercado livre, mas como é muito regional, tem vezes que tem e de repente no mês seguinte já não tá mais...sugiro dar umas olhadas periódicas, tem mais gente como a gente! ah, e procurar pelo nome científico ajuda...

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  6. gente, foi como anõnimo desconhecido...karina, veterinária, adepta da micropecuária...

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  7. Acompanho este blog há tempos!!!! Descobri através do Chucrutes com Salsicha. E não é que fiquei com vontade de participar dessa aventura qualquer hora?! Beijo Neide, adoro seu blog!!!

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  8. Acompanho este blog há tempos!!!! Descobri através do Chucrutes com Salsicha. E não é que fiquei com vontade de participar dessa aventura qualquer hora?! Beijo Neide, adoro seu blog!!!

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  9. Acompanho este blog há tempos!!!! Descobri através do Chucrutes com Salsicha. E não é que fiquei com vontade de participar dessa aventura qualquer hora?! Beijo Neide, adoro seu blog!!!

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