domingo, 26 de janeiro de 2014

Aprendendo a comer e descobrindo a lâmpada


Rolinha foi instalada no escritório - o único lugar da casa livre de gatos - dentro de um engradado de plástico com tampa de tela, e eu fui para o Google, pesquisar como alimentá-la. Santo Google, que tudo sabe, me ensinou que naquela hora, sexta de noite, eu poderia improvisar uma papinha com fubá e água e dar para ela numa seringa de quatro em quatro horas (menos de noite). Ensinou também que os filhotes de rolinha, diferente dos filhotes das outras espécies de aves, não abrem o bico quando a mãe chega de volta ao ninho, por isso é preciso dar uma "forçadinha" com a ponta da seringa até que eles abram as portas pro aviãozinho entrar.

O que não consegui descobrir na internet foi a densidade certa da papinha de fubá, e acabei preparando uma sopinha amarela que no primeiro dia quebrou um galho. Só que no sábado a tarde Rolinha parou de fazer cocô, e isso não é bom sinal em ser vivo nenhum. Daí fiquei com medo de tê-la entupido com o fubá denso demais e fiz duas rodadas de água pura. Também virei o bichinho de bumbum pra cima e descobri uma rolha verde entalada metade pra dentro metade pra fora. Hora de trocar a fralda.

O domingo foi um pouco tenso. Dei sopinha de fubá, água de novo, e pelo menos vi algum cocô no jornal da caixa. Só que era uma coisa muito líquida, uma água verde folha, parecia tinta, bem estranho. E Rolinha cabisbaixa, amuada no cantinho. Na segunda-feira ela amanheceu fria, tremendo, parecia que ia congelar. Corri numa loja agropecuária e voltei não só com a comida certa (ração para pássaro filhote) mas com a proporção de preparo da papinha: uma parte do pozinho amarelo para duas partes de água. Santo Google falhou nesse ponto. Isso dá uma pomada grossa que eu duvidei que entraria na seringa, e diante dela acabei descobrindo que por dois dias lavei a rolinha por dentro com muita água pra pouco fubá, por isso ela não estava bem. Também pode ter sido o ferro e o ácido fólico do fubá de gente, não sei.


Mas aí tudo mudou, porque comida certa é tudo na vida. Na manhã de terça-feira encontrei uma mocinha bem disposta passeando pela caixa e se acocorando perto da cúpula do abajur que ganhou, porque "eu não sou boba não e sei que aqui é mais quentinho". O abajur tem a haste flexível e eu apontei a cúpula para baixo, senão ficaria longe dela e nem caberia dentro da caixa. O escritório parecia um forno, com aquela luz ligada o dia inteiro, mas ela estava achando bom bem perto da lâmpada, então ficou assim.

Lá pela segunda ou terceira noite de abajur ligado me toquei que o escuro é fundamental para descansar, porque pelo menos na gente existe um hormônio do sono que só é liberado quando todas as luzes se apagam, e talvez ela ficasse estressada não tendo noite nunca. Passei então a desligar o abajur quando o sol se punha e a embrulhar a caixa com um cobertor grosso, com medo que ela voltasse a tremer de noite. De manhã desembrulhava a caixa e ligava a luz outra vez.

Com o passar da semana nós duas fomos aprendendo - eu a ser mãe de ave e ela a ser filha de gente. As horas da comida ficaram cada vez mais fáceis: uma seringa de 3 ml que antes demorávamos quarenta minutos pra esvaziar passamos a dar conta em dez, e lá pra quinta ou sexta-feira ela até já abria o bico quando eu chegava perto com a papinha - novidade no mundo das rolinhas. Comia quatro vezes por dia, tomava um pouco de sol da manhã diariamente em cima da mesa do quintal e passava o resto do dia ao lado do abajur ligado. Apesar dos trinta e poucos graus que fazia no sítio a figurinha queria tanto calor que aprendeu a entrar dentro da cúpula pra ficar bem perto da lâmpada. E eu deixei, porque ela estava ali de livre e espontânea vontade e sabia sair, que eu vi.


Continua.

6 comentários:

  1. Que máximo! conta quando ela aprender a voar e a sua despedida. Bjs

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  2. Ansiosa pelos próximos capítulos!

    Ah! minha lagarta não virou borboleta... acho que hibernou para sempre :(

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  3. Grata pelo relato, finalmente descobri porque os 2 filhotes que tentei salvar acabaram morrendo. Se houver uma próxima vez, seguirei seus passos.

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  4. Esta é a primeira vez que visito o seu blog e logo de cara me deparei com essa história tão doce, são esses pequenos relatos de gente comum, boa, que fazem a vida parecer menos penosa! Sorte da rolinha! Espero a sequência, estou na torcida! Adoraria receber sua visita e opinião em meu blog: http://mariamestrecuca.wordpress.com/ Abs, Maria Sônia.

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  5. Que linda história! Eu também estou tendo uma experiência bem legal, mas com filhotinhos de gato. A gata da minha vizinha teve dois gatinhos e não sei porque, ela os rejeitou assim que deu à luz. Eles estavam lá, miando sem parar, eu peguei uma caixa de sapato, forrei com um cobertor quentinho e coloquei eles dentro, tentei de tudo para que ela ficasse com eles na caixa, mas ela ficou tão brava que quase os mordeu, ela não reconhecia eles como filhos. Então levei eles pra minha casa e comecei dar leite com uma seringa. Mas eles não estavam gostando e o leite estava fazendo mal pra. No terceiro dia eu comprei o leite próprio para gatos filhotes e comecei a dar na mamadeira. Agora eles já estão com nove dias e estão ótimos crescendo e ganhando peso. Estão lindinhos.

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