quinta-feira, 14 de março de 2013

Sobre valorizar


Passei alguns minutos do final da tarde de hoje filosofando a respeito de uma história que li na internet. Iram Leon, um corredor de 32 anos, tem câncer no cérebro e venceu uma maratona empurrando a filha Kiana em um carrinho.

"As pessoas não deveriam começar a viver quando disserem que elas irão morrer", diz ele.

A reportagem termina com: depois de ouvir músicas da Disney com sua filha durante a prova, Iram escolheu a "Carry on" para cruzar a linha de chegada por um verso em especial que diz "minha cabeça está pegando fogo, mas minhas pernas estão bem".

Saí para o jardim com uma xícara de café com leite quentinho e fiz um bom passeio filosófico pensando na declaração sobre começar a viver quando sabemos que vamos morrer. Me lembrei que também pensei muito nisso depois de viver o baque da morte de algumas pessoas queridas, época em que fui tomada por uma baita urgência de aproveitar a vida.

Outro tema que me fez pensar durante o passeio foi a notícia de que a L'Occitane, fabricante francesa de cosméticos, lança neste mês a L'Occitane au Brésil, nova marca que venderá produtos feitos no país com ingredientes locais. Até ai nenhuma (ou apenas alguma) novidade. O mais interessante é que a nova grife vai utilizar apenas ingredientes inéditos, nunca antes explorados pelas indústrias de cosméticos nacionais, e começa lançando produtos feitos com vegetais da caatinga e do cerrado.

O primeiro deles é o mandacaru (Cereus jamacaru), um cacto típico do sertão nordestino usado como alimento para animais. Depois de muita pesquisa descobriu-se que a espécie é muito eficiente na hidratação da pele e do cabelo. Não é à toa que mesmo nos piores momentos de seca o mandacaru mantém cabras e vacas hidratadas.

A segunda espécie nacional escolhida é o jenipapo (Genipa americana), fruta típica do cerrado muito utilizada na preparação de licores. Depois de se encantar com o cheiro da fruta, os profissionais da L'Occitane descobriram que ela tem grande potencial de restaurar tecidos danificados, que é tudo o que um creme para o rosto tem que fazer, nos dias de hoje.

Juntando maratonista desenganado com mandacaru e jenipapo cheguei à conclusão de que a gente é mesmo muito boba de só valorizar o que alguém nos diz que tem valor. Cheios de coisas em volta, estamos sempre achando que a grama do vizinho é mais verde. Que se é vendido é melhor do que se é de graça. Que se for mais caro deve ser ainda melhor.  E que se for morrer logo é melhor aproveitar de uma vez, mas se não for pra morrer agora pode deixar pra aproveitar mais tarde.

Quando me dei conta já aproveitava melhor o passeio, inspirando mais fundo para sentir o perfume da murta florida e o cheiro de chuva na terra. Comi acerolas no pé e colhi limões galegos para um suco mais tarde. Segui borboletas coloridas e fiquei quietinha curtindo a falação das maritacas no alto da nogueira-pecã. E me lembrei que hoje de manhã, pela primeira vez, vi cinco canarinhos amarelos comendo quirera e alpiste na mesa do quintal - até ontem vinham sempre só dois.

Passeios filosóficos em meio à natureza são um tanto mágicos e fazem a gente voltar pra casa mais feliz, com a certeza de que basta um pouquinho de boa vontade e observação e então conseguimos transformar isso:


Nisso:

Flores de maria gorda (Talinum paniculatum),
considerada praga invasora mas que também
pode ser usada como planta decorativa.
Basta olhar com olhos de ver.

13 comentários:

  1. Por enquanto, só vou falar da florzinha "maria gorda (Talinum paniculatum)" - que se não fosse por agora, jamais saberia o nome - que eu gosto tanto, sempre tento ter em casa (arranco ela da rua e sempre tento plantar em casa, sem muito sucesso) e ainda não consegui.
    Praga para quem, né? depende do olhar. Acho-a muito bonitinha e gostaria de poder manter a vivacidade dela mesmo seca.
    Vou me esforçar mais para mantê-la viva aqui em alguma jardineira mesmo, depois, tentarei secar de maneira eficiente.

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    1. Gabi,
      que tal, ao invés de arrancar, tentar semeá-la?
      As sementes são pequenas bolinhas que se formam dentro dos frutinhos coloridos. Colha os frutinhos e jogue-os sobre a terra de um vaso ou jardineira.
      Vai nascer fácil!
      Boa sorte e seja sempre bem vinda,
      Juliana.

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  2. Conheço bem essa reflexão sobre aproveitar a vida quando a morte nos ameaça: tive câncer porque achava minha vida sem graça e o corpo respondeu a isso.
    Hoje percebo o quanto a vida é boa, é só mudar o olhar e o fazer diários, colocando alegria e prazer como prioridade 1. Beijo, Angela
    http://noticiasdacozinha.blogspot.com

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    1. Angela,
      seu astral sempre me contagia, só de ler seus comentários. Não consigo imaginar você achando a vida sem graça.
      Que bom que hoje é feliz!
      Um beijo grande e obrigada pelo carinho,
      Juliana.

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  3. coincidência, hj colhi flores de "maria gorda" para enfeitar minha sala. Os que colhi já estão mais sementes do que flores. Juntei com capim tipo rabo de gato e outra florzinha amarela.
    Raramente compro flores para vaso, colho nas ruas e praças perto de casa!

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    1. Neusa,
      são surpreendentemente bonitos esses arranjos com flores colhidas nas ruas, não?
      De início a gente olha e não dá nada, mas vai colhendo, colhendo, e sempre acaba com algo interessante nas mãos.
      Você é das minhas!
      Um abraço,
      Juliana.

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  4. Lindo texto.
    Compartilhei.
    Obrigado pelas suas palavras inspiradoras...

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    1. Fernando,
      eu é que agradeço, pela frequência e carinho de sempre.
      Um abraço,
      Juliana.

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  5. Obrigada, Marie,
    seja sempre muito bem vinda!
    Um beijo,
    Juliana.

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  6. Nossa... que texto maravilhoso!
    Consegui sentir o cheiro de terra molhada, da murta...
    Descobri seu blog esses dias, e estou me deliciando com cada post.
    Sinto cada dia mais uma necessidade de simplicidade, de natureza...
    Estou com uma vontade louca de plantar o máximo de verduras e frutas que minha casa comportar.
    Tenho um cachorrinho sapeca que insiste em destruir meu pequeno canteiro, e pouco espaço pra esse feito, mas farei o que for possível!
    Obrigada por me inspirar a cada post!

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  7. Que texto mais querido do mundo!
    Lá em casa a gente chama essa florzinha de "pé de alfinete", porque as bolinhas lembram alfinete de costura.

    Obrigada por estar aí pra lembrar a gente de ser menos bobo.
    Beijo!

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  8. Hoje acordei cedo,com vontade de mudar alguma coisa... logo fui para o pomar à procura de ideias.Encontrei meus pés de Maria Gorda floridos,colhi alguns galhos,juntei algumas flores de zinia e galhos de erva doce.O resultado foi beleza e um perfume delicioso pra minha cozinha.

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